Refinarias do Brasil: as mais caras do mundo


Refinarias do Brasil: as mais caras do mundo

Jornal do BrasilHumberto Viana Guimarães* 
Antes que algum apressadinho conteste a minha afirmação constante do título do texto, informo que os custos das refinarias em construção no Brasil são aqueles constantes do Plano de Negócios (PN) da Petrobras, apresentado pela senhora presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, em 25/06/12 (www.petrobras.com.br) e do 4º Balanço do PAC 2, Capítulo 5, Eixo Energia, apresentado pela senhora ministra do Planejamento, Miriam Belchior, em 26/07/12 (www.pac.gov.br). Como diria o ex-presidente Lula: “nunca antes neste país” – e em todo o mundo –, se viram refinarias com custos tão altos! Vamos aos números.
1) Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, Comperj (RJ), PAC 2, pág. 29/40 (o PN não indica custo). 1a) Custo total: R$ 22,100 bilhões (bi) = US$ 11,050 bi (1 US$ = R$ 2,00); 1b) Capacidade de refino: 165 mil barris dia (mbd); e 1c) Custo de refino: US$ 66,970 mil por barril refinado (m/br).
2) Refinaria Premium I, Bacabeira, Maranhão, PAC 2, pág. 30/40 (o PN não indica custo). 2a) Custo total: 40,160 bi = US$ 20,080 bi; 2b) Capacidade de refino: 600 mbd; e 2c) Custo de refino: US$ 33,467 m/br.
3) Refinaria do Nordeste, Rnest, Pernambuco. No caso desta refinaria, o seu custo está detalhado tanto no PN como no PAC 2. Deveria ser igual, mas, por incrível que possa parecer, os valores são inexplicavelmente díspares. Assim sendo, analisemos cada preço. 3.1) PN, pág. 6/89. a) Custo total: US$ 20,1 bi (já expressado em dólar); b) Capacidade de refino: 230 mbd; e c) Custo de refino: US$ 87,391 m/br.
3.2) PAC 2, pág. 30/40. a) Custo total: 26,541bi = US$ 13,270 bi; b) Capacidade de refino: 230 mbd; e c) Custo de refino: 57,698 m/br. Observem, prezados leitores, que há uma absurda diferença a mais de US$ 6,829 bilhões entre o valor constante do PN e do PAC 2, somado ao fato da enorme disparidade de preços entre os custos de refino entre as três refinarias.
A título de comparação, a ampliação da refinaria Puerto La Cruz, na Venezuela, que processará 210 mil barris/dia (um pouco menor que a Rnest) de petróleo extrapesado terá um custo de US$ 5 bi, o equivalente a US$ 23,809 m/br.
4) Refinaria Premium II (CE). O PAC 2, pág. 27/40, se refere a esta refinaria como “ação preparatória”, e não consta nenhuma informação sobre data de operação, conclusão e custos da mesma. O PN, pág. 76/89, não deixa dúvida em relação à construção desta e de outras refinarias, ou seja, só serão concluídas a Rnest e o 1º Trem do Comperj, sendo que “a refinaria Premium I, Premium II e o 2º Trem do Comperj são projetos em avaliação (não serão concluídos antes de 2017)”. E acrescenta: “Nenhuma nova refinaria será implantada até que tenhamos confiança de atingir menor Capex e retorno adequado (alinhamento às métricas internacionais”).
Analisemos agora os custos de algumas refinarias no exterior. Cito a matéria Refinaria Abreu e Lima custa três vezes mais que similar (Estadão, 05/08/12), que assim resumiu os custos de refinarias similares: 1) Índia, US$ 13 m/br; 2) China, US$ 14 m/br; c) Coreia do Sul, US$ 18 m/br; Arábia Saudita, US$ 25 m/br; e a mais barata de todas, a refinaria indiana Jamnagar (propriedade do grupo privado Reliance Industries), US$ 10 m/br.
Resumo da história: considerando o valor mais conservador – US$ 25 m/br da Arábia Saudita – os custos totais das nossas refinarias deveriam ser: 1) Comperj (RJ): US$ 4,125 bi; 2) Premium I (MA): US$ 15,000 bi; e 3) Rnest: US$ 5,750 bi. Comparando os custos das refinarias constantes do PN e do PAC 2 com o valor máximo praticado a nível internacional, concluiremos que os custos das nossas refinarias estão muito acima dos parâmetros internacionais. O Comperj, + 167,88%; a Premium I, + 33,87%; e a Renest: + 249,57%.
Segundo a matéria do Estadão, “a Petrobras admite falha na aprovação dos projetos, mas é categórica em dizer, por meio de nota, que ‘não houve erros nos cálculos’ e ‘as estimativas são elaboradas observando preços praticados no mercado’”. Preços de mercado? Por acaso, em algum lugar do mundo existe alguma refinaria com esse absurdo custo de US$ 87.391por barril refinado? Com estes custos estratosféricos das refinarias em construção, não há caixa de empresa que aguente.
O que tem a dizer o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU) em relação a estes custos? Afinal, as refinarias pertencem à Petrobras, que tem o governo federal como seu principal controlador, além de a empresa ter ações negociadas em bolsas, ou seja, é o meu dinheiro e dos demais acionistas minoritários que está pagando os custos destas obras, e temos todo o direito de saber onde e como o nosso dinheiro está sendo utilizado.

*Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em estruturas de concreto, geração de energia, saneamento e materiais explosivos. Copiado : http://www.jb.com.br/

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