País - Sociedade Aberta
Quando a face resplandece
O mundo tradicional metafisicamente espelha-se na obra sagrada, de modo que o ser criado pela instância suprema ao desviar-se do próprio destino — o que Arjuna percebeu como uma possibilidade onde tais riscos devem ser aceitos — instaura dentro da alma uma confusão de propósitos que impossibilita o discernimento valorativo das questões. Daí provindo uma rotunda ode da modernidade para o “acaso”.O esgarçamento da vida interior — estipulado pelo homem na decisiva recusa do Santo Espírito — só consegue ser “esquecido” temporariamente mediante tremendas doses de estimulantes recheados de divertissement, mas que na verdade agem como terríveis anestesiadores da exasperação derivada da equivocada escolha. Evidentemente, a vida baseada nos desígnios divinos em nada facilita a vitória material, mas catapulta para dentro do coração uma força supranatural que suporta o sofrimento — meu reino não é deste mundo — proveniente dos reveses da vida. E com esta superação consegue o homem em permanente vigília compreender a existência d’algo maior que meros interesses partidários.
Se distingue no ser humano moderno diante da perspectiva existencial ancorada em uma tradição sagrada — onde a rica vivência interior persiste — a velocidade mental para tomada de decisões que capacitam-no gradativamente para uma das piores tragédias pessoais possíveis: a vida à mercê da roda da fortuna horizontal, com recorrentes tentativas de crescimento, porém, tendo mais adiante o muro da dissolução de todas as vontades fortalecido devido à raiz do erro desvelar a fragilidade dos fundamentos antropocêntricos. Justamente, o descaso para com os primevos anseios do coração. Aqui considerados, claro, o desejo humano em plena concordância com o específico tipo a que um determinado homem pertence, e que revigora a cada elevação espiritual alcançada.
A superioridade do ato sacrificial é algo percebido naturalmente pelas pessoas — mesmo que veladamente — sem necessidade de maiores explicações sobre a questão. O homem que assume a própria responsabilidade espiritual perante a vida rechaça atalhos horizontais durante a sua jornada. Assim, o assombro da mentalidade laica à face da santidade basta para que a mundana tchurma provoque imediatamente mil protestos em mil passeatas pela paz mundial num mundo melhor porque economicamente resolvido...
Passa pela aceitação da possibilidade de sofrimento o caráter elevado de uma mentalidade, para que a soberba perca a fatal influência. Da antiga Tradição ainda pode-se resgatar a herança fundamental, para que a sinuosa evolução do progresso quantitativo não sufoque a tentativa vertical. Assim, desanuviada fica a alma, para que a santa vitória brilhe em eterno fulgor.
* Roberto Muñoz é escritor. COPIADO : www.jb.com.br/
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