Copa do Mundo
Em reunião do Comitê Organizador da Copa, na Suíça, Blatter comemorou sua aproximação de Dilma - mas há sinais claros de que o país continuará na mira
O paraguaio Nicolas Leoz, o brasileiro Marin e o suíço Blatter: no primeiro encontro (Divulgação)
"A Copa do Mundo é da Fifa. Ela apenas ocorre no Brasil", afirmou o cartola argentino Julio Grondona em entrevista ao 'Estado de S. Paulo'
O pacto entre a Fifa e o Brasil para salvar a Copa do Mundo e evitar um vexame em 2014 continua de pé - mas a trégua entre a entidade e o governo não significa um alívio na pressão exercida sobre o país para que todas as exigências para o Mundial sejam cumpridas. Na manhã desta quarta-feira - mesmo dia em que o Congresso brasileiro promete finalmente votar a Lei Geral da Copa -, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, deu início a uma reunião do Comitê Organizador do Mundial, em Zurique, na Suíça, com elogios e afagos ao país-sede. Nos discursos e entrevistas de outros cartolas, porém, ficou claro o recado: cabe ao Brasil acelerar os preparativos para o evento e dar conta de todas as cobranças da entidade. Outro fato ajudou a reforçar essa impressão. Blatter anunciou que, pela primeira vez na história das Copas, o Comitê Organizador terá a participação de todos os 24 integrantes do Comitê Executivo da Fifa, a cúpula da entidade. No placar final, o Brasil ficou em minoria no comitê - e a Fifa, em ampla vantagem numérica, fechou o cerco para assegurar que tudo corra de acordo com seus desejos.
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"Depois da reconfirmação recebida da presidente Dilma Rousseff e do governo brasileiro quanto ao cumprimento de todas as garantias, estamos confiantes de que, apesar das muitas tarefas que todos ainda têm pela frente, o Brasil organizará uma Copa do Mundo da FIFA excepcional em 2014", disse Blatter, ainda firme no discurso diplomático em relação ao governo, duas semanas depois da visita ao Palácio do Planalto. Blatter também recebeu pela primeira vez os substitutos de Ricardo Teixeira no comando do futebol brasileiro - José Maria Marin, novo presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL), e Marco Polo del Nero, novo integrante do Comitê Executivo da Fifa. O principal anúncio da reunião foi justamente a inclusão dos cartolas do Comitê Executivo, que antes estavam distantes do processo, no Comitê Organizador da Copa na Fifa. E eles já deixaram claro que vão ajudar a pressionar o Brasil. Pior: os recados não vieram de cartolas de federações de outros continentes. O paraguaio Nicolás Leoz, por exemplo, é presidente do Comitê Organizador. E fez questão de ressaltar que só nesta quarta-feira o Brasil entregou detalhes de seu projeto. "Recebemos hoje, pela primeira vez, um boletim aprofundado", afirmou.
'Capricho' - Mas o recado mais inequívoco partiu do argentino Julio Grondona, presidente da federação de seu país e vice-presidente sênior do Comitê Executivo. "A Copa do Mundo é da Fifa. Ela apenas ocorre no Brasil", afirmou o cartola em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. A referência era principalmente à aprovação da Lei Geral da Copa - que, na avaliação da Fifa, está cinco anos atrasada. "O que a Fifa exige não é um capricho", ressaltou o argentino - que sempre foi aliado de Ricardo Texeira -, rebatendo quem critica a entidade por cobrar demais dos países-sede. Também em entrevista ao Estado, outro integrante do comitê, o marroquino Mohamed Raouraoua, disse que a Fifa está "muito preocupada" com a demora na votação da Lei Geral da Copa: "Não parece que o governo está colocando todo seu peso no evento", avaliou. De acordo com informe divulgado pela própria Fifa, integrantes do comitê "reiteraram a necessidade de uma infraestrutura apropriada para garantir uma experiência agradável aos milhares de torcedores que viajarão ao Brasil e aos milhões de pessoas que assistirão às partidas em todo o país". Eles citaram especificamente os aeroportos, o transporte local e a rede hoteleira como prioridades para o Brasil melhorar.
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Ainda assim, o encontro desta quarta não precisa ser visto como sinal negativo pelo Brasil. A pressão já era esperada, e a Fifa se mostrou convencida de que ainda há tempo para solucionar os problemas do evento. Ricardo Trade, diretor-executivo de Operações do Comitê Organizador Local, fez sua apresentação aos cartolas estrangeiros destacando avanços em temas como as reformas nos estádios, a escolha de centros de treinamento pelas seleções estrangeiras e outras obras ligadas à Copa. Marin e Del Nero entraram no jogo com a bola rolando, mas tentaram mostrar confiança em sua capacidade de solucionar as pendências com a Fifa. Ao desembarcar em Zurique na terça, Marin disse que o país cumprirá as exigências da Fifa "no devido tempo", respeitando os interesses tanto da entidade quanto os do país, e se disse "tranquilo". Del Nero, que foi indicado pela Conmebol para assumir o lugar de Teixeira no Comitê Executivo, se ofereceu para mediar os contatos entre o governo e a Fifa, evitando que o relacionamento continue sendo pacífico. Falta saber se Marin e Del Nero serão ouvidos pelos outros integrantes do Comitê da Copa em Zurique - e se terão a mesma força que Ricardo Teixeira nos bastidores da entidade.
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Bebidas alcoólicas nos estádios
Por que é um problema: Conforme o Estatuto do Torcedor, é proibido vender qualquer tipo de bebida alcoólica nos estádios. Incapaz de conter a violência das torcidas e de fiscalizar a venda de álcool a menores de idade, o Brasil teve de adotar uma proibição que não existe nos países desenvolvidos, onde apenas o consumo excessivo é alvo de punições nos grandes eventos esportivos.
Por que a Fifa não quer ceder: Uma dos principais patrocinadoras da Copa do Mundo é a marca de cerveja Budweiser, do grupo belga-brasileiro InBev. Parceira da Fifa nos Mundiais desde 1986, a cerveja americana paga cerca de 25 milhões de dólares por ano para ter sua marca ligada ao torneio. Por contrato, a Budweiser tem de ser a única cerveja à venda nos estádios da Copa.
O que pode acontecer: O Brasil deverá permitir temporariamente a venda de bebidas alcoólicas durante o torneio. Como as partidas da Copa são cercadas por um rigoroso esquema de segurança - e como boa parte do público será formado por torcedores de países em que o consumo de cerveja nos estádios é permitido -, o risco de que essa mudança provoque problemas é pequeno.
COPIADO : http://veja.abril.com.br/
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