- 26/02/2014 - 15:48
Guarda narra horrores de crianças mortas por cães na Coreia do Norte
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Genebra (AFP)
"Havia três cães e eles mataram cinco crianças", testemunhou Ahn Myong-Chol, em um dos muitos testemunhos que ajudarão o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas a analisar em março um relatório sobre as violações cometidas por Pyongyang.
"Ao escapar de seus mestres, os cães se lançaram sobre as crianças que voltavam da escola do campo. Eles mataram imediatamente três, as duas outras respiravam com dificuldades e foram enterradas ainda vivas pelos guardas", declarou ainda, através de um intérprete.
No dia seguinte, ao invés de liquidarem os cães, os guardas "recompensaram os animais com uma comida especial", acrescentou Ahn, com uma expressão de nojo.
Ahn, refugiado na Coreia do Sul e guarda de campos de prisioneiros durante oito anos, é uma das testemunhas ouvidas pela Comissão de investigação da ONU que denunciou na semana passada os "crimes contra a Humanidade" cometidos pelo regime e apelou a comunidade internacional a agir.
A Comissão consideram que "centenas de milhares de prisioneiros políticos morreram nesses campos nos últimos 50 anos", "gradualmente eliminados pela fome, o trabalho forçado, as execuções, torturas e abusos".
"As pessoas nesses campos não são tratadas como humanos... elas são como moscas que nós podemos esmagar", afirma Ahn, que fugiu da Coreia do Norte em 1994.
Ele serviu em quatro campos de prisioneiros norte-coreanos, no que ele nomeou "de zonas de controle total". Os prisioneiros trabalham de 16 a 18 horas por dia, dormem de 4 a 5 horas, e recebem três vezes 100 gramas de ração para que possam trabalhar.
"Todos os dias vários morrem de fome, de exaustão, em acidentes", conta este filho de um quadro local, selecionado aos 18 anos para ser guarda.
Em sua primeira função, no campo 14 ao norte de Pyongyang, foi incentivado a praticar Tae Kwon Do contra prisioneiros, depois de uma grande lavagem cerebral para que eles vejam os prisioneiros como a personificação do "mal".
Universidade como recompensa por matar fugitivos
"Éramos encorajados a matar aqueles que tentavam escapar. Tínhamos o direito de matar, e se trouxéssemos o corpo, éramos recompensados com um curso na universidade", explica, afirmando que alguns guardas levavam deliberadamente prisioneiros para fora do campo para matá-los e obter este prêmio.
Ahn, que admite ter participado da violência, mas que acredita não ter matado ninguém, foi promovido a motorista, o que lhe permitiu conhecer muitos prisioneiros e descobrir que alguns estavam lá desde os 2 ou 4 anos, e que outros nasceram nos campos.
"Cerca de 90% deles não sabiam por que estavam ali".
"Fui treinado para detectar mentiras, observando os movimentos dos olhos, lábios (...), mas eles tinham muito medo de serem punidos, caso não dissessem a verdade", assegura.
Em 1994, a caminho de casa, descobriu que seu pai, após um dia de bebedeira, criticou os líderes do país e, em seguida, escolheu cometer suicídio. Sua mãe, sua irmã e seu irmão foram presos, ele nunca mais os viu.
A Comissão de investigação da ONU ressalta que as famílias de pessoas consideradas hostis ao regime são enviadas sistematicamente para os campos.
Temendo por sua sorte, Ahn aproveitou de seu caminhão para chegar à fronteira com a China e atravessar a nado o rio Du Man.
Uma vez na Coreia do Sul, começou a trabalhar em um banco antes de se juntar há três à ONG "Liberdade aos gulags norte-coreanos".
"Quando falamos de gulags, com a Coreia do Norte, devemos falar no presente, esses horrores continuam", diz ele, observando que com o atual líder Kim Jon-un a "população está paralisada pelo medo".
A Comissão das Nações Unidas determinou que o número de campos de prisioneiros diminuiu após mortes e algumas libertações, mas acredita que entre "80.000 e 120.000 prisioneiros políticos continuam detidos em quatro grandes campos".
COPIADO http://www.afp.com/pt
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