Rússia altera doutrina militar em resposta ao reforço da NATO
Moscovo diz que a Aliança Atlântica "vai continuar a
figurar entre as maiores ameaças militares à Federação Russa". Vladimir
Putin terá dito que "podia tomar Kiev em duas semanas".
Rússia altera doutrina militar em resposta ao reforço da NATO
Moscovo diz que a Aliança Atlântica "vai continuar a figurar entre
as maiores ameaças militares à Federação Russa". Vladimir Putin terá
dito que "podia tomar Kiev em duas semanas".
As relações entre a NATO e a Rússia já estavam
reduzidas a pouco mais do que uma formalidade, mas o período de maior
afastamento das últimas duas décadas atingiu agora um patamar ainda mais
preocupante, com Moscovo a anunciar que vai rever a sua estratégia
militar depois de a Aliança Atlântica ter revelado que vai criar uma
força de reacção rápida na Europa de Leste.
O anúncio foi feito nesta terça-feira pelo
vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Mikhail Popov, numa
entrevista à agência noticiosa RIA Novosti.
Mais do que detalhar
os pormenores das emendas que as autoridades russas vão fazer à sua
actual doutrina militar, a ideia foi responder à nova estratégia da
NATO, anunciada na segunda-feira pelo secretário-geral, Anders Fogh
Rasmussen."Não tenho dúvidas de que a ocupação das nossas fronteiras pela infra-estrutura militar da NATO, através da expansão da Aliança, vai continuar a figurar entre as maiores ameaças militares à Federação Russa", afirmou Mikhail Popov.
Entre as mudanças que Moscovo está a preparar para enfrentar o que considera ser a ameaça da NATO está "a independência da Rússia na produção de armas, equipamento e outro tipo de material militar", escreve a agência RIA Novosti.
"A vida mostra-nos que a fiabilidade dos nossos parceiros do Ocidente é uma coisa temporária, e está, infelizmente, intimamente relacionada com a situação política", acusou o responsável russo.
O corte de relações entre a NATO e a Rússia ainda não é total porque o Conselho NATO-Rússia continua a existir, com conversações entre embaixadores, mas a Aliança Atlântica suspendeu a colaboração com Moscovo em Abril, após a anexação da península da Crimeia.
Um indicador da rápida degradação das relações é a conta no Twitter do Conselho NATO-Rússia. As mensagens mais recentes são de 28 de Janeiro, e mostram fotografias de Anders Fogh Rasmussen a cumprimentar efusivamente o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. Numa delas, escrita pelo secretário-geral da NATO, lê-se: "Conversações construtivas com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia Lavrov. Discutimos todos os assuntos relacionados com a colaboração no Conselho NATO-Rússia."
Um mês depois começava a crise na península da Crimeia, que viria a ser anexada pela Rússia, e as relações entre as duas partes começaram a atravessar o período de maior afastamento das últimas duas décadas – deixando-as mais próximas do período da Guerra Fria.
A actual doutrina militar russa, aprovada em 2010 pelo então Presidente, Dmitri Medvedev, é descrita como "estritamente defensiva", mas reforça a ideia de que a NATO constitui uma ameaça – uma notícia da agência RIA Novosti, de Maio de 2010, avançava que "os ajustamentos à doutrina militar do país foram motivados por ameaças e desafios reais enfrentados pela Rússia".
Ao revelar a intenção de actualizar novamente a doutrina militar russa até ao fim do ano, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia acusou vários países do Ocidente de estarem a ir contra o que defendiam há quatro anos.
"Em 2010, este ponto da doutrina militar motivou uma forte reacção. Vários responsáveis de primeira linha acusaram os líderes do nosso país de terem um pensamento ultrapassado, alegando que a NATO não é um inimigo da Rússia. Garantiram-nos que tinham boas intenções, mas as movimentações nos últimos anos sugerem uma coisa completamente diferente", disse Mikhail Popov.
Para agravar ainda mais o clima de tensão, o jornal italiano La Reppublica conta que o Presidente russo, Vladimir Putin, terá dito que tomaria Kiev em apenas duas semanas, se fosse esse o seu desejo. Segundo o jornal italiano, a afirmação foi proferida durante uma conversa telefónica com o ainda presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que terá depois transmitido a declaração de Putin aos líderes europeus durante a cimeira do Conselho Europeu, no sábado.
O jornal italiano diz que o Presidente da Rússia respondia a uma questão de Durão Barroso sobre a presença de tropas russas no Leste da Ucrânia: "O problema não é esse, mas se eu quisesse, tomaria Kiev em duas semanas", terá respondido Putin.
Um dos conselheiros do Kremlin, Iuri Ushakov, disse que as palavras de Vladimir Putin foram citadas fora de contexto, e aproveitou para criticar Durão Barroso. "Isso não se faz e não está de acordo com a prática da diplomacia, se é que ele disse isso [aos líderes europeus]. Não é apropriado para uma figura política séria", disse Ushakov.
copiado http://www.publico.pt/
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