Veículo lançador de foguetes Astros, produzido pela brasileira Avibrás
A liberação de R$ 1,5 bilhão
para a compra de armas para as Forças Armadas ajudará a economia do país
em meio à crise mundial, mas não deve acabar com o mal-estar causado no
meio militar pelas indicações dos membros da Comissão da Verdade.
O repasse da verba, anunciado na última
quarta-feira, será feito ao Ministério da Defesa por meio do PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento) Equipamentos. Apenas produtos
fabricados pela indústria brasileira serão adquiridos.
O efeito principal da medida deve
ser o anunciado pelo governo: o estímulo da economia nacional em meio à
crise econômica mundial, segundo Hector Saint-Pierre, professor do
pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (das
universidades Unesp, Unicamp e PUC).
Contudo, segundo ele, também é possível analisar
o repasse como uma tentativa do governo de melhorar sua relação com os
militares.
Em maio, a indicação pelo governo Dilma Rousseff
de membros da Comissão da Verdade - criada para investigar abusos de
direitos humanos durante o regime militar - criou um mal-estar com os
militares, que interpretaram a ação como revanchismo, apesar de a
comissão não ter poder punitivo.
"(A compra de equipamentos) pode melhorar o
relacionamento até certo ponto. Mas isso (a sensação de revanchismo)
acho difícil de reverter", afirmou Saint-Pierre.
Reajuste salarial
"Discutimos o assunto entre os clubes militares e
chegamos ao consenso de que aparentemente não há relação direta (do
repasse de verbas) com a Comissão da Verdade", disse o o vice-almirante
Ricardo Antônio da Veiga Cabral, presidente do Clube Naval do Rio de
Janeiro.
Segundo ele, a aquisição de armamentos em um
contexto de defasagem de equipamentos nas três forças é um "reflexo
positivo". Mas, afirmou, além da renovação do equipamento, militares da
ativa e da reserva querem também um reajuste salarial.
O Ministério da Defesa afirmou que estuda conceder um reajuste e que está em negociação com o Ministério do Planejamento.
Cabral afirmou ainda que, mesmo assim, o
"mal-estar" só deve ser resolvido quando o governo começar a "ouvir os
dois lados", em referência a investigar também as ações praticadas por
guerrilheiros de esquerda.
Descontentes com a composição da Comissão da
Verdade, oficiais reformados do Clube Naval formaram uma "comissão
paralela" para rebater eventuais acusações do grupo oficial.
Veículos e artilharia
Blindado de transporte de tropas Guarani, produzido pela Iveco; Exército comrpará 40 unidades.
O valor de R$ 1,5 bilhão destinado à compra de
armas para os militares é parte de um montante de R$ 6,6 bilhões do
orçamento que estavam contingenciados. Eles devem agora ser liberados
por medida provisória.
Na lista de compras adicionais entraram 19
blindados Guarani (que se somarão aos 21 que já haviam sido encomendados
pelo Exército para 2012).
Fabricados pela Iveco, eles devem custar R$ 342
milhões e substituir os blindados de transporte de tropas Urutu, em
serviço há mais de 30 anos.
Tabém serão compradas 30 unidades do Astros, um
veículo lançador de mísseis de saturação fabricado pela Avibrás que
integrará a artilharia do Exército a um custo de R$ 246 milhões.
Os outros R$ 939 milhões serão destinados à compra de 4.170 caminhões de diversos tipos.
De acordo com Cabral, o investimento em
blindados Guarani para o Exército é tão importante quanto a compra de
caças (ainda em negociação) para a Força Aérea e de submarinos para a
Marinha.
De acordo com dados do instituto Sipri, em 2011 o
Brasil ficou em 10º no ranking de países que mais fizeram gastos
militares. Segundo a entidade, o país empregou US$ 35 bilhões (R$ 70
bilhões) no setor.
Estratégia
Ministério da Defesa deve comprar 30 lançadores de foguete em 2012
O professor Saint-Pierre afirmou equipamentos
como blindados e lançadores de foguetes são armas poderiam ser usadas em
um cenário (hipotético) de guerra contra um país ou uma coalisão de
nações da América Latina.
Contudo, considerando que a relação entre os
países da região é de cooperação, não haveria sentido em comprar armas
desse tipo para dissuadir agressões regionais.
Segundo ele, o ideal é que as nações
sul-americanas trabalhem em uma estratégia conjunta de defesa que cumpra
o papel de dissuadir agressões de potências mundiais.
Atualmente, a estratéria de defesa brasileira
contra agressões externas contempla dois cenários principais: o primeiro
prevê uma luta de exércitos regulares contra uma potência regional. O
segundo é a adoção da estratégia de guerra irregular (guerrilha) em caso
de invasão de uma superpotência.
COPIADO : http://www.bbc.co.uk
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