Operação Lava jato » Costa: “O que acontecia na Petrobras, acontece no Brasil inteiro” María Martín São Paulo O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirma que se arrepende de ter aceitado o cargo por indicação política. O também ex-diretor Cerveró nega conhecer esquema de propinas e desvio Operação Lava Jato ‘ressuscita’ os quase extintos doleiros As histórias de ‘Greta Garbo’, o herdeiro e o cardiopata. Operação Lava Jato começou com estranho presente de luxo “Temos os que pagaram. Faltam os que receberam”


 
-Todas as esferas do menor ao maior escalão, eu creio, que exista vantagens pessoais, apenas se houve investigação in loco periodicamente, acha.
Dulce.


 

Costa: “O que acontecia na Petrobras, acontece no Brasil inteiro”

María Martín São Paulo
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirma que se arrepende de ter aceitado o cargo por indicação política. O também ex-diretor Cerveró nega conhecer esquema de propinas e desvio
Paulo Roberto Costa fala durante a CPI da Petrobras. / EVARISTO SA (AFP)

“O que acontecia na Petrobras, acontece no Brasil inteiro”

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirma que se arrepende de ter aceitado o cargo


Paulo Roberto Costa no Congresso por segunda vez. / Agência Brasil

Paulo Roberto Costa, delator do maior escândalo de corrupção do país, compareceu por segunda vez à Comissão Parlamentar de Investigação mista (CPMI) da Petrobras prometendo silêncio, mas acabou pedindo a palavra. Costa afirmou que nunca precisou de apoio político em nenhum dos cargos que ocupou na Petrobras desde 1977, mas ponderou que, desde o Governo Sarney, os altos cargos demandam apoio político. “Infelizmente aceitei uma indicação para ser diretor de abastecimento”, afirmou Costa, nomeado a pedido do Partido Progressista (PP). “Aceitei esse cargo e me deixou aqui onde estou hoje. Estou arrependido e gostaria de não ter feito isso”, disse.
No desabafo, Costa afirmou que assumiu o papel de delator porque sua família lhe questionou: “Por que só você vai pagar por isto?”. “Passei seis meses na carceragem de Curitiba, até que, por ter uma alma mais pura, resolvi fazer a delação de tudo o que acontecia na Petrobras. E não só lá: isso acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos e nas hidrelétricas. É só pesquisar”, disse Costa no início de sua intervenção.
O engenheiro mecânico e ex-diretor de Abastecimento da petroleira foi convocado para uma acareação com o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, a quem teria apontado, durante um dos seus depoimentos prestados em acordo de delação premiada, como beneficiário do esquema com o qual foram desviados 10 bilhões de reais, segundo os cálculos das autoridades judiciais.
Cerveró negou conhecer qualquer esquema de desvio de dinheiro e propinas na petroleira e, portanto, ser beneficiário deles. “Eu desconheço, portanto não existia”, reiterou. O ex-diretor da área Internacional manteve sua defesa de que a compra da refinaria Pasadena nos Estados Unidos foi um "bom negócio" que se "encaixava perfeitamente dentro dos requisitos estratégicos da companhia" e nunca serviu de plataforma para um suposto esquema de propinas.
Diante de perguntas mais especificas sobre o conteúdo dos seus depoimentos no âmbito da operação Lava Jato, Costa repetiu que reafirmava cada uma das suas palavras ditas diante as autoridades judiciais e policiais, mas que não podia entrar em detalhes, por conta do acordo. Assim, à pergunta do solicitante da acareação Enio Bacci (PDT- RS) sobre quantos políticos estariam envolvidos no suposto esquema de propinas Costa respondeu: "Me deixa em uma situação constrangedora, mas digamos que algumas dezenas".
Beneficiário de uma delação premiada que reduzirá sua pena, Costa já prestou, desde agosto, 80 depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público. As delações não são públicas, mas informações vazadas à imprensa registram, entre outras acusações, que 3% do valor dos contratos com empreiteiras eram repassados como propinas a partidos políticos. Outra informação que consta dos depoimentos é que, em 2009, a Casa Civil, então comandada pela hoje presidenta Dilma Rousseff, teve conhecimento por e-mail das supostas irregularidades em algumas obras da Petrobras. Na audiência desta terça-feira, Costa confirmou que enviou o e-mail a pedido da própria Casa Civil, ao contrário da informação publicada pela imprensa, que dava conta de que a mensagem seria indício de insubordinação, já que desconsiderava hierarquias.

