Produtores dos EUA pressionam por ampliar veto à carne do Brasil
Alimento tinha abscessos
Alimento tinha abscessos
Carnes no açougue
Grupos dos produtores de carne bovina nos Estados Unidos estão pressionando o governo americano para que a suspensão à importação do Brasil se estenda a todo tipo de carne bovina do país.
O Departamento de Agricultura dos EUA (Usda) anunciou, na quinta-feira (22), que suspenderia a compra de carne "in natura" do país devido a preocupações sobre a qualidade do produto.
Desde março, 11% de toda a carne fresca exportada pelo país foi barrada nos EUA, ante uma taxa média de rejeição de 1% do produto vindo de outras partes do mundo.
A inclusão da carne industrializada brasileira na lista negra americana teria um impacto ainda mais relevante para a indústria nacional.
Os EUA são o maior comprador da carne industrializada do Brasil. Foram US$ 86 milhões de janeiro a maio, ou 44% do total. No caso da carne "in natura", os americanos compraram 2,8% (US$ 49 milhões) e são o nono principal destino, segundo a Abiec (indústria exportadora)
O presidente do Fundo de Ação Legal dos Criadores de Gado (R-CALF USA, na sigla em inglês), Bill Bullard, disse "aplaudir" a decisão do secretário de Agricultura dos EUA, mas pediu que o governo suspenda também a importação de todo tipo de carne bovina do Brasil.
"Instamos o secretário a interromper toda a importação de carne do Brasil até que ele conduza uma investigação minuciosa dos frigoríficos no Brasil e conclua que cada um deles está cumprindo totalmente as leis de segurança alimentar dos EUA."
A Associação dos Criadores de Gado de Montana disse à Folha apoiar a ampliação da medida à toda carne brasileira. "É importante ter padrões fortes de equivalência de segurança alimentar entre os dois países", afirmou o vice-presidente da associação, Errol Rice.
Questionada pela reportagem, a assessoria do Departamento de Agricultura disse que a suspensão da compra de toda a carne bovina brasileira é possível.
"É certamente uma possibilidade, mas ainda estamos em discussão com o governo brasileiro e monitorando a situação de perto", afirmou.
O Brasil é responsável por apenas 2,5% de toda a importação de carne dos EUA.
CARNE REJEITADA
A assessoria do Usda confirmou que a carne rejeitada na inspeção nos EUA continha pedaços de osso, coágulos sanguíneos e gânglios linfáticos. Em um lote, foi detectada a presença de uma bactéria potencialmente nociva à saúde. A informação foi primeiro divulgada pela agência Bloomberg.
Segundo o adido agrícola do Brasil nos EUA, Luiz Caruso, os problemas encontrados pela fiscalização estão relacionados "principalmente à questão do preparo e limpeza da carne". "Então entendemos que são questões mais fáceis de serem resolvidas."
O Ministério da Agricultura brasileiro determinou que seja feita uma auditoria nos 15 frigoríficos que possuem autorização para exportar carne "in natura" aos EUA.
Em mensagem nas redes sociais, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que vai viajar aos EUA, acompanhado de uma equipe, para "fazer as discussões necessárias e restabelecer esse mercado tão importante que o Brasil conquistou nos últimos anos".
Segundo o secretário-executivo da pasta, Eumar Novacki, está programada para a primeira semana de julho uma visita da equipe técnica brasileira aos EUA para debater o tema. Em setembro, autoridades americanas virão ao Brasil, de acordo com ele.
"Os EUA são um grande competidor internacional, uma referência. Demoramos 17 anos para acessar o mercado americano. Quando conseguimos liberação para exportar comemoramos muito, era o atestado da qualidade do sistema brasileiro."
O secretário declarou ainda que será feita uma verificação da qualidade das vacinas, já que os abscessos identificados na carne podem ser consequência de imunizações do gado contra aftosa.
Ele, porém, afirmou que os abscessos não "colocam em risco a saúde pública". "Essa reação à vacina não traz nenhum risco, só causa uma aparência ruim."
Consumo da peça do boi com abscesso divide especialistas
Pierre Duarte/Folhapress | ||
Gado da raça angus em pasto da fazenda Cardinal, na cidade de Mocóca, interior de São Paulo |
- Sua presença em uma parte do animal não significa que toda a carne dele esteja condenada. Porém não há consenso entre os especialistas ouvidos pela reportagem sobre segurança do consumo de peças que o apresentam.Pedro de Felício, veterinário e professor aposentado da Unicamp, afirma que, após a vacinação contra a febre aftosa, o animal pode reagir com uma inflamação na área da aplicação, que dá origem ao abscesso.Partes do animal onde eles se desenvolvem devem ser eliminadas no abate. Os abscessos não tornam o consumo da carne prejudicial à saúde, diz.Por outro lado, Angélica Pereira, professora da FMVZ (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP), afirma que abscessos favorecem a formação de coágulos sanguíneos e proliferação de bactérias nas peças de carne que os possuem.Como consequência, há uma redução do prazo de validade e risco para saúde do consumidor. Se houver contaminação, ele pode ter febre, vômito e diarreia, de acordo com Pereira.Paula Spinha, professora de medicina veterinária da universidade Anhembi Morumbi, pondera que é possível que abscessos não sejam identificados mesmo durante inspeções adequadas."Ele pode estar no interior de um grupo muscular. "Não se retalha toda a carne durante a inspeção."Apesar do aspecto ruim, eles não impedem o consumo do restante da carne, diz. "Eles são encapsulados pelo organismo do animal, e a bactéria não se dissemina."Emílio Salani, vice-presidente do Sindan (que reúne as indústrias produtoras de vacina), nega que a vacina tenha causado o problema. "Temos um sistema de controle rígido de todo o processo. O controle é feito pela indústria e pelo ministério", afirma.A Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne) afirma que está tomando "ações corretivas" para adequar os processos produtivos para retomar as exportações para o mercado dos Estados Unidos.ABSCESSO1. O abscesso é uma reação provocada na carne bovina durante a aplicação da vacina contra a febre aftosa2. O organismo do animal reage com uma irritação que pode ter aspecto purulento.3. A parte de carne danificada é retirada do animal no momento do abate ou durante a desossa4. A carne descartada pode pesar em torno de 600 gramas por boi5. A partir da década de 90, o setor fez campanhas para ensinar o pecuarista que o melhor local para aplicar a vacina é o pescoço do animal, uma região menos valorizada da carne, o que reduz o prejuízo do descarte6. O descarte costuma ser inspecionado, mas pode falhar. O problema é considerado técnico7. O abcesso é impróprio para consumo e precisa ser descartado. Não há dano algum para o restante da carne, segundo especialistasFEBRE AFTOSAO que é