Grupo neonazista tinha lista com 88 possíveis alvos Parlamentares estavam na relação; agente da inteligência alemã pode estar envolvido com extremistas

Grupo neonazista tinha lista com 88 possíveis alvos

Parlamentares estavam na relação; agente da inteligência alemã pode estar envolvido com extremistas

O Globo
com agências internacionais
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Os parlamentares Jerzy Montag (esq) e Hans-Peter Uhl estão em lista com 88 possíveis alvos de grupo extremista descoberta pela polícia
Os parlamentares Jerzy Montag (esq) e Hans-Peter Uhl estão em lista com 88 possíveis alvos de grupo extremista descoberta pela polícia AFP
ZWICKAU, Alemanha - Após o serviço de inteligência da Alemanha admitir que um de seus agentes estava presente quando dois membros do grupo extremista Resistência Nacional Socialista assassinaram um jovem turco em um café, mais evidências mostram falhas do governo alemão para impedir a continuidade dos terroristas. A polícia descobriu uma lista com 88 alvos possíveis, incluindo dois membros do parlamento alemão e representantes de grupos turcos e islâmicos. Os terroristas já mataram dez pessoas, roubaram 14 bancos e plantaram duas bombas durante 13 anos de ação.
Investigadores estão tentando descobrir se a lista é de pessoas que o grupo estava realmente planejando matar ou se é simplesmente a relação de oponentes políticos do alto escalão. O número 88 é sugestivo, pois corresponde a HH no alfabeto, sigla para “Heil Hitler”, uma saudação nazista. A célula neonazista teria reunido os nomes e endereços da lista em 2005, de acordo com a polícia.
Dois dos aparentes alvos são antigos políticos alemães: Jerzy Montag, do Partido Verde, e Hans-Peter Uhl, da União Democrata Cristã da Bavária - ambos membros do Bundestag, o parlamento alemão. Os dois políticos afirmaram que estão profundamente chocados com a revelação da lista.
Jerzy Montag disse que está alarmado com a descoberta:
- Esse é um sentimento terrível para mim. O fato de os mais importantes membros do grupo terem sido eliminados não resolve a questão. Se eles fizeram algo como isso, outros também podem fazer.
Hans-Peter Uhl se mostrou abalado:
- Quando ouvi que estava na lista fiquei profundamente perturbado.
Envolvimento de agente da inteligência com grupo neonazista preocupa Alemanha
O agente do serviço de inteligência alemã, que foi transferido para trabalhos mais simples após a investigação da época, tinha posições abertas de extrema-direita e era conhecido como “pequeno Adolf” no povoado em que cresceu. Quando a polícia revistou seu apartamento após o assassinato do jovem turco, encontrou um esconderijo de armas, todas obtidas legalmente, já que o agente tinha licença, e trechos do livro “Mein Kampf”, do ditador nazista Adolf Hitler, de acordo com a revista alemã “Der Spiegel”. Informações ainda não confirmadas dão conta de que ele teria presenciado pelo menos outros três assassinatos do grupo neonazista.
Hajo Funke, um dos maiores especialistas em extrema-direita da Alemanha, disse à TV ARD “que não se pode excluir que um funcionário da inteligência participou do assassinato, e isso é um escândalo”. Ele comparou a crise do serviço secreto de inteligência ao caso Watergate.
Um vídeo publicado no YouTube mostra uma confissão do grupo terrorista, através de montagens e animações, em que eles admitem a autoria do assassinato de oito homens turcos, um grego e uma policial alemã, mortos entre 2000 e 2007.
O ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, pediu um registro nacional que liste todos os neonazistas. O banco de dados deve considerar “informações sobre potenciais extremistas violentos de direita e atos de violência motivados por razões políticas de extrema-direita”, afirmou o ministro ao jornal “Süddeutsche Zeitung”. A lista deve ficar acessível a todos os 16 ramos regionais do serviço de inteligência, à organização nacional e às autoridades policiais.
Governo sob pressão depois de descoberta de extremistas
Depois da descoberta da base da célula terrorista na pacata cidade de Zwickau, o governo alemão foi pressionado a explicar como o grupo conseguiu passar despercebido por tanto tempo. Os dois homens (Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt) e a mulher (Beate Zschäpe) que seriam os fundadores do grupo eram conhecidos pela polícia desde que uma fábrica de bombas foi descoberta na garagem que Beate alugava na cidade de Jena, em 1998.
O departamento local de serviço secreto supostamente tinha 24 investigações sobre o trio e mesmo assim só descobriu a célula terrorista depois deles terem cometido pelo menos dez assassinatos - e depois dos homens terem sido encontrados mortos, em um aparente pacto suicida e de Beate ter se entregado à polícia.
Beate está em silêncio desde que se apresentou, mas reportagens de jornais locais sugerem que ela disse a policiais que estaria pronta para ser interrogada nesta quarta-feira sobre seu envolvimento nos crimes.
Na terça-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, descreveu o caso como uma “desgraça” para o país. No mesmo dia, seu partido, a União Democrata Cristã, votou em sua conferência para banir o Partido Democrata Alemão, um grupo legal de extrema-direita que tem assentos em parlamentos locais. O partido de oposição Social Democrata também pediu para que o Democrata Alemão seja proibido.
Hans-Peter Uhl, um especialista em segurança interna do partido irmão da União Democrata Cristã da Bavária, disse que seria melhor para as informações restritas da Alemanha que a leis de proteção sejam modificadas para permitir que detetives analisem comunicações de suspeitos.
- O país inteiro está se perguntando quão grande são os neonazistas na Alemanha. Sem usar dados de ligações telefônicas e navegação na internet coletados na célula de Zwickau, vai ser difícil estabelecer esse tamanho - disse a um jornal alemão.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/grupo-neonazista-tinha-lista-com-88-possiveis-alvos-3249645#ixzz1duTfRTLt
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