O Rio e o surrealismo dos preços



Bayard Do Coutto Boiteux*
É sempre bom lembrar a máxima de que uma cidade deve ser boa para a população anfitriã antes de qualquer coisa. Não parece ser o que ocorre no Rio de Janeiro, onde o sistema de transporte urbano é caótico, com falta de ar condicionado em parte significativa da frota de ônibus, superlotação no metrô e nos trens, além de um sistema de saúde deficiente. Vivemos um sonho de grandes eventos, mas recente pesquisa demonstrou que a população carioca não vê, por exemplo, grande serventia na realização da Copa e não sentiu grandes melhorias, apesar dos investimentos bem altos, preferindo que os recursos fossem aplicados na educação ou na saúde.Por outro lado, sentimos que as UPPs têm uma fragilidade na sua concepção e começam a conviver em algumas comunidades com a volta dos traficantes, com armamento pesado. Ficamos muito receosos, pois parecia um projeto efetivo e não de marketing. Esperamos que soluções sejam desenvolvidas rapidamente para que não percamos outro projeto, como tantos que acabaram no ano das eleições. A segurança é fundamental para os moradores da cidade e para aqueles que nos visitam. Estou acompanhando as noticias no exterior e vejo constantes alusões ao problema da segurança urbana. Não vejo nenhuma ação de relações públicas por parte do governo. Preferem discutir e divulgar liberações de recursos para construções de centros de convenções ou portais.
No entanto, o surrealismo maior, apesar de deixar claro que a implantação de políticas públicas inadequadas é de uma gravidade nunca vista, vem dos preços praticados pelos distintos prestadores de serviço, mormente aqueles que atuam nas áreas de hospedagem e restauração. Cobrar 100 reais por um hambúrguer ou 90 por uma omelete passa do ridículo, e o pior é que as pessoas continuam aceitando os valores. Vamos boicotar preços altos e inibir tais leviandades. Já começam a surgir movimentos interessantes como o do “isoporzinho “ e dos “preços surreais.
Temos reclamado muito da falta de crescimento efetivo do turismo receptivo, no Brasil e na Cidade Maravilhosa. Devo confessar que tal fator se deve em parte a preços exorbitantes praticados em hotéis, que chegam a cobrar 2 mil dólares ao dia por um apartamento em certas épocas do ano, sem oferecer uma verdadeira contrapartida nos serviços. O turismo, com raras exceções, vive de baixos salários, baixa qualificação e reciclagem e o fim do sonho das faculdades de turismo, que aos poucos vão perdendo alunos para cursos técnicos e profissionalizantes, que têm uma empregabilidade mais efetiva e um investimento menor. As entidades de classe precisam de alguma forma rever políticas de preço e partir para a qualificação e reciclagem como fatores prioritários, para a sobrevivência de nossa atividade. Mais uma vez, nossas pesquisas demonstram que o preço elevado dos serviços é hoje a maior reclamação dos turistas. Nunca é bom esquecer que estamos longe dos grandes centros emissores e que precisamos de serviços terrestres e hoteleiros mais competitivos.
Lembro que a promoção não convencional  — como os embaixadores do Rio, o programa Corpo Consular e o Rio, através do Corpo Diplomático — pode ser revitalizada com poucos recursos e chegar a resultados surpreendentes, se trabalhados de forma contínua e planejada. Vamos buscar novos projetos para diversificar a oferta e não aplicar a maior parte dos poucos recursos existentes em eventos já solidificados.
O surrealismo faz hoje parte do turismo carioca e deve suscitar algum tipo de discussão e buscar algumas respostas. O Rio não pode parar...
 * Bayard Do Coutto Boiteux, professor universitário e pesquisador, é escritor e gerente de turismo do Preservale, além de presidente do site Consultoria em Turismo. - bayardboiteux.com.br
 COPIADO  http://www.jb.com.br/s

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