Operação Lava Jato começou com estranho presente de luxo

Pedro Cifuentes Curitiba
Policiais revelam que a investigação da Petrobras surgiu do monitoramento de três especialistas em lavagem de dinheiro
  • Assim é Sergio Moro, o juiz que sacode o Brasil

    Investigação na Petrobras começou com um estranho presente de luxo

    Operação Lava Jato surgiu de monitoramento de especialistas em lavagem de dinheiro

    No início, agentes envolvidos nem suspeitavam que apuração levaria ao grande escândalo


    Alberto Youssef chega para depoimento à Justiça em Curitiba, em outubro. / Denis Ferreira Netto (Estadão Conteúdo)
    Na sede regional da Polícia Federal em Curitiba, onde trabalham os agentes que deram início à Operação Lava Jato, o ambiente é de prudente satisfação. “Jamais imaginamos um caso tão grande… Nem em sonho”, admite Marcio Adriano Anselmo, o delegado que iniciou a maior investigação por corrupção na história brasileira. Anselmo tampouco imaginaria que uma modesta investigação contra três especialistas em lavagem de dinheiro, em Brasília e São Paulo, acabaria por conduzi-lo a Londrina (sua cidade natal, a 400 quilômetros de Curitiba), feudo do contrabandista Alberto Youssef, um velho conhecido da PF, cujas confissões acabariam detonando um escândalo de ressonância mundial.
    Há 16 meses, em julho de 2013, Anselmo havia voltado seu foco para Carlos Habib Chater, um doleiro que havia anos operava em Brasília. Chater havia sido recentemente vinculado a um polêmico ex-deputado de Londrina, José Janene (PP-PR), morto em 2010. Mantinha uma rede de lavagem de dinheiro criada por seu pai (preso, como ele, há dois meses), e a PF sabia que fazia contatos em São Paulo com outro doleiro, Raúl Henrique Srour, que havia sido condenado em 2005 na chamada Operação Banestado, mas já terminara de cumprir pena. A partir de agosto, quando a Justiça autorizou escutas telefônicas, descobriu-se também que Chater trocava continuamente mensagens telefônicas sobre suas atividades com um desconhecido. “Era uma operação de pequena para média”, diz Anselmo. “Não tínhamos nem ideia do que iríamos encontrar.”
    A equipe de Anselmo era formada por mais dois agentes. A investigação prosseguiu de forma discreta durante várias semanas. Depois de analisar milhares de operações bancárias, os três policiais vislumbraram um esquema com empresas fantasmas e transferências injustificadas. Avançaram lentamente, até que no começo de outubro o caso teve seu primeiro ponto de inflexão: a pessoa que tantas mensagens trocava com Charter via smartphone era Alberto Youssef, o mesmo especialista em lavagem de dinheiro que, num acordo de colaboração em 2004, havia se livrado de uma pena muito mais longa na Operação Banestado – por coincidência, o primeiro caso financeiro importante julgado pelo jovem juiz Sergio Moro, da 13ª. Vara Criminal Federal de Curitiba.
    “Não podíamos acreditar que fosse Youssef”, conta Anselmo. “Foi um momento inesquecível.” Além de levar o caso para Curitiba, a descoberta significava que o doleiro e contrabandista havia violado seu acordo de delação premiada; estava novamente na ativa. Continuaria em operação o esquema supostamente desbaratado anos antes? A palavra Petrobras, até então, não aparecia nem remotamente no caso. Mas o reaparecimento de Youssef aproximava os policiais de outro foco importante da investigação: a escorregadia figura de Nelma Kodama, “a Dama do Mercado”, influente doleira paulista que, além do mais, era amante de Youssef. Kodama havia se safado do caso Banestado porque “foi a única pessoa a quem Youssef não delatou”, segundo os policiais, “seja por amor ou para que continuasse o negócio”. “Ela sempre havia movimentado grandes quantias de dinheiro, somas muito elevadas vinculadas a grandes comerciantes do setor de importação e exportação. Mas até aquele momento havia conseguido se livrar. […] Era uma pessoa muito complicada, considerava-se inalcançável, mostrava muita confiança em si mesma.”
