Renan e o bicanoísmo, o esporte preferido do PMDB
Os que me acompanham há mais tempo já leram essa: se bicanoísmo fosse esporte olímpico, o Brasil teria no PMDB um timaço mais imbatível que a turma do vôlei. Convocando os peemedebistas, era medalha de ouro sempre. No comando do partido no processo que o conduziu a se tornar o parceiro preferencial do PT nos dois governos Dilma Rousseff, Michel Temer conseguiu fazer com que os peemedebistas se unissem e deixassem de lado seu esporte favorito. É incrível, portanto, que a prática do bicanoísmo ensaie retornar justamente agora que o presidente é Michel Temer.
Bicanoísmo consiste em navegar com um pé em cada canoa. Toda vez que um governo ensaia fazer água, o PMDB primeiro se divide. Depois, começa a enxergar qual é a canoa com mais chances de navegar rumo à vitória no próximo governo. Aí, a parte dissidente do partido bota o pé na outra canoa. Aos poucos, o grupo fiel ao governo naufragante vai diminuindo até que todo o PMDB passe para a outra canoa. E assim se segue até o próximo naufrágio e o surgimento da próxima canoa. Desde a redemocratização do país, os peemedebistas se tornaram craques nisso.
Nas duas primeiras eleições presidenciais, o PMDB foi de candidato próprio, com Ulysses Guimarães e Orestes Quércia. Mas o bicanoísmo já explicava parte do desempenho pífio dos dois. Boa parte do partido os abandonou à própria sorte e aderiu a Fernando Collor e a Fernando Henrique Cardoso. Na reeleição de Fernando Henrique, o partido dividiu-se tanto que não conseguiu nem ter candidato próprio nem apoiar ninguém. Na eleição de Lula, apoiou José Serra, do PSDB, já com parte do partido apoiando o candidato do PT.
O processo foi se mostrando imensamente benéfico ao PMDB. O partido abandonava o protagonismo nos governos, mas crescia como aliado preferencial em qualquer circunstância. Primeiro, com o jogo duplo, beneficiava-se eleitoralmente de qualquer resultado, crescendo suas bancadas, especialmente no Congresso. Segundo, optando por ser coadjuvante, livrava-se dos desgastes dos governos que apoiava nos seus momentos de ocaso – até porque parte já estava claramente no próximo projeto vencedor. Terceiro, como crescia e era quase sempre o maior partido no Congresso, tornava-se imprescindível como parceiro pelos votos que emprestava para que o governo vencedor tivesse maioria.
A partir da primeira eleição de Lula, sob o comando de Temer o partido apostou na aposentadoria momentânea do bicanoísmo para se tornar mesmo o parceiro preferencial do PT. Enxergando solidez no plano petista – que acabou se tornando o partido que ficou mais tempo no poder em toda a história republicana brasileira, com os dois mandatos de Lula e o mandato e meio de Dilma –, Temer conseguiu construir a unidade que fez com que se tornasse o candidato a vice de Dilma. Mesmo quando Dilma começou a cair, Temer foi capaz de manter unido o partido no projeto de desembarque que culminou no impeachment. É preciso que se registre: tal construção da unidade só foi possível porque eram nítidos os sinais de onde estava a perspectiva de poder, desde a reeleição de Lula até o ocaso de Dilma.
Mas agora a canoa com nítidos sinais de naufrágio é a do próprio Temer. E o bicanoísmo ressurge com a força da convocação de um dos capitães do time peemedebista. Ninguém menos que o próprio líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL). A partir do momento em que Renan, um dos maiores caciques peemedebistas, aparece criticando duramente as reformas propostas por Temer, bate boca fortemente com o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e informa que irá entregar seu posto de líder, não poderia haver sinal mais forte de que o PMDB retoma a prática do seu velho esporte. O pé peemedebista só não está ainda claramente em outra canoa porque hoje não existe vidente capaz de dizer quem irá ganhar a próxima eleição. Aliás, em tempo: não existe vidente capaz de dizer se o atual governo sobrevive até a próxima eleição…
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