Trump choca mercados mundiais com nova ofensiva comercial
AFP / Toshifumi KitamuraPainel mostra índice da Bolsa de Tóquio no fechamento, em 2 de agosto de 2019 na capital japonesa
As novas sanções comerciais contra a China anunciadas por Donald Trump pegaram os mercados globais de surpresa, derretendo as bolsas e fazendo ativos de refúgio, como o iene, dispararem.
Wall Street abriu com queda de 0,5%, seguindo os mercados asiáticos: Tóquio fechou com recuo de 2,1% e Hong Kong de 2,35%.
As principais bolsas europeias, que já tinham sofrido um forte abalo na quinta-feira, se mantiveram em baixa, com queda de mais de 3% nos casos de Frankfurt e Paris.
"Quem quiser qualificar os movimentos nos mercados nas últimas 24 horas estaria no direito de afirmar que acabam de experimentar uma 'chicotada'", resumiu Michael Hewson, analista da CMC Markets.
Com os mercados se recuperando de uma reunião do Federal Reserve (Fed), o anúncio do presidente dos Estados Unidos caiu como um balde de água fria.
Os tuítes do inquilino da Casa Branca anunciando na quinta que seu governo vai impor, a partir de 1 de setembro, "uma pequena tarifa adicional de 10% a 300 bilhões de dólares restantes" de produtos chineses.
Na linha de frente do comércio internacional, as matérias-primas e o setor automotivo eram quem pagava o preço mais alto, como ArcelorMittal, Peugeot e Renault em Paris, Glencore em Londres e BMW em Frankfurt.
"Não é difícil entender até que ponto esta brusca escalada tomou os mercados de surpresa" em um momento no qual esperavam que "a retomadas das negociações desembocaria, no mínimo, em um curto período de cessar-fogo", acrescentou Hewson.
"Isto sugere mais problemas para a economia mundial", opinou o analista Andreas Lipkow.
- Derretimento do 'Bund' alemão -
"Infelizmente, o presidente Trump não segue os esquemas clássicos", apontou Hewson. Seu gesto "também pode lhe render o dólar mais fraco, que ele claramente busca".
A divisa americana perdeu terreno diante do euro desde quinta-feira à noite. Na sexta-feira de manhã, a moeda comum europeia se estabilizava em torno de 1,108 dólar.
"As novas tarifas poderiam ser um contra-golpe de Donald Trump ao Fed", que ele criticou por não reduzir os juros tanto quanto queria, para "criar incerteza e tensões adiocionais, que levaram a reduzir mais seus juros na próxima reunião", indagou Christopher Dembik, diretor de investigação econômica no Saxo Banque.
O banco central americano reduziu seus juros em 0,25 ponto na quarta-feira, mas Trump rapidamente expressou sua decepção.
Investidores mais inquietos recorreram aos ativos considerados de refúgio em caso de turbulência.
O iene tinha forte valorização, a 106,92 por dólar, contra 109,21 na véspera.
No mercado da dívida, o rendimento de títulos do Tesouro americano a 10 anos estava a 1,843% no começo do dia.
Na Europa, o rendimento do Bund, título alemão a 10 anos, que serve como referência para o mercado, continuava a derreter em território negativo, chegando até -0,5%.
China promete represálias após ameaças de Trump de impor novas tarifas
AFP / MANDEL NGAN, NICOLAS ASFOURIO presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (e), e o presidente chinês, Xi Jinping,
A China respondeu rapidamente Donald Trump e ameaçou, nesta sexta-feira, adotar represálias contra o governo dos Estados Unidos, que encerrou uma trégua na guerra comercial entre os países com o anúncio de uma ampliação das tarifas sobre todas as importações chinesas.
O governo chinês advertiu que não terá outra alternativa a não ser adotar medidas de represália se o presidente Donald Trump concretizar sua ameaça, mas não detalhou a natureza das eventuais medidas.
Em um comunicado, o ministério chinês do Comércio acusou Washington de infringir gravemente o "consenso" alcançado por Trump e o presidente chinês Xi Jinping em junho com o objetivo de retomar as negociações.
Em uma série de tuites, o presidente americano, que aspira um segundo mandato, afirmou na quinta-feira que sua administração pretende aplicar a partir de 1 de setembro "uma pequena tarifa adicional de 10% aos 300 bilhões de dólares" de importações chinesas até agora isentas.
O anúncio de Trump provocou um efeito cascata no mercado: as Bolsas europeias operavam em baixa nesta sexta-feira e a cotação do petróleo perdeu quase 8% na quinta-feira em Nova York.
A reação nos mercados asiáticos foi idêntica. A Bolsa de Tóquio registrou queda de mais de 2% e Xangai recuou 1,41%.
"Isto não me preocupa em nada", disse Trump aos jornalistas sobre o impacto nos mercados. "Eu esperava", acrescentou.
- Uma surpresa -
Trump acredita que o presidente chinês Xi Jinping queria um acordo, mas considerou que "não seguia rápido o suficiente".
O presidente americano advertiu que pode aumentar ainda mais as tarifas alfandegárias sobre os produtos chineses, caso Pequim não aceite as exigências americanas. E mencionou a possibilidade de ir "além dos 25%".
Todas as importações procedentes do gigante asiático se veriam assim sobretaxadas caso as futuras tarifas sejam aplicadas.
Donald Trump, no entanto, afirmou que as discussões devem continuar como o previsto, no início de setembro.
Mas o presidente do Conselho Empresarial EUA-China (USCBC), Craig Allen, teme que esta decisão leve os chineses a abandonar as negociações.
Trump justifica sua decisão com o fato de Pequim não ter cumprido, na sua opinião, com dois compromissos muito importantes: a grande compra de produtos agrícolas americanos e o fim das vendas de fentanil, um opiáceo muito potente, protagonista da crise das drogas nos Estados Unidos e do qual a China é um dos principais produtores.
Pequim anunciou na quinta-feira que comprou nas últimas semanas mais produtos agrícolas americanos. E as negociações entre Estados Unidos e China pareciam ter sido retomadas em um clima relativamente tranquilo esta semana em Xangai.
Na quarta-feira, os dois lados mencionaram discussões "produtivas" para tentar acabar com uma guerra comercial iniciada há pouco mais de um ano.
- "Brinca com o fogo" -
Washington já aplica tarifas de 25% sobre mais de 250 bilhões de dólares em produtos chineses. Pequim respondeu com taxas adicionais sobre 110 bilhões de dólares de produtos americanos.
Até agora, o governo americano havia isentado os bens de consumo correntes, de modo que a economia dos Estados Unidos, estimulada pelo consumo das famílias, estava relativamente protegida da guerra comercial.
Mas a possibilidade de que as tarifas afetem todos os bens provocou um choque nos mercados. A ação do grupo Best Buy, uma rede de lojas de produtos eletrônicos, desvalorizou 9% imediatamente após o anúncio.
O presidente "brinca com o fogo", advertiu Gregori Volokhine, analista da Meeschaert Financial Services.
Donald Trump iniciou a guerra tarifária contra a China para conseguir das autoridades chinesas o fim dos subsídios às empresas estatais, das transferências de tecnologia impostas às empresas estrangeiras ou do que chama de "roubos" de propriedade intelectual americana.
E advertiu que ou existe um bom acordo comercial ou não há acordo. Na quinta-feira, ele chegou a afirmar que poderia abrir mão de fazer comércio com a China.
O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, acusou Pequim de "protecionismo" e de "estratégia depredadora".
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