A história por trás da foto de menina que tenta salvar irmã após bombardeio na Síria

Imagem gerou forte comoção nas redes sociais - Bashar al-Sheikh/SY24/AFP
Imagem gerou forte comoção nas redes sociaisImagem: Bashar al-Sheikh/SY24/AFP
A história por trás da foto de menina que tenta salvar irmã após bombardeio na Síria

 
02/08/2019 12h19
Autor conta como fez a imagem, que simboliza horror da guerra no país.
A foto de três irmãs nos escombros de um prédio após um ataque aéreo na Síria gerou forte comoção recentemente nas redes sociais.
A imagem, capturada pelo jornalista Bashar al-Sheikh, mostra Riham, de cinco anos, segurando Tuka, de sete meses, pela roupa, para impedir que ela caia da montanha de destroços; enquanto a outra irmã, que quase não aparece na imagem, parece estar presa sob os blocos de concreto.
O tio das meninas observa a cena do alto dos escombros levando uma das mãos à cabeça.
Ele conta que estava deitado na cama, quando ouviu um jato sobrevoando a cidade de Ariha, na província de Idlib, na última quarta-feira (24 de julho):
"De repente, os vidros se estilhaçaram. Corri imediatamente em direção à porta em meio à fumaça preta e espessa."
Foi quando se deparou com a cena:
"Eu só pensava em salvar as meninas. Só conseguia pensar nisso, mesmo que tivesse que arriscar minha própria vida", relembra.
'Eu só pensava em salvar as meninas', diz o tio das crianças - SF-24
'Eu só pensava em salvar as meninas', diz o tio das criançasImagem: SF-24
Ao mesmo tempo, o jornalista Bashar al-Sheikh correu para o local do bombardeio.
"Corri para lá e comecei a filmar, para documentar e mostrar ao mundo o que está acontecendo com o povo de Idlib."
Ele não conseguia enxergar nada a princípio, por causa da poeira dos escombros - até que ouviu a voz das crianças e do tio delas.
O jornalista Bashar al-Sheikh queria 'mostrar ao mundo o que está acontecendo com o povo de Idlib' - Reprodução BBC
O jornalista Bashar al-Sheikh queria 'mostrar ao mundo o que está acontecendo com o povo de Idlib'Imagem: Reprodução BBC
"Depois de filmar Riham e Tuqa, vi que estavam correndo perigo. Desliguei a câmera e me aproximei cuidadosamente, não queria chamar a atenção delas, para que não movessem a cabeça ou as mãos."
Bashar al-Sheikh lembra que o tio das meninas fez de tudo para salvá-las.
"Ele não recuou, estava tentando acalmá-las, "tomem cuidado, não caiam", dizia ele enquanto tentava alcançá-las."
Cadeira de rodas em meio aos escombros dos edifícios destruídos em Ariha - Omar Haj Kadour/AFP
Cadeira de rodas em meio aos escombros dos edifícios destruídos em ArihaImagem: Omar Haj Kadour/AFP
Momentos depois, o prédio desmoronou, ferindo ainda mais as crianças. Após serem retiradas dos escombros, elas foram levadas para o hospital:
"Carreguei as duas garotas e instintivamente comecei a gritar 'ambulância, precisamos de uma ambulância, há duas garotas feridas'."
"O posto médico mais próximo não tinha infraestrutura para tratar Riham, ela foi encaminhada então imediatamente para outro hospital."
Apesar de ter sido socorrida, Riham não resistiu aos ferimentos. Ainda não se sabe ao certo o que aconteceu com a outra irmã que mal aparece na foto, identificada como Dalia. Há alguns dias, um médico havia dito à agência de notícias AFP que ela ainda se encontrava sob tratamento, em estado grave, porém estável, no hospital.
A bebê, Tuqa, sobreviveu à tragédia. "Tuqa está em casa, espero que fique boa logo", diz o jornalista.
Tuqa, de sete meses, sobreviveu à tragédia - Reprodução BBC
Tuqa, de sete meses, sobreviveu à tragédiaImagem: Reprodução BBC
A imagem registrada por Bashar al-Sheikh capta o horror da guerra da Síria, na qual as forças do governo tentam recuperar Idlib do controle de rebeldes e jihadistas.
"A sensação é indescritível, nenhuma palavra é capaz de descrever esse sentimento, quantas Rihams serão necessárias para a comunidade internacional se mexer?", questiona.

O que está acontecendo na Síria?

Idlib, junto às províncias de Hama e Aleppo, é uma das últimas áreas controladas pela oposição na Síria depois de oito anos de guerra civil.
A área estaria protegida em tese por uma trégua negociada em setembro entre a Rússia, aliada do governo sírio, e a Turquia, que apoia a oposição.
Essa trégua deveria proteger os mais de 2,7 milhões de civis que vivem na região de uma ofensiva das forças do governo.
Mas, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU) informou em meados de julho, mais de 350 civis foram mortos e 330 mil foram forçados a deixar suas casas desde que o conflito se acirrou em 29 de abril. Número que cresceu nas últimas semanas.
O governo - com apoio da força aérea russa - argumenta que o acirramento dos ataques se deve a repetidas violações da trégua por jihadistas ligados à al-Qaeda que estariam na área dominada pela oposição.
No entanto, as Forças Democráticas Sírias (FDS), que são apoiadas pelos EUA, disseram em março ter derrotado os jihadistas e dado fim ao grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI).

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