Sete conservadores nada parecidos com supremacistas brancos. Nada

Homem usa um boné “MAGA” durante o Western Conservative Summit, em Denver, 
em 12 de julho.

Foto: Denver Post/Getty Images

Homem usa um boné “MAGA” durante o Western Conservative Summit, em Denver, em 12 de julho.

Sete conservadores nada parecidos com supremacistas brancos. Nada


10 de Agosto de 2019, 0h03

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Na esteira do massacre de El Paso, o famoso comentarista Ben Shapiro – conhecido como o filósofo dos jovens conservadores” – usou o Twitter para repreender aqueles que ousam fazer qualquer tipo de ligação entre o presidente Donald Trump, o Partido Republicano e os conservadores norte-americanos de um lado e os terroristas nacionalistas brancos do outro.
Então agora temos dois colunistas do New York Times argumentando que todos os conservadores são basicamente supremacistas brancos violentos, mas um pouco mais sutis. Deixe-me falar isso de um jeito educado: vão se f****.
Ele continuou:
Eu venho lutando contra esses monstros supremacistas brancos há anos. Há dois meses, o FBI prendeu um supremacista branco que ameaçava a mim e à minha família. Eu era o alvo online número um deles em 2016, de acordo com a ADL. Tenho segurança 24 horas por dia por causa deles.
Sua fusão de todos os conservadores com monstros da supremacia branca que desprezam princípios conservadores reais – você sabem, como a aplicabilidade universal e não racial dos princípios da civilização ocidental – é cínica, deliberada e nojenta.
Entendeu? A “fusão” é “cínica, deliberada e nojenta”.
O próprio Shapiro é judeu e tem sido visado por terroristas nacionalistas brancos. Seria, portanto, uma insanidade – para usar uma palavra apreciada por Shapiro – sugerir que ele tem algo em comum com os intolerantes cheios de ódio que estão tentando matá-lo, certo? Seria uma loucura colocar um comentarista que disse que os árabes “gostam de bombardear as coisas e viver em esgoto a céu aberto” e previu que “a próxima guerra racial virá não de brancos racistas, mas de negros racistas e hispânicos” no mesmo saco de nacionalistas e supremacistas brancos. Seria loucura relacionar Shapiro – cujo feed do Twitter foi visitado pelo atirador da mesquita de Quebec 93 vezes no mês que antecedeu o ataque – com terroristas domésticos.
Tô errado?
Aqui estão outros seis conservadores que nada têm a ver com o nacionalismo branco. Nada, nadica, niente.
O fato de que o apresentador de um dos programas de maior audiência da TV a cabo tenha entrado ao vivo na noite de segunda-feira, após os assassinatos de El Paso, para dispensar preocupações sobre o nacionalismo branco como sendo uma “teoria da conspiração” e uma “farsa”, não faz dele um nacionalista branco. Nem o fato de ele ter argumentado que os imigrantes estão tornando os Estados Unidos “mais pobres e mais sujos”, acusado os democratas de pressionar pela “substituição demográfica” através de uma “inundação de ilegais”, e se referido a uma “invasão” da Europa por parte de refugiados que estão “modificando profundamente a demografia” do continente.
Nem o fato de que os neonazistas são fãs do seu programa porque “ele está falando sobre os pontos levantados pelos nacionalistas brancos melhor do que eles próprios e eles estão tentando conseguir algumas ideias sobre como promovê-los”.
É tudo uma “farsa”, lembra?

Donald J. Trump

O presidente dos Estados Unidos declarou que “nossa nação deve condenar o racismo, o fanatismo e a supremacia branca” em um discurso na segunda-feira. Então, como ele pode ser um nacionalista ou supremacista branco? Que evidência há de que o atirador de El Paso tem algo em comum com Trump (além dos fatos de que tanto ele quanto o presidente denunciaram uma “invasão” de imigrantes, de que ambos acusaram o Partido Democrata de “traição”, de que ambos se referiram à mídia como “fake news”; e ambos aprovaram os gritos de “mande-a de volta”)?
Que prova existe que o terrorista de Christchurch, na Nova Zelândia, se inspirou no presidente dos EUA (além de sua descrição de Trump como “um símbolo de identidade branca renovada”), ou que neonazistas aprovam suas políticas (além do fundador do site neonazista Stormfront dizer que “Trump está nos libertando”)?
Lembre-se: Trump é “a pessoa menos racista do mundo”.