    “Continuávamos sendo uma equipe muito pequena, mas mesmo assim continuamos puxando o fio”, recorda outro agente. Mas faltavam as provas… “Era possível que se tornasse um caso maior do que o esperado, mas nem isso.” A palavra ‘Petrobras’ só apareceu pela primeira vez nos autos da Operação Lava-Jato em janeiro deste ano. Foi, como tantas vezes, por um descuido: especificamente um presente. Os agentes comprovaram que Youssef acabava de comprar um carro de luxo (300.000 reais) em nome de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da empresa petroleira de capital misto. “Achamos isso muito estranho”, afirma um agente. “O salário de um diretor da Petrobras pode superar os 100.000 reais (40.000 dólares) mensais.” Com um meio-sorriso, Anselmo relembra que “foi aí que a temperatura começou a subir de verdade”. Os policiais se lembraram de que o falecido ex-deputado Janene, sócio de Chater, havia sido o responsável por colocar Paulo Roberto Costa à frente da Diretoria de Abastecimento da empresa, em 2004. E ampliaram o campo de atuação: “Começamos a investigar outras pessoas e, pela primeira vez, compreendemos que podia se tratar de um caso histórico”.
    O carro dado por Youssef a Costa era justificado como sendo o pagamento por supostos “serviços de consultoria”. Havia milhares de notas fiscais por “serviços de consultoria”. Poucas semanas depois, veio à tona uma gigantesca máquina de lavagem de dinheiro. Os suspeitos transferiam somas elevadas ao estrangeiro, usando uma rede com mais de cem empresas de fachada e centenas de contas bancárias que remetiam milhões de dólares para a China e Hong Kong. As companhias, pura cosmética financeira, simulavam importações e exportações com o único propósito de receber e mandar dinheiro, sem comércio algum de produtos ou serviços reais.
    As autoridades judiciais calculam que a quantia desviada chega a 10 bilhões de reais. O dinheiro provinha principalmente do tráfico de drogas, do contrabando de diamantes e do desvio de recursos públicos (nesse caso, como seria posteriormente revelado, em obras encomendadas pela Petrobras a grandes empreiteiras, com orçamentos de bilhões de reais, dos quais eram sistematicamente desviados pelo menos 3% em subornos). Posteriormente, e independentemente da origem do dinheiro lavado, os valores eram reintroduzidos no sistema mediante negócios de postos de gasolina, lavanderias e hotéis.
    O chamado Petrolão veio a público em 17 de março, quando a Polícia Federal deteve 24 pessoas (entre eles os doleiros mencionados nesta reportagem) por evasão de divisas em seis Estados. A imprensa brasileira ainda não citava o nome da Petrobras no noticiário. Ele só apareceria três dias depois, quando Paulo Roberto Costa foi detido, após a comprovação de que estava destruindo documentos relativos à sua longa relação com Youssef. Ambos chegaram a um acordo de colaboração com a Justiça e se tornaram delatores em troca de uma redução da pena. “Aí é que o caso explodiu”, admite Anselmo. Os três policiais passaram a ser quinze (cinco delegados e dez agentes). A investigação ganhou proporções gigantescas, com suspeitas crescentes sobre a implicação de altos executivos de empresas e políticos que eram citados nos depoimentos dos arrependidos.
    Youssef, Costa e um diretor da empresa de engenharia Toyo-Setal, Julio Camargo, revelaram a existência de um clube de 13 empreiteiras que dividiam entre si os contratos com a Petrobras. As revelações indicavam que parte do dinheiro pago em subornos durante 10 ou 15 anos se destinava aos cofres de vários partidos políticos. Um duro golpe no establishment empresarial, político (e possivelmente bancário) do Brasil: as construtoras investigadas são responsáveis por oito das dez maiores obras do país. O presidente do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, afirmou com preocupação que o caso tem potencial para parar o Brasil, caso as nove maiores empresas sob suspeita sejam finalmente declaradas inidôneas para assinar contratos com o setor público.
    Há pouco mais de duas semanas ocorreu o segundo momento que o delegado Anselmo e sua equipe (e também muitos brasileiros) jamais irão esquecer: a detenção, na sexta-feira, dia 14, de 21 diretores de nove grandes empresas que juntas somavam contratos no valor de 59 bilhões de reais com a maior empresa da América Latina. Batizaram a operação de Juízo Final. O sábado, dia 15, como lembraram com orgulho na sede da PF em Curitiba, era o Dia da República. E no domingo, dia 16, o aniversário da Polícia Federal. Nesse mesmo dia, 16 meses depois de o delegado Anselmo voltar seu foco para a casa de câmbio que Carlos Chater mantinha num posto de gasolina em Brasília, a presidenta Dilma Rousseff declarou, na Austrália, que a Operação Lava-Jato “poderia mudar o Brasil para sempre”.

