Russos pedem liberdade para historiador em cerimônia de vítimas stalinistas
Durante a cerimônia anual, uma iniciativa da ONG Memorial - a mais antiga organização russa de defesa dos direitos humanos - centenas de pessoas leram alternadamente, ao longo do dia, nomes de vítimas perto da pedra Solovetski, nas ilhas Solovki (mas Branco, no norte da Rússia), onde foi aberto o primeiro goulag soviético. O monumento é instalado na praça da Loubianka, em frente ao escritório do FSB (ex-KGB, o serviço secreto russo).
A cerimônia foi marcada, neste ano, pela prisão do historiador Iouri Dmitriev, integrante da Memorial, conhecido por suas pesquisas sobre desaparecidos durante a fase chamada de grande terror dos anos 1930.
Dmitriev, de 61 anos, diretor da regional da ONG em Carélie (região na fronteira com a Finlândia), foi preso em 13 de dezembro de 2016 em Petrozavodsk, no norte da Rússia, acusado de "produção de imagens de pedofilia", segundo a ONG, que afirma que o processo foi encenado.
O historiador desmente as acusações, mas ainda tem 15 anos de prisão.
"A história se repete?", questiona um participante da cerimônia, enquanto outro pede liberdade para o historiador.
As acusações contra Dmitriev "são um golpe muito grave" para os que procuram preservar a memória das vítimas stalinistas, declarou à AFP Alexeï Nesterenko, de 80 anos.
"Nossas autoridades consideram qualquer atividade pública como um perigo por si só", avalia o homem, cujo pai foi preso pelo regime stalinista em 1937, apenas 25 dias após seu nascimento.
Os defensores dos direitos humanos acusam o presidente russo Vladimir Putin de tentar apagar os crimes de Stalin, privilegiando o fervor patriótico estimulado para propaganda estatal.
A cerimônia deste domingo ganha, neste ano, um significado especial, enquanto a Rússia comemora o centenário da Revolução de Outubro, com exposições e simpósios. O aniversário da Revolução costumava ser celebrado com grande pompa na era soviética.
- '40 mil execuções' em Moscou -Idosos, jovens mães com bebês em seus carrinhos e até crianças participaram da leitura dos nomes.
"Piotr Ivanovitch Markov, 57 anos, padre em uma igreja na vila de Malakhovka, executado em 21 de fevereiro de 1938", leram.
"Dmitri Alexandrovitch Samguine, 19 anos, aluno da Faculdade de História da Universidade de Moscou, executado em 10 de dezembro de 1937".
"Ian Ianovich Kovalski, 40 anos, relojoeiro, executado em 18 de novembro de 1930".
Algumas pessoas se emocionavam durante a leitura, como uma mulher que lembrou de seu tio materno, funcionário de uma fábrica de Irkoutsk, na Sibéria, que foi executado em 1938, aos 29 anos.
"Durante os anos de terror, mais de 40 mil pessoas foram executados só em Moscou", segundo a Memorial.
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