Santander e Bosch usam chip para boi garantir crédito no Brasil projeto em fase de testes visa criar alternativa à alienação de propriedade usando tecnologia para monitorar gado

Quatro bois passando por uma porteira, em chão de terra

Santander e Bosch usam chip para boi garantir crédito no Brasil

projeto em fase de testes visa criar alternativa à alienação de propriedade usando tecnologia para monitorar gado


SÃO PAULO 10.ago.2019 às 20h00


Um chip pendurado na orelha do boi permitirá que pecuaristas ofereçam o animal em garantia ao banco para a contratação de empréstimos rurais.

A modalidade, amplamente usada para financiar casas e automóveis, é conhecida por alienação fiduciária. No campo, poderá ser uma opção para produtores rurais obterem crédito sem a necessidade de alienar a fazenda inteira.

Em parceria, Santander e Bosch estudam alternativa para melhorar os processos de garantia na concessão de crédito por meio de sistema de monitoramento do gado. O projeto está em fase piloto. Não há previsão de lançamento.
Quatro bois passando por uma porteira, em chão de terra
Chip em orelha do boi faz parte do sistema de monitoramento que será usado em empréstimos - Divulgação Bosch
Atualmente, as taxas praticadas no setor rural, divulgadas pelo Banco Central, são de 9,1% no crédito livre para pessoa jurídica e 6,5% no crédito direcionado. Para pessoa física, os juros são de 10,1% e 6,6%, respectivamente.

Segundo o Santander, as taxas não serão reduzidas com a nova garantia, mas a iniciativa atende demanda que vinha sendo feita por pecuaristas. 

Alguns, de acordo com o banco, já tinham o bem alienado e não conseguiam acessar novos empréstimos.

“O produtor que busca hoje uma linha de crédito com juros menores tem de dar como garantia sua fazenda e, muitas vezes, tudo o que tem dentro dela”, disse Thiago Bernardino, economista agrícola e pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

A pecuária, diz, é uma atividade com retorno financeiro a médio e longo prazo. No entanto, o produtor continua investindo capital para custear novos animais, cuidar do gado, garantir a qualidade da pastagem e recorrer ao confinamento em épocas de seca.

“O crédito nesse setor costuma ter o papel de ajudar o pecuarista até o momento da comercialização”, disse.

O sistema de monitoramento do projeto, na opinião do pesquisador, diminui riscos para pecuaristas e instituições financeiras.

O banco, disse ele, mantém o controle da garantia enquanto o produtor usa a tecnologia para acompanhar a evolução dos animais.

Paulo Rocca, vice-presidente da Bosch no Brasil, afirmou que o mecanismo desenvolvido em 2017 pela empresa viabiliza nova forma de emprestar dinheiro.
Antes de pedir o crédito, o pecuarista precisará contratar o sistema da Bosch, que tem custo. 
A ferramenta inclui balanças de pesagem fixas e móveis, etiquetas eletrônicas de identificação para os animais e um sistema de software para rastreá-los.

No projeto, o pecuarista poderá escolher entre duas modalidades para contratar o empréstimo. O primeiro modelo, disse Rocca, oferecerá recursos para monitorar o rebanho.
“Com o segundo módulo, o produtor também poderá acompanhar a curva de crescimento do gado e comparar o efeito de troca de alimentos entre animais da fazenda”, afirmou Rocca.

“Estamos fazendo adaptações no dispositivo porque agora o boi será uma garantia e precisará ser monitorado o tempo todo”, disse. 

O sistema, segundo ele, está sendo aprimorado para lidar com riscos e adversidades.

Situações como a perda de conexão com a rede de monitoramento e o desaparecimento de animais estão sendo aplicadas aos algoritmos do software. As experiências são colhidas em testes do projeto com pecuaristas.

“A responsabilidade dos riscos será analisada caso a caso na parceria. Mas, se apenas um animal morrer, por exemplo, é provável que o custo de sua reposição seja do proprietário”, afirmou Rocca.

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