O Brasil dos absurdos. Bolsonaro cuida do “circo”e deixa o “pão”com os profissionais O projeto Bolsonaro, até aqui, caminha bem. Tem sérios obstáculos pela frente. Mas, até agora, ele parece contar com um ingrediente fundamental na política - sorte



Senador Acir Gurgacz




O Brasil dos absurdos

 
Como já cantava há quatro décadas Renato Russo, do Legião Urbana: Que país é esse? A música continua atual diante dos absurdos em série que nós, brasileiros, assistimos quase incrédulos nos noticiários da TV, jornais e internet.
É um país em que os cidadãos comuns precisam apresentar atestado de bom antecedente para assumir um cargo no serviço público. Mas a regra não vale para algumas autoridades. Juiz condenado é punido com aposentadoria. E parlamentar pode seguir legislando, mesmo tendo sido condenado e esteja cumprindo pena.
Nessa Pátria, mãe gentil, os privilégios não param por aí.
Com o aval da Justiça do Distrito Federal, o senador Acir Gurgacz (RO), que cumpre 4 anos e 6 meses de prisão em regime aberto por crimes contra o sistema financeiro, recebeu autorização para tirar férias em um resort em Aruba, no Caribe, onde a diária custa R$ 4 mil e tem acesso a um cassino.
Mas, creiam, que por um motivo mais do que justo: comemorar seus 35 anos de casamento.
Gurgacz ainda argumentou à Justiça que a viagem ocorreria durante o recesso parlamentar e seria paga com recursos próprios, “sem nenhum prejuízo aos cofres públicos”.


Ministro do Supremo Alexandre de Moraes. Foto Orlando Brito

O teatro dos absurdos acabou interrompido pelo ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que revogou a autorização para o senador tirar férias da prisão.
Imagina se a moda pega?
Quase que simultaneamente à decisão do ministro Alexandre Moraes, o Senado aprovava em votação simbólica o destaque ao pacote de medidas anti-corrupção, que prevê pena de prisão para juízes e procuradores por abuso de autoridade. Para muitos, um golpe contra a Lava Jato.


Bolsonaro cuida do “circo”e deixa o “pão”com os profissionais

O projeto Bolsonaro, até aqui, caminha bem. Tem sérios obstáculos pela frente. Mas, até agora, ele parece contar com um ingrediente fundamental na política - sorte


Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro está em campanha. Esquecendo a promessa eleitoral de acabar com a reeleição, o presidente está empenhado em falar a seu eleitorado mais fiel, hoje em torno de 30%, segundo pesquisas, e chegar à disputa de 2022 com essa base. Pode ser esse desejo que explique a assinatura de decretos em série sobre o porte e a posse de armas — sete no total — atropelando o debate na sociedade e no Congresso. Trata-se de um tema caro ao eleitor bolsonarista e uma de suas principais promessas na eleição de 2018.


Ministro da Economia, Paulo Guedes – Foto Orlando Brito

O presidente sempre mostrou gosto em tratar da chamada agenda de costumes, deixando os temas mais duros aos auxiliares — como o “Posto Ipiranga” Paulo Guedes. Ao assumir a vontade de seguir no poder, parece confirmar essa tendência. Cuida do “circo” e deixa o “pão”, que anda em falta, aos profissionais.
O projeto Bolsonaro, até aqui, caminha bem. Conseguiu do Congresso, por unanimidade, um crédito de R$ 248,9 bilhões que permitirá fechar as contas do ano sem pedaladas e chegar a 2020 com relativo conforto. A reforma da Previdência ganhou vida própria no Congresso. Não renderá o R$ 1 trilhão pedido por Paulo Guedes, mas será suficiente para abrir um horizonte de decisões de investimento privado a partir do primeiro trimestre do próximo ano. E ainda poderá contar com receitas extras de privatizações e leilões do pré-sal.


Bolsonaro, Dória e Onyx

Se tudo correr dessa forma, Bolsonaro chega às eleições municipais de 2020, o primeiro passo para 2022, como cabo eleitoral importante. O problema dos planos, porém, são os imprevistos — e os planos dos outros. Correndo na mesma raia, Bolsonaro já tem como principal adversário o governador paulista João Doria. E não deve descartar a concorrência futura do ex-juiz Sérgio Moro, mesmo que hoje ele esteja acuado pelos diálogos vazados pelo site “The Intercept” e dependa do presidente para ter algum espaço de poder. Já a oposição ainda não tem plano. Apega-se ao grito de guerra “Lula livre”, sem um discurso para substituir a narrativa antipetista.
E há o cenário externo, que sempre pode atrapalhar. O risco de uma crise do petróleo devido aos conflitos entre Estados Unidos e Irã tem potencial para causar um terremoto na economia mundial. Sem falar nos efeitos econômicos das rusgas entre Donald Trump e a China. Faltam três anos e meio para as eleições presidenciais, e em política nada é linear. Mas Bolsonaro, até aqui, parece contar com um ingrediente fundamental na política — sorte.

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