A erva chamada maconha, conhecida nos Estados Unidos como
marijuana, e um seu derivado em forma de resina, o haxixe, são, depois
do álcool, as drogas “leves” mais usadas em todo o mundo. Apesar de seu
uso se4 de Janeiro de 2016 às 14:57
Bandeira rastafári, da Jamaica, mostrando imagem de um velho consumidor de marijuana.
Por: Luis Pellegrini
A maconha é com certeza uma das drogas mais estudadas do mundo, o que
não a livrou de muita controvérsia com relação a seus efeitos. Os
estudos científicos sobre planta e os efeitos provocados pelo seu uso
desembocam em três vertentes principais. Uma delas é inclusive
responsável pela descoberta de importantes virtudes medicinais do
canabidiol, princípio ativo da Cannabis sativa, nome científico da
maconha.
Uma outra vertente, a mais difundida, sugere que o uso da substância e
seus derivados – sobretudo na adolescência – está ligada a processos de
declínio cognitivo e das funções intelectuais. Algumas instituições de
saúde bastante sérias não hesitam em condenar severamente o uso da
droga. Este é o caso, por exemplo, do Programa Álcool e Drogas (PAD) do
Hospital Albert Einstein, de São Paulo, que em seu site (
www.einstein.br/alcooledrogas ) enumera os seguintes efeitos do consumo da maconha:
- pioram a atenção e a concentração, aumentando os riscos de acidentes.
- podem desencadear quadros agudos de pânico e paranoia.
- o uso em grandes quantidades e por longos períodos pode deixar a pessoa
menos concentrada, sem objetividade e desmotivada.
- podem causar dependência.
- podem causar psicose em pessoas predispostas a essa doença.
A Cannabis sativa, planta da qual se extrai a maconha.
A ação do haxixe é semelhante à da maconha. Ambos derivam do cânhamo
(Cannabis sativa) , natural da região do Himalaia, sendo a China o país
onde se encontram as evidências mais antigas de consumo. O cânhamo pode
ser consumido a partir de diferentes apresentações. A apresentação
“maconha” refere-se aos brotos ressecados ou prensados, e é normalmente
fumada. Essa apresentação não ultrapassa 5% de concentração de THC
(princípio ativo). O haxixe é a resina da maconha. Os brotos da maconha
são protegidos do sol e do calor por uma camada oleosa. Esse óleo é rico
em (THC). Para a produção do haxixe os brotos são colhidos e o óleo,
isolado. Isso garante à apresentação uma concentração de até 30% de THC.
Pesquisa foi com grupo de gêmeos
Um novo estudo, no entanto, envereda pela primeira vez na direção de
uma terceira vertente, e aprofunda a controvérsia. Os pesquisadores que
conduziram o estudo não encontraram evidências de que o uso dessa droga
produza danos ao desenvolvimento intelectual dos adolescentes, como
afirmam investigações científicas precedentes.
Cannabis sativa cultivada em estufas.
A pesquisa envolveu um grupo de cientistas de várias universidades
norte-americanas, capitaneado pela University of South California, em
Los Angeles, e pela University of Minnesota, e levou em consideração
pela primeira vez dois estudos longitudinais com grupos de gêmeos, de
maneira a isolar, em igualdade de condições ambientais e de fatores
genéticos, a eventual diferença no desenvolvimento cognitivo de quem
durante a adolescência tinha usado a droga e de quem não a tinha usado.
Florescência da cannabis, usada para a fabricação da marijuana.
Quase três mil gêmeos entre os 9 e os 11 anos foram recrutados.
Durante dez anos esses rapazes e moças, às portas da adolescência no
momento do recrutamento, foram submetidos a diversos testes de
inteligência e a entrevistas confidenciais nas quais declaravam se
estavam usando marijuana, e também outras drogas, fármacos e álcool.
No final do período, os jovens que declararam ter feito uso de
cannabis tinham perdido até quatro pontos do seu quociente intelectivo.
Mas – e este é o ponto crucial – o mesmo ocorreu a seus irmãos gêmeos
que declararam nunca ter fumado maconha. Foi esse o resultado que levou
os pesquisadores a concluir que os danos ao cérebro, ou melhor, ao
desenvolvimento cognitivo, devem ter sido provocados por algum outro
fator, e não se podia condenar com certeza a maconha.
Um 'tijolo' de haxixe, a resina da cannabis. A droga é comercializada dessa forma em muitos países da Ásia e da África.
O debate, contudo, ainda está longe de uma conclusão. No caso dessa
pesquisa com gêmeos norte-americanos, por exemplo, diversos
especialistas entrevistados pela revista Science encontraram pontos
frágeis na metodologia usada pelos pesquisadores. Em particular,
referem-se ao fato de que, no estudo, não foi feita, pelo menos
inicialmente, uma distinção precisa entre os adolescentes que fizeram um
uso pesado da maconha, daqueles que fizeram apenas um uso esporádico e
ocasional. Por ter fumado apenas uma vez um baseado, um rapaz poderia
ter sido classificado como “utilizador” e considerado como tal em todas
as análises sucessivas.
Dessa forma, embora as conclusões desse novo estudo sejam
verossímeis, não se pode afirmar que tenhamos chegado a uma resposta
definitiva se fumar maconha faz realmente mal aos adolescentes e ao seu
cérebro.
Curiosidades sobre a maconha
1 Uma história muito antiga – Embora as origens
exatas da Cannabis sativa (a planta da qual se extrai a maconha) não
sejam conhecidas, acredita-se que essa planta seja originária da Ásia
central. As primeiras evidências tangíveis da sua utilização remontam ao
Neolítico (8 mil a 5 mil antes de Cristo), quando ela se chamava
cânhamo e foi utilizada para produzir fibras têxteis e redes de pesca, e
para o consumo de suas sementes. Traços dessas práticas foram
encontrados em sítios neolíticos da China, Sibéria, Taiwan, Turquestão e
Hong Kong. Resíduos de cannabis queimados foram encontrados na Romênia.
O mais antigo testemunho literário da maconha ligada a usos médicos foi
encontrada na literatura chinesa.
2 Maconha, cannabis, marijuana - Quando se fala de
“erva”, o que quase sempre se observa é uma confusão terminológica. A
maconha é uma substância psicoativa que se obtém a partir das folhas e
dos brotos da maconha; a marijuana inclui na mistura também as
florescências da Cannabis sativa. Nem todas as variedades desta planta,
no entanto, são usadas para tais finalidades recreativas: apenas aquelas
variedades que pertencem ao genótipo THCAS (vulgarmente definidas como
“cânhamo indiano” possuem efeitos psicoativos devido a seu conteúdo de
tetraidrocanabinol (THC), uma substância psicotrópica que provoca
euforia, relaxamento muscular e nervoso, apetite, desorientação
espaço-temporal. O conteúdo normal de THC de uma planta de cannabis é de
cerca 5 a 8%, mas hoje surgiram culturas intensivas de variedades que
podem chegar a 38% de THC, ou seja, 5 a 6 vezes mais.
3 Dependência e tolerância – Os efeitos do consumo
da marijuana podem ser diversos segundo o gênero. Um estudo com ratos
feito em 2014 por psicólogos da Washington State University evidenciou
que as fêmeas são mais sensíveis aos efeitos analgésicos do THC e
desenvolvem mais facilmente a tolerância à substância (ou seja, é
preciso aumentar cada vez mais a dose administrada para se obter o mesmo
efeito), um fenômeno que pode abrir as portas à dependência. A
diferença seria provocada pelo papel dos estrogênios, os principais
hormônios femininos. De qualquer forma, na Europa, no Brasil e em quase
todo o mundo, os homens fumam mais baseados de maconha do que as
mulheres: em média, para cada dois consumidores masculinos corresponde
uma única consumidora feminina.
4 Perigosa na adolescência -
Completamente unissex, no entanto, são os danos que o consumo constante
de maconha pode produzir no cérebro – ainda em fase de desenvolvimento
– dos adolescentes., os seus principais consumidores. Nessa fase da
vida, o cérebro vive um processo contínuo de evolução, caracterizado
pelo incremento, fortalecimento e adensamento de precisas conexões
neuronais. O correto funcionamento das suas células é, portanto,
essencial. O THC é similar aos endocanabinoides, neurotransmissores
naturais do cérebro, e interfere na ação destes comprometendo as funções
nervosas. Prejudicando as sinapses e deixando os neurônios do seu
sistema natural de regulação, o THC pode favorecer, com o tempo, o
surgimento da depressão, esquizofrenia, psicoses e distúrbios do
aprendizado. Para alguns pesquisadores, o uso constante da maconha nessa
fase particular do desenvolvimento (adolescência) termina produzindo
danos permanentes nas conexões neurais.
5 Riscos paralelos – A ação prolongada
do
THC foi também relacionada a danos não neurológicos, como um risco
redobrado de desenvolver um tumor nos testículos ( por alteração do
sistema endocanabinoide, que desempenha papel importante na regulação da
síntese dos hormônios sexuais), e um acentuado risco de enfarte (porque
aumenta a frequência das batidas do coração e a pressão sanguínea). No
entanto, os benefícios da maconha em âmbito médico – e portanto
controlado – são conhecidos há milênios e incluem efeitos analgésicos
sobre dores crônicas ou de doentes terminais, a atenuação dos efeitos de
doenças auto-inflamatórias e de alguns distúrbios ligados às demências,
benefícios contra a artrite, o mal de Parkinson e os efeitos colaterais
da quimioterapia, e bons resultados no tratamento da ansiedade
patológica e o distúrbio de estresse pós-traumático.
6 Uma bomba chamada sinsemilla – A variedade mais
potente de maconha é a sinsemilla (“sem semente”, em espanhol) que se
obtém impedindo-se a polinização das florescências da planta fêmea da
cannabis. A planta fica assim destituída de sementes e produz um alto
conteúdo de resina, com alta concentração de THC.
7 Efeitos nos cachorros – Os animais domésticos não
são imunes aos efeitos do THC: o “fumo passivo” exerce nos cães um
efeito muito mais macroscópico do que nos humanos. As estatísticas
mostram que ocorre um aumento de casos de cães que terminam no
pronto-socorro veterinário por ter comido por engano pedacinhos de
haxixe esquecidos pelos seus donos. Quando isso acontece, os animais
apresentam pupilas dilatadas, híper-excitação e descontrole de
movimentos musculares. A terapia consiste de lavagens gástricas e de
sustentação das funções vitais do animal, esperando-se que o efeito da
droga passe no período de 24 horas.
8 Fome química – Não é sugestão: fumar maconha
realmente aumenta a fome, e o motivo mais uma vez é o THC. Esse
princípio ativo se liga, com efeito, a uma molécula presente nos
neurônios do bulbo olfativo, a zona do cérebro que recebe os estímulos
provenientes do nariz. Como resultado, a sensibilidade aos odores fica
amplificada, aumentando de fato o apetite.
9 Um uso bem curioso – O cânhamo teria uma ligação
inesperada também com os misteriosos moais da Ilha de Páscoa. Segundo um
estudo da California State University, publicado em 2012, para deslocar
as colossais estátuas de mais de 4 toneladas de peso os antigos
polinésios podem ter usado cordas de fibra de cânhamo entrelaçadas.
Puxadas por grupos de cerca 20 pessoas, elas permitiriam transportar as
esculturas por 100 metros em pouco menos de uma hora.
10 Erva mágica dos rastafári – Para os seguidores do
movimento rastafári, desenvolvido a partir dos cultos cristãos na
Jamaica a partir da década de 1930, a maconha não é apenas uma erva
medicinal, mas também um vegetal sagrado para ser usado como auxílio na
meditação e durante as orações. Os rastafári acreditam que o seu uso
seja citado na Bíblia e que ele seja necessário para se alcançar uma
espécie de iluminação espiritual.
A cantora Rihanna queimando um baseado.
11 Longe da ecologia – O cultivo da cannabis não é
exatamente uma atividade “verde”, a não ser que a planta seja cultivada
no externo, ou com o uso de lâmpadas LED de baixo consumo. Com base num
relatório publicado em 2011 pelo Lawrence Berkeley National Laboratory
(EUA), para um único baseado são produzidos, nas cultivações em estufa,
cerca de 0,9 kg de CO2, o equivalente do quanto emite uma lâmpada acesa
durante 17 horas. copiado http://www.brasil247.com/
r, hoje, em certos lugares, mais comum do que o do tabaco, ele
está longe de ser inócuo.
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