Stephen Miller

Stephen Miller, assessor sênior do presidente dos Estados Unidos, é judeu. Então, como ele pode ser um nacionalista branco? O fato de que seu próprio tio e rabino o rejeitou por conta de suas opiniões linha-dura sobre imigração não deveria nos incomodar. O fato dele ter sido amigo do líder neonazista Richard Spencer na faculdade ou de Spencer tê-lo elogiado como “extremamente competente” não deveria nos preocupar. O fato de que ele foi um dos arquitetos da proibição à entrada de muçulmanos do governo Trump e das políticas de redução de admissões de refugiadoscortando a imigração legal pela metade e separando as crianças de seus pais na fronteira… não significa que ele tenha um problema com pessoas pardas.
Porque você pensaria isso?

Laura Ingraham

A apresentadora da Fox News, Laura Ingraham, disse a seus espectadores que os democratas “querem substituir você, os eleitores americanos, por cidadãos recém-anistiados e um número cada vez maior de migrantes em cadeia”. Ela disse ao vice-governador texano, Dan Patrick, no início deste ano, que o estado dele foi “completamente inundado por essa invasão ilegal” e que “chamar isso qualquer coisa menos do que uma invasão é simplesmente não ser honesto com as pessoas”.
Substituir? Invasão? Por que isso faria você pensar que ela é uma nacionalista branca?
Ah, e o fato de que Ingraham foi flagrada fazendo o que parece uma saudação nazista na Convenção Nacional Republicana em 2016 é pura coincidência.

Candace Owens

Como pode uma conservadora negra estar ligado ao nacionalismo branco? Não é como se ela tenha sido elogiada por um terrorista nacionalista branco (bem, mais ou menos) ou use uma linguagem que pareça semelhante ao conteúdo do manifesto de um terrorista nacionalista branco (bem, talvez).
Candace Owens, na fronteira sul, diz que “querem importar criminosos” e uma “nova classe de eleitores vítimas”
Owens, na verdade, quer desconectar o nacionalismo (bom) do nacionalismo branco (ruim). “Se Hitler apenas quisesse fazer a Alemanha ótima e que as coisas ficassem bem… tudo bem”, ela disse, depois de ter sido questionada sobre a palavra “nacionalismo” em um evento em Londres. O problema, ela explicou, “é que ele tinha sonhos fora da Alemanha. Ele queria globalizar. Ele queria que todos fossem alemães.”
Tá, tudo bem. Mas, sem contar tudo isso: por que você pensaria que ela está na extrema direita?

John Cornyn

E daí que o veterano senador do Texas gosta de citar Benito Mussolini? Quem entre nós não citou Il Duce?
E daí que Cornyn, desde o massacre de sábado em seu estado natal dedicou mais tweets e retweets a atacar o presidente da bancada hispânica do Congresso do que a atacar o terrorista nacionalista branco que perpetrou os assassinatos?
E daí que, apenas algumas semanas atrás, ele tenha tuitado estatísticas sugerindo que os hispânicos estão “substituindo” os brancos no Texas?
O Texas ganhou quase nove residentes hispânicos para cada residente branco adicional no ano passado
Isso não parece como algo que um nacionalista branco diria, certo?
Qual é, vamos ser justos com republicanos e conservadores. Vamos parar com a fusão. Não vamos imaginar, nem inventar, conexões entre eles e a extrema direita branca nacionalista. É tudo coisa da nossa cabeça.
Tradução: Cássia Zanon

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