O holocausto brasileiro
"As pessoas vão morrendo aos poucos nas filas de hospitais sem remédios; a floresta amazônica, derrubada pelo exército de moto-serras, arde em chamas para dar lugar a pastos; os empregos e os direitos trabalhistas são dizimados; a educação pública agoniza junto com a aposentadoria dos idosos", escreve Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, em referência ao governo Jair Bolsonaro
“O Brasil está sob uma tirania com aparência de democracia” (Jurista Pedro Serrano, em entrevista à TV 247).
Sim, ainda não temos campos de concentração, nem câmeras de gás.
Mas as pessoas vão morrendo aos poucos nas filas de hospitais sem remédios; a floresta amazônica, derrubada pelo exército de moto-serras, arde em chamas para dar lugar a pastos; os empregos e os direitos trabalhistas são dizimados; a educação pública agoniza junto com a aposentadoria dos idosos.
Como já nos faltam palavras, só mesmo recorrendo ao “pai dos burros”.
No Dicionário Informal, a palavra que mais se aproxima do atual estágio da degradação civilizatória do país é Holocausto, a denominação dada ao extermínio de milhões judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Entre os 15 significados populares da palavra, estão bagunça, confusão, desastre, sacrifício, castigo, expiação.
Que melhor definição poderíamos encontrar para o que estamos vivendo no Brasil de 2019, governado por um boçal aprendiz de ditador e seus fanáticos seguidores?
Entre os antônimos de Holocausto, encontrei as palavras organizado, arrumado, vida _ ou seja, tudo o que nos faz falta hoje.
Na semana em que o capitão presidente condecorou o coronel torturador-mor Brilhante Ustra com o título de “herói nacional”, ameaçou jornalistas e deu uma declaração escatológica sobre a preservação do meio ambiente, fomos informados de que o desmatamento na Amazônia aumentou 277,9% em julho de deste ano, em comparação com o mesmo mês de 2018, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
E o que fez o governo diante desta catástrofe ambiental? Demitiu o presidente do Inpe, o físico Ricardo Galvão, e colocou no posto um militar da Aeronáutica.
Na mesma edição da Folha, em reportagem de Fábio Zanini e Flávia Faria, ficamos sabendo que a violência policial disparou em São Paulo e no Rio.
“Os números de pessoas mortas por policiais militares em serviço no Estado de São Paulo cresceu 11,5% no primeiro semestre deste ano, comparado com o mesmo período do ano passado. No Rio, até junho, a polícia foi responsável por 29% das mortes violentas no Estado, um recorde”.
Foram 426 pessoas mortas por policiais em São Paulo e 881 no Rio, de janeiro a julho.
Assim como o inominável presidente, os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio, Wilson Witzel, liberaram suas polícias para atirar primeiro e perguntar depois.
Morte, vingança e destruição são as marcas desses governos eleitos em 2018 sob a bandeira da “nova política”.
Não por acaso, a imprensa, a OAB e as instituições do Estado, como o Ibama e o Inpe, responsáveis pela defesa do meio ambiente, e a educação pública são os principais alvos da nova ordem unida, que desafia a Constituição e o Estado de Direito, para implantar um regime de força no país.
Para obrar seu intento, o capitão conta com 147 generais na ativa e nada menos de 5.290 na reserva, segundo a coluna de Lúcio Vaz, na Gazeta do Povo, provavelmente o maior batalhão de generais de pijama do mundo.
Eles custam ao país R$ 1,7 bilhão por ano e ficaram fora da reforma da Previdência. Muitos deles agora dobraram seus proventos porque foram requisitados pelo capitão para cargos no governo.
E ainda dizem que “as instituições estão funcionando normalmente”.
A prosseguir assim, ainda viraremos uma imensa Siripinas, o casamento incestuoso de Síria com Filipinas, deixando a Venezuela no chinelo.
Bom final de semana a todos.
Vida que segue.
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