Vaiando Putin

02/12/2011 - 13h53

Vaiando Putin

Algo notável está acontecendo na Rússia. O fato de o primeiro-ministro Vladimir Putin ter sido vaiado num torneio de artes marciais no mês passado parece um daqueles momentos em que os ventos políticos mudam de direção, apesar de alguns presentes terem alegado que as vaias foram dirigidas a um lutador americano derrotado. Mas não existe uma explicação alternativa para as vaias ouvidas diante da menção do partido governista, o Rússia Unida, numa partida de hóquei nos montes Urais ou em um concerto de rock na Sibéria.
O que as pesquisas de opinião vêm indicando há alguns meses agora está virando realidade política. Antes das eleições parlamentares deste domingo e do planejado retorno de Putin como presidente nas eleições de março de 2012, a popularidade da liderança vem diminuindo. Estão surgindo rachaduras na democracia russa "administrada".
Figura dominante na Rússia desde que primeiro tornou-se premiê, em 1999, Putin costuma citar a longevidade política de Franklin Roosevelt ou Winston Churchill, mas está descobrindo que 12 anos é muito tempo na política moderna. E isso é válido mesmo nos sistemas autoritários. Não é à toa que o Partido Comunista chinês promove a renovação de sua alta liderança a cada cinco anos.
Existem fatores mais específicos. O crescimento fraco verificado desde 2008 está levando os russos a sentir que o padrão de vida deixou de melhorar. De acordo com uma sondagem, mais de metade deles acha que a corrupção está pior hoje que na década de 1990. É possível, também, que a decisão de Putin de retornar tenha sido um raro erro de cálculo político. A parelha que ele formou com Dmitri Medvedev como presidente foi inteligente, na medida em que agradou a dois setores do eleitorado ao mesmo tempo: Medvedev, à intelligentsia liberal, e Putin às massas conservadoras. A troca planejada de posições no próximo ano vem sendo vista não como isso, mas como o fim da dupla. Muitos russos desconfiam que a decisão de Putin de voltar à Presidência será mais benéfica a Putin que a eles.
Não se trata, ainda, de um momento do tipo primavera árabe; os líderes ocidentais ainda invejariam os índices de aprovação que Putin e o partido Rússia Unida desfrutam. Mas as pesquisas sugerem que o partido pró-Kremlin terá dificuldade para conquistar, de modo justo, mais de metade dos votos no domingo, contra uma oposição amansada. Se isso acontecer, será uma queda grande em relação à atual maioria de dois terços e assinalará uma erosão da legitimidade do regime de Putin.
Mas isso chama a atenção para um vazio perigoso na Rússia. O sistema político atual frustrou propositalmente a emergência de líderes e partidos alternativos dignos de crédito, especialmente líderes e partidos comprometidos com a democracia liberal. Supondo que Putin consiga retornar à Presidência em segurança, sua primeira prioridade deve ser fazer reformas políticas que permitam a concorrência genuína. Se ele não o fizer, é possível que os russos o façam por ele.
TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN  COPIADO : http://www1.folha.uol.com.br/mundo

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