A crise com a polícia ameaça o futuro do prefeito de Nova York “Este caso não pode se comparar com o de Ferguson”

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Manifestante em ato contra a polícia em Nova York. / M. Graae (AFP)

A crise com a polícia ameaça o futuro do prefeito de Nova York

Vicente Jiménez Nueva York
Duas tragédias, a morte do jovem negro Eric Garner e o assassinato de dois policiais no Brooklyn, dinamitaram o capital político de De Blasio

A crise com a polícia ameaça o futuro do prefeito de Nova York

O democrata Bill De Blasio perdeu todo seu capital político em apenas uma semana


Bill de Blasio em missa neste 25 de dezembro. / C.ALLEGRI (REUTERS)

Um desconhecido Bill de Blasio só precisou de 750.000 votos em novembro de 2013 para se tornar prefeito de 8,4 milhões de habitantes. Agora, a animosidade de apenas 35.000 agentes ameaça colocar fim à sua carreira. Esses 750.000 votos representaram 73% dos votos. Os 35.000 profissionais são 100% da maior e mais difícil corporação de polícia dos Estados Unidos. Nova York não pode ser governada sem o apoio de seu pequeno exército azul. O primeiro prefeito democrata em 25 anos levou doze meses, período em que está no cargo, para comprovar isso.
Há duas semanas De Blasio era a estrela emergente do Partido Democrata. Enaltecido por uma cidade na qual afro-americanos e hispânicos já são maioria, sua gestão da crise do ebola e dos protestos pelo caso Garner o elevou a níveis não imaginados. Na reforma migratória ele se pôs à frente de uma coalizão de prefeitos, foi fotografado com o presidente Barack Obama e compareceu como o político da semana ao programa de George Stephanopoulos na ABC. Os elogios eram exuberantes. Chris Smith, da New York Magazine, escreveu: “Não sugiro que o caso Garner seja algo positivo para alguém. Mas De Blasio está crescendo pelo modo como o administrou. Os bons políticos são os que sabem ver o momento e aproveitar suas oportunidades”.
Uma semana depois, De Blasio é um boxeador grogue. Nos últimos dias ele multiplica os gestos de homenagem aos policiais mortos para tentar restabelecer pontes com a corporação e reposicionar-se no cargo. O funeral do agente Rafael Ramos no sábado será a primeira prova de fogo. Mas não a única.
Para salvar-se não lhe basta seu sucesso na redução da criminalidade (300 assassinatos este ano, um recorde) nem suas reformas progressistas aprovadas sem oposição (carteira de identidade) nem o apoio a imigrantes e desfavorecidos (ajuda legal a menores sem documentos, ampliação do salário por doença e comida grátis para estudantes) nem seus planos de crescimento sustentado (redução do número de vítimas do tráfico) nem tantas outras iniciativas que obscureceram o legado de seu predecessor, o conservador Michael Bloomberg. Duas estratégias fora de seu controle, a morte do afro-americano Eric Garner e o assassinato de dois policiais no Brooklyn dinamitaram tudo o que foi construído.
De Blasio tentou introduzir novos usos em territórios onde as velhas leis persistem. A primeira é lidar com a polícia. Duas imagens resumem os erros do prefeito. Em agosto, nas primeiras tensões do caso Garner, sentou-se à sua esquerda, durante uma entrevista à imprensa, o reverendo Al Sharpton, conhecido agitador afro-americano. À sua direita se sentou o chefe de polícia, William Bratton. Essa equidistância foi um insulto para os agentes.
A segunda imagem se produziu no sábado. Dezenas de policiais deram as costas ao prefeito quando entrou no hospital que custodiava os cadáveres dos agentes mortos a tiros. Esta semana ele se dirigiu contra os jornalistas em um ato. “Que pensam que estão fazendo? Querem continuar nos dividindo?”, alfinetou. O governante perdeu o controle da situação e sua batalha acirrou os ânimos da cidade como não se via desde os sangrentos anos 70 (2.500 assassinatos no ano), como lembrou, para irritação de De Blasio, o próprio Bratton.

Conflito reavivado

Vários casos têm reavivado o conflito racial nos EUA
  • Michael Brown, um jovem negro de 18 anos desarmado, recebeu 12 disparos de um policial branco em Ferguson (Missouri) em agosto. Sua morte desencadeou uma onda de distúrbios que se estenderam por todo o país.
  • Eric Garner, um homem negro de 43 anos que vendia cigarros, morreu depois de ser estrangulado por um agente branco de Nova York por uma chave de braço proibida.
  • Tamar Rice, um garoto negro de 12 anos, morreu ao ser alvejado por disparos de um policial branco em Cleveland (Ohio); ele brincava com uma pistola de brinquedo.
A polícia odeia De Blasio. Seu discurso sobre uma nova relação com a população é desprezado por uma maioria de agentes que cresceu durante as administrações conservadoras e bastante punitivas de Giuliani e Bloomberg. O abandono das políticas de mão dura e sua substituição por outras mais integradoras e respeitosas com as minorias foi considerado uma desautorização de sua história recente. De Blasio deixou a corporação sem o discurso que lhe havia permitido travar uma guerra nas ruas sob o amparo do poder. O conflito pelo dissídio dos agentes iniciou as hostilidades.
O primeiro torpedo chegou em agosto. A associação Benevolente de Patrulheiros, um dos dois grandes sindicatos da categoria, se opôs à celebração em Nova York da Convenção Democrata, uma das grandes iniciativas de De Blasio, porque o prefeito “não tinha conquistado o direito de ser o anfitrião”, dada a proliferação da criminalidade. O argumento era falso.
De Blasio avaliou mal aquele ataque e desde então tem manobrado mal. Com a tensão racial no ponto máximo, ele se valeu de sua condição de marido e pai de afro-americanos para acalmar as águas. O tiro saiu pela culatra. “Minha mulher e eu temos medo de que nosso filho Dante se depare com algum policial”, declarou para acalmar as entidades afro-americanas. Isso desencadeou a ira dos policiais. “Ele nos jogou na fogueira”, denunciaram os porta-vozes sindicais.
Outro grave episódio aumentou a tensão. Rachel Noerdlinger, ex-assessora do reverendo Sharpton e chefa de gabinete da mulher do prefeito, se demitiu em meados de novembro por problemas de seu namorado e seu filho com a lei. Ambos tinham antecedentes e se dedicavam a insultar a polícia nas redes. De Blasio não soube se distanciar dela e a polícia considerou isso mais uma provocação.
Nos últimos dias veio à tona que durante a campanha eleitoral o prefeito saia do carro oficial para falar com seus colaboradores depois de se assegurar de que seus guarda-costas o haviam gravado. O último episódio ocorreu há uma semana. De Blasio se reuniu na Prefeitura com os líderes dos protestos. Foi outro ponto negativo no saldo com a polícia. A morte de dois agentes fez explodir toda a raiva acumulada.
O território que o prefeito pisa não é firme. A onda que o alçou ao poder se esvaiu. Os nova-iorquinos acreditam que a tensão racial é pior do que na época Bloomberg, mais da metade considera que a cidade está mal administrada e três de cada cinco acreditam que as relações entre a polícia e a comunidade pioraram. A agenda de De Blasio esta na lama junto com ele.

“Este caso não pode se comparar com o de Ferguson”

Silvia Ayuso Washington
Prefeito de Berkeley, onde policial matou rapaz, defende o agente de segurança
  • Um policial mata a tiros outro jovem negro perto de Ferguson
    tensão racial

    “Este caso não pode se comparar com o de Ferguson”

    O prefeito de Berkeley, onde um policial matou o rapaz com um tiro, defende o agente


    Várias pessoas discutem com policiais. / Reuters-LIVE! / EFE

    Aqui não é Ferguson. Theodore Hoskins, prefeito da vizinha cidade de Berkeley, Missouri, onde na noite de terça, outro jovem negro foi morto a tiros por um policial, falou com dureza nesta quarta-feira contra “tirar conclusões precipitadas” que possam causar novos distúrbios raciais como os que têm sacudido os Estados Unidos nos últimos seis meses.
    Antonio Martin, um afroamericano de 18 anos, foi morto a tiros por um policial em um posto de gasolina em Berkeley, uma cidade na região metropolitana de Saint Louis perto de Ferguson, onde há seis meses outro jovem da mesma idade e raça falecia devido a disparos de um policial.
    A morte em Ferguson de Michael Brown nas mãos de um policial branco que não terá que enfrentar a justiça por este caso provocou fortes protestos da comunidade afroamericana, indignada com os métodos de uma polícia que já não os representa ou protege. Os protestos rapidamente se espalharam para outras partes do país, onde ressurgiram outros casos semelhantes, como o de Eric Garner, em Nova York, onde também explodiu a tensão racial.
    Neste novo caso, o agente que matou Martin também é branco. Mas as semelhanças param por aí, aparentemente. Não só por que um vídeo confirma a versão de que Martin apontou uma arma para o policial que atirou nele, mas porque também foi revelado que o jovem tinha antecedentes criminais, inclusive por assalto à mão armada.
    O lugar onde aconteceu o fato, perto de Ferguson, também é diferente: “O prefeito é negro”, lembrou nesta quarta-feira o próprio em uma entrevista coletiva. Em uma cidade onde 85% da população é negra, “a maioria dos funcionários são negros, incluindo o chefe de polícia”, reafirmou. No entanto, Hoskins não conseguiu esconder a sua frustração com o novo incidente – “novamente um policial branco mata um negro, quando é que isso vai parar?”, se perguntou – e prometeu uma investigação independente.
     copiado  http://brasil.elpais.com/brasil/2

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