Feltrin: Até aqui, Neymar Pai dá 'banho' de estratégia no caso

Ueslei Marcelino/Reuters
Pai de Neymar arranca câmera das mãos de fotógrafoImagem: Ueslei Marcelino/Reuters




Ricardo Feltrin é colunista do UOL desde 2004. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter, editor e secretário de Redação, entre outros cargos.

Não analiso e nem tive acesso total às circunstâncias, supostas provas, imagens e acusações entre a modelo Nájila Trindade e o jogador Neymar Jr., do PSG.
Assim como todos, tudo que sei 100% é que há uma acusação formal por parte dela, que registrou um B.O. de agressão e estupro em uma delegacia de São Paulo.
Ela acusa Neymar de tê-la violentado no quarto de um hotel em Paris 15 dias antes de ter entrado na delegacia para acusá-lo.
Neymar nega e afirma que foi tudo consensual. Sempre identificando-o como "Atleta Neymar Jr", sua assessoria emitiu nota ontem afirmando que ele está sendo vítima de "denunciação caluniosa"
Nájila rebate: ela se expôs, admite que viajou com o intuito de fazer sexo. Diz que realmente tudo vinha sendo consensual. Até o momento em que começou a ser machucada e mandou o jogador parar a relação.
Ela diz que ele não parou e ainda a consumou. Que estava "alterado".
Não sou advogado, mas são muitas acusações pesadas e ela vai ter muito trabalho para prová-las.
Como ex-repórter policial posso dizer que, mesmo que ela tivesse (tenha) provas materiais muito sólidas, que tudo fosse (seja) verdade --repito, suposição--, as chances de Nájila já não seriam muito grandes se analisarmos o histórico da polícia e da Justiça brasileiras.
Sem provas, ou com provas frágeis, sua situação certamente pode ficar bem mais complicada.
Talvez seu grande erro tenha sido achar que poderia enfrentar a "Neymar Corp." de igual para igual.
Repetindo mais uma vez: sem fazer juízo de valor, mas em termos de estratégia, até aqui o pai de Neymar Jr está dando um "banho" de como administrar, driblar e acabar com adversários.
Como se fosse um jogo de xadrez, ele está colocando todos os envolvidos --exceto o filho-- em xeque.
Primeiro colocou em dúvida o caráter, depois o depoimento da acusadora --que teve mensagens com o jogador expostas, obviamente para desqualificá-la. "Melhor um crime digital que um crime de estupro", justificou.
Depois conseguiu tirar parte do foco da suspeita que paira sobre seu filho e transferi-la para o primeiro advogado de Nájila que o procurou, acusando-o, de certa forma, de ser um emissário propondo uma "chantagem".
Bem, nem todas as tentativas de acordos extrajudiciais podem ser classificadas de chantagem.
Depois ainda, Neymar Pai partiu para a desmoralização de Mauro Naves, repórter da Globo ora afastado da emissora, sob suspeita de ter intermediado a negociação de um "cala boca" financeiro. Acusação gravíssima contra um profissional com mais de três décadas de serviço.
Na sequência, contratou uma advogada conhecida pela luta pelo feminismo para defender o filho da acusação de estupro.
Nota: tudo indica que Bueno e Naves são velhos amigos. Segundo a coluna confirmou neste sábado (após receber uma indicação de um colega ontem), foi o escritório de Bueno que cuidou do jornalista da Globo em um dos piores momentos de sua vida: durante o divórcio com sua mulher, Patrícia (eles já reataram).
Ao jogar o advogado José Cunha Bueno e o jornalista Mauro Naves no ventilador; ao contratar uma advogada feminista, o patriarca e comandante da carreira da Neymar Jr conseguiu o que queria.
Criou factoides, abriu novas frentes de investigação e de atenção para a mídia --inclusive jogando a Globo na roda-- e, mais uma vez, transformou o filho no bom "menino" perseguido pela maldade e interesses escusos deste mundo vil e canalha.
Não quero nem imaginar o que o futuro reserva para Nájila.


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