“Temos os que pagaram. Faltam os que receberam”

P. C. Curitiba
Agentes envolvidos na Operação Lava Jato aguardam o momento em que as investigações chegarão aos políticos
  • Partidos estimam que até 100 políticos sejam pegos na Lava Jato

    “Temos os que pagaram. Faltam os que receberam”

    Agentes da PF aguardam momento em que as investigações atingirão políticos corruptos


    Depois de 16 meses de investigação, o juiz Sergio Moro acumulou informação suficiente para passar à última fase da Operação Lava Jato: a instauração dos processos contra os políticos que acumularam subornos milionários, muito superiores às quantidades-limite estipuladas para as doações legais a partidos políticos. A Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal já receberam a informação do caso e as declarações dos supostos corruptores: é questão de tempo que o surgimento de deputados e senadores (protegidos pelo foro privilegiado) propicie o trânsito parcial da causa a essas instituições radicadas em Brasília. “Temos os que pagaram. Faltam os que receberam”, resume um agente que participa da investigação.
    As ramificações do caso Petrobras já chegaram aos Estados Unidos, onde a petrolífera estatal brasileira também está sendo investigada, e à Suíça, para onde viajaram nesta semana investigadores do caso para auxiliar no rastreamento de ativos ilegais supostamente enviados por Fernando Soares, o ‘Baiano’, citado pelos delatores como operador do PMDB nos subornos da Petrobras. A inquietação entre os partidos políticos já se tornou pública. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou no sábado que os políticos cuja implicação for comprovada serão expulsos da formação. “Temos o compromisso histórico de combater implacavelmente a corrupção”, publicou Falcão na página oficial do partido na internet.
    A Comissão Parlamentar que investiga as irregularidades da empresa estatal (criticada por sua lentidão) assistirá nesta terça-feira à aguardada acareação entre o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, o delator premiado Paulo Roberto Costa, e o ex-diretor de Negócios Internacionais, Nestor Cerveró, acusado pelo primeiro de receber pagamentos ilegais derivados de contratos da empresa. O juiz Moro, enquanto isso, mantém a prisão preventiva dos principais diretores de empreiteiras detidos (que pela legislação brasileira pode se estender até seis meses), à espera de novas revelações e de que continuem a pingar declarações dos presos confessando sua culpa no âmbito de um acordo de colaboração com a Justiça.
    Quando a Polícia Federal de Curitiba procurava um nome para a Operação Lava Jato, um dos candidatos foi ‘Operação Iceberg’. “Tinha um alcance escandaloso, completamente imprevisto”, comenta uma fonte muito próxima do caso. “Os empreiteiros eram só a superfície da trama”, conclui. “Veremos o que acontecerá agora”.
    COPIADO  http://brasil.elpais.com/brasil

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