Quatro motivos que garantem sobrevivência de Temer
AFP
28.06.17
- 12h51 - Atualizado em 28.06.17 - 13h34
Em qualquer lugar do mundo, um presidente com 7%
de popularidade e acusado formalmente de corrupção teria sérios
problemas para se manter no cargo, mas, no Brasil, Michel Temer está
conseguindo, por ora, o que parecia impossível. Quais seriam os
motivos?
– Corrupção
enraizada –
Temer é o primeiro presidente em exercício da
história do país a ser acusado pelo Procurador Geral da República.
A denúncia de corrupção passiva deve ser validada por dois terços
da Câmara de Deputados para que possa ser enviada ao Supremo
Tribunal Federal (STF).
Temer tem maioria no Congresso desde que assumiu
o poder em maio de 2016, depois do impeachment da presidente Dilma
Rousseff.
Além disso, 185 dos 513 deputados estão sendo
investigados, a maioria dentro da operação “Lava Jato”.
“Isso
cria uma rede de solidariedade”, diz Sylvio Costa, diretor do
portal Congresso em Foco.
A queda de Temer poderá provocar um efeito
dominó e muitos na Câmara não querem perder seus foros
privilegiados.
– Sem
sucessor claro –
Quando Dilma foi destituída pelo Congresso por
manipulação das contas públicas, o caminho para sua substituição
era claro. Em seu lugar, assumia seu vice-presidente, Temer, do PMDB,
partido com o qual o PT se aliou para ter mais apoio no Congresso.
Mas se Temer cair, para preencher o vazio de
poder a Constituição prevê que o Congresso eleja quem o substitua
no prazo de 30 dias.
Neste caso, não há uma figura de consenso.
Durante o primeiro mês, assumiria interinamente
o presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia (DEM), que, apesar
de também ser investigado por corrupção, é um dos nomes com maior
força para concluir o mandato até o final de 2018.
A legitimidade de quem vai encabeçar o governo
de transição, o terceiro em menos de um ano e meio, seria ainda
mais questionada.
Muitos no Brasil acreditam que este caos
político deveria ser resolvido com eleições diretas, antes das
marcadas para 2018. Mas, para isso, seria necessária a aprovação
de uma emenda constitucional.
– Apoio
do mercado –
Temer prometeu tirar o Brasil da pior recessão
de sua história através de uma série de ajustes impopulares, mas
que pretendem devolver a confiança aos investidores.
Já conseguiu aprovar o congelamento dos gastos
públicos durante 20 anos e abrir à iniciativa privada o setor
petroleiro, mas faltam aprovar duas de suas principais bandeiras: as
reformas trabalhista e da previdência.
O mercado espera com ansiedade essa aprovação,
mas a crise política retarda o processo.
“Há
uma divisão do mercado, mas uma parte ainda acredita que seria
melhor o Temer continuar. Porque a possibilidade de reformas é maior
e porque há uma garantia maior de que permaneça a atual equipe
econômica”, afirma o analista Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores.
Seu principal sócio no governo, o PSDB, também
quer a aprovação dessas reformas antes das eleições, mas está
dividido a respeito do custo político de permanecer fiel a um
presidente com semelhante índice de desprestígio.
O partido está fragilizado, além disso, pelas
investigações contra seu ex-líder Aécio Neves e parte de sua
cúpula, e também não perde de vista que provavelmente precisará
aliar-se ao PMDB de Temer se quiser a Presidência em 2019.
– Silêncio
nas ruas –
Um dos motivos que levou à saída de Dilma foi
a pressão de milhões de pessoas mobilizadas em todo o país. Mas o
grito de “Fora Temer” tem sido tímido até agora nas ruas,
apesar de 65% dos brasileiros acharem que sua saída seria melhor
para o Brasil, segundo recente pesquisa Datafolha.
Os sindicatos protagonizaram a maior e mais
violenta manifestação em 28 de maio passado, em Brasília, mas o PT
do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) tem seus
próprios problemas de corrupção e não conseguiu gerenciar o
descontentamento popular.
Ao negar-se taxativamente a renunciar, Temer
complicou muito mais o cenário e, de alguma forma, está esticando
ao máximo a solidez constitucional do país.
“Mas
o Brasil tem instituições muito fortes. Não existem hoje
aventureiros buscando soluções fora da constituição, fora da
institucionalidade. Então, para nós, esse é um conforto. É saber,
seja o que for acontecer, que vai ser em decorrência do comprimento
da Constituição”, afirma a procuradora regional da República,
Silvana Batini.
copiado http://istoe.com.br/ultimas/
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