Adversários que atualmente mal se cumprimentam, o ex-presidente Lula (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), quem diria, já jogaram no mesmo time. Foi durante a Assembleia Nacional Constituinte iniciada em 1987, quando duas equipes – a dos jornalistas e a dos parlamentares – se enfrentavam todas as terças-feiras, à noite, no Clube do Congresso, em Brasília. Os clássicos tiveram continuidade nos anos seguintes. Fez parte do tipo o deputado Carlos Massa, mais conhecido como Ratinho, apresentador de programas de televisão.
Filiado à época ao PMDB, Aecinho, como era chamado o neto do ex-presidente Tancredo Neves, atuava como meia-esquerda, mas circulava com desenvoltura pelo centro e pela direita. Principal nome do PT e do sindicalismo brasileiro, Lula era o mais animado da turma, dono da lateral-esquerda. Sempre brincalhão, mais falava que jogava.
A foto em preto e branco acima é uma relíquia do jornalista Lúcio Vaz, hoje editor do Congresso em Foco. Zagueiro do time da imprensa, Lúcio era chamado de “Hugo de León”, brincadeira em alusão ao capitão barbudo do Uruguai que fez história no Brasil com a camisa do Grêmio. “Um dia, no campo da casa do deputado Ézio Ferreira, do Amazonas, tive que dar uma entrada mais firme no cara. Ele levantou, jogou a bola em mim e avançou, pronto pra briga. Mas a turma do ‘deixa disso’ entrou em ação”, conta Lúcio.
O time dos constituintes ignorava as divergências partidárias e ideológicas. Reunia outros petistas à época como Luiz Gushiken, Paulo Delgado e Eduardo Jorge e peemedebistas que viriam a fundar o PSDB. Casos, por exemplo, do ex-senador José Richa, pai do atual governador do Paraná, Beto Richa, e do hoje senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) – na época, um dos mais jovens constituintes.
No texto abaixo, Lúcio Vaz relata as características do time:
“Lula e Aécio no mesmo time, quem diria…
Durante a Constituinte de 88, criou-se um hábito que se estenderia por anos: a pelada deputados x jornalistas no Clube do Congresso, às terças-feiras. O Lula era um cabeça de bagre, jogava no nome, mas era o mais animado, como mostra a foto. Para não atrapalhar, deixavam ele na lateral esquerda. Bom de bola era um deputado mineiro, um guri que chamavam de Aecinho (está abaixo do Lula). Também muito jovem era o deputado Cássio Cunha Lima, à esquerda de Lula (na foto). O Ziza Valadares, que jogou no Atlético Mineiro, também era craque. Aparecem ainda na foto o centroavante Maguito Vilela (que eu marcava como zagueiro), o José Richa, o Eduardo Jorge, o Paulo Delgado, o Lysâneas, o Gushiken, o Valmir Campelo, o Erico Pegorado, o Pedro Canedo, o Vitor Buaiz, entre outros. O Richa era centroavante (o Walter da época). Eles levavam enxertos para equilibrar o jogo. Certo dia, levaram o Reinaldo, ex-jogador do Atlético Mineiro. Tive que marcar o cara, com o maior cuidado, porque ele mal conseguia se equilibrar em pé. O Aécio jogava muito. Um dia, no campo da casa do deputado Ézio Ferreira, do Amazonas, tive que dar uma entrada mais firme no cara. Ele levantou, jogou a bola em mim e avançou, pronto pra briga. Mas a turma do “deixa disso” entrou em ação. No final da pelada, ele aproximou-se, abraçou-me e pediu desculpas. ‘Que besteira!’. Comentava. Também pedi desculpas pela entrada e fomos todos jantar. Para registrar, Richa, Lysâneas e Gushiken já nos deixaram.”
O nosso time
O craque era o José Woitechumas, centroavante de velocidade, quase um “fenômeno”. Lúcio Vaz jogava de zagueiro, apesar da altura. Mais para o final da carreira, era chamado de Baresi. Completam o time João Aurélio, Marquinhos, Mota, Weiller Diniz, Henrique Chaves, Sílvio (outro craque), Marcos Lisboa, entre outros craques. O time tinha até madrinha, a Cidinha.
copiado http://congressoemfoco.uol.com.br/
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