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Num claro exemplo de manipulação do noticiário internacional pelas grandes agências de notícias, a espanhola EFE entrevistou Michel Temer em abril e recheou o despacho com desinformações, conjecturas sem base e mentiras deslavadas sobre o atual processo político brasileiro. A entrevista, reproduzida em diversos veículos de países hispânicos, foi acompanhada de fotos e conduzida pessoalmente pelo presidente da agência espanhola, José Antonio Vera Gil (foto no alto), Carmen Gurruchaga e o veterano correspondente Eduardo Davis.
Às vésperas da visita oficial do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, a Brasília, nos dias 24 e 25/4, a agência de notícias espanhola deu palanque para Temer fazer auto-elogios, o que é praxe no jornalismo “diplomático” praticado por agências estatais, como é o caso da EFE. Faz sentido, nesse contexto, promover o Brasil junto à mídia da Espanha, que é a segunda principal origem de investimentos estrangeiros no Brasil, atrás apenas dos EUA.
Até aí, houve pouca novidade.
O que apareceu de surpreendente foi o tom laudatório empregado pelos textos da agência, e por Vera Gil em particular, distribuídos aos seus clientes. Eles podem ser lidos na íntegra, acompanhados de vídeos, nesta página da EFE. Neles, a empresa afirma escabrosidades como “la recuperación económica que se ha empezado a insinuar en los últimos meses” (com desemprego e inflação subindo, e atividade industrial em queda) ou que as leis trabalhistas no país têm um “fuerte proteccionismo”.
Não é de se admirar que a EFE tenha essa opinião sobre a legislação brasileira, já que em suas próprias relações contratuais no Brasil obriga os funcionários a se tornarem sócios-cotistas de uma “cooperativa de fachada”, a Editora Hispano-Brasileira, para fugir às obrigações trabalhistas. O esquema faz com que, em vez de salários, os editores recebam “dividendos” da terceirização fictícia, sem que a EFE precise arcar com contribuição previdenciária, FGTS nem indenizações por demissões.
Em um texto institucional que acompanhou a entrevista no pacote ofertado aos assinantes, Vera Gil teceu elogios obscenos ao chefe da Junta golpista, chamando-o de “un político de primer nivel, un hombre de unión, un hombre de diálogo, un pacificador” e afirmando que Temer “es considerado uno de los mayores constitucionalistas del país”.
Vera Gil, que antes de presidir a EFE foi diretor do jornal conservador La Razón e outros veículos de mídia espanhóis, especialmente com linha editorial de direita, mentiu descaradamente, ao afirmar que “el impeachment convulso que costó el puesto a Dilma Rousseff” foi “consecuencia de la cadena de corrupciones del ‘lava jato'”, sem mencionar o pretexto formal das pedaladas fiscais. O presidente da EFE também mistura “Caixa 2” com “propina” e afirma categoricamente que “o Brasil precisa das reformas” contra o povo que a Junta vem promovendo.
Entre os erros factuais nas matérias em que se desdobrou o pacote multimídia da entrevista, a EFE diz que a Operação Lava(-a)-Jato “ya ha llevado a decenas de políticos a la cárcel”, quando são apenas 13 os políticos presos até agora. Erra ainda ao afirmar que Temer continua como presidente do PMDB, cargo que passou em abril de 2016 para Romero Jucá.
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Os erros e as mentiras da EFE sobre o Brasil foram reproduzidos, entre outros, pelos jornais La Vanguardia, El Diario, El Día, El Periódico, El Confidencial, Última Hora, todos na Espanha, e em outros países, como a agência Télam (Argentina), os jornais La República (Uruguai), El Espectador (Uruguai) e El Nuevo Diario(República Dominicana), a rádio W (Colômbia), os portais Terra (versões Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, Peru, México), Yahoo! e MSN em espanhol, e o canal Telesur.
A EFE aproveitou para deixar o golpista-mor atacar a Venezuela, ameaçando suspendê-la do Mercosul em conluio com a Argentina de Macri. O texto também tratou com naturalidade a empáfia com que Temer afirmou que o processo de cassação de sua chapa no TSE não vai tirá-lo do cargo porque a justiça brasileira é “burocratizada y lenta”. Finalmente, a agência espanhola também chamou o Palácio do Planalto, projetado por Oscar Niemeyer, de um prédio “kitsch”.
A agência EFE, fundada na Espanha em 1939, no início do regime fascista de Francisco Franco (em cujas iniciais, FF, diz-se ter inspirado seu nome), afirma ter 884 clientes na América e, frequentemente, adota linha editorial tendenciosa, antipopular e sabotadora dos regimes democráticos da região, como na Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua. A agência do antigo país colonizador está presente no mundo hispano-americano desde a Guerra Fria.
Leia também: A Agência EFE e seus erros (JM Noticias)
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