Mercosul, um bloco estagnado à espera de novo estímulo da UE. Brasil comemora acordo 'histórico' entre UE e Mercosul

Mercosul, um bloco estagnado à espera de novo estímulo da UE

AFP / Patricio ARANAOs principais números da UE e do Mercosul
O Mercosul é uma "união aduaneira imperfeita". A frase se repete como um mantra na história deste bloco criado em 1991 com objetivo de integração comercial que avançou lentamente, e agora pode encontrar novo estímulo com um acordo com a União Europeia (UE).
Especialistas consultados pela AFP concordam que, além dos benefícios comerciais que Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai podem obter do acordo com a UE, o pacto funcionaria como catalizador institucional para um bloco estagnado, com 264 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) que é quase 1/8 do seu colega europeu.
- Meio do caminho -
"A quase 30 anos de sua criação, não se alcançou sequer o cenário de União Aduaneira" no Mercosul, explica Nicolás Albertoni, especialista em Comércio da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA.
Embora exista uma Tarifa Externa Comum (TEC), há muitas exceções e, por isso, fala-se de "imperfeição": os países-membros aplicam tarifas próprias em vez da TEC quando negociam com terceiros, explica.
"O Mercosul não consolidou sua união aduaneira, nem seu mercado comum; conta com uma zona de livre-comércio precária, já que tem exceções (setor automotivo e o açúcar, por exemplo), e ainda conta com um nível muito elevado de barreiras não tarifárias que afetam o crescimento do comércio intra-regional", afirma Ignacio Bartesaghi, especialista em Comércio e Mercosul da Universidade Católica de Montevidéu, onde fica a sede do bloco sul-americano.
- O que o Mercosul tem a ganhar? -
"Os dois (Mercosul e UE) ganham, um mais na agricultura, e outro mais em produtos industriais e serviços", segundo Bartesaghi.
Além do comercial, especialistas concordam nos benefícios colaterais de um acordo dessa magnitude em uma era na qual o protecionismo ganha terreno em plena guerra comercial entre China e Estados Unidos.
"Deve se levar em conta os efeitos dinâmicos deste tipo de acordo: a melhoria que pode trazer ao Mercosul nos níveis de competitividade, eficiência, qualidade institucional, captação de investimentos", acrescentou Bartesaghi.
E alertou que "ajudará a melhorar a coesão do bloco, sustentará sua modernização e tornará o bloco em um mercado mais atraente para Japão, Coreia do Sul e até o próprio EUA, que olhará com interesse em avançar nas negociações com o Mercosul".
"Além do acesso a mercados, (...) este acordo pode se transformar um enorme sinal para o comércio global, hoje ancorado em uma retórica protecionistas", concordou Albertoni.
"Para a UE, isso implica dar um passo enorme em sua relação com a América Latina, já que agora sim teria acordos praticamente com todos os países da reunião, e isso tem impactos geopolíticos na China e nos EUA", concluiu Bartesaghi.

Brasil comemora acordo 'histórico' entre UE e Mercosul

AFP / Brendan SmialowskiJair Bolsonaro em encontro com Donald Trump à margem da cúpula do G20, em Osaka, em 28 de junho de 2019
O Brasil comemorou nesta sexta-feira (28) o acordo histórico alcançado entre o Mercosul e a União Europeia (UE), e afirmou que os dois blocos fizeram "várias concessões" para criar "uma das maiores áreas de livre comércio do mundo".
"Houve varias concessões, em termos de volume ou de taxas de entrada", afirmou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em coletiva de imprensa em Bruxelas, onde o acordo foi alcançado.
As negociações, iniciadas em 1999, entraram na reta final na quarta-feira à noite, quando os ministros das Relações Exteriores da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai se reuniram com os comissários europeus de Comércio e Agricultura para destravar os pontos pendentes.
As cotas e tarifas de produtos sul-americanos, como carne bovina, aves, açúcar e etanol, bem como a abertura do mercado automotivo nos países do Mercosul, foram pontos cruciais para chegar a um consenso.
"Onde não ganhamos no volume, ganhamos nas tarifas (...) Houveram (SIC) ganhos dos dois lados, não existe acordo que um só ganha", acrescentou a ministra, sem dar mais detalhes.
O documento do pacto será divulgado "neste fim de semana", acrescentou a comitiva brasileira, liderada pelo chanceler Ernesto Araújo.
"Histórico! Nossa equipe, liderada pelo Embaixador Ernesto Araújo, acaba de fechar o Acordo Mercosul-UE, que vinha sendo negociado sem sucesso desde 1999. Esse será um dos acordos comerciais mais importantes de todos os tempos", afirmou o presidente Jair Bolsonaro no Twitter.
"Prometi que faria comércio com todo o mundo, sem viés ideológico. (...) Estou cumprindo mais essa promessa, que renderá frutos num futuro próximo. Vamos abrir nossa economia e mudar o Brasil pra melhor!", acrescentou o mandatário, que está em Osaka, Japão, para a cúpula do G20.
Em nota conjunta, os ministérios da Economia e das Relações Exteriores brasileiros afirmaram que "o acordo é um marco histórico no relacionamento entre o Mercosul e a União Europeia", e sua conclusão "ressalta o compromisso dos dois blocos com a abertura econômica e o fortalecimento das condições de competitividade".
O tratado "cobre temas tanto tarifários quanto de natureza regulatória, como serviços, compras governamentais, facilitação de comércio, barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual", informa.
Os quatro países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), assim como os da UE (que serão 27 quando o Brexit for formalizado) "representam, juntos, cerca de 25% do PIB mundial e um mercado de 780 milhões de pessoas", ressalta o comunicado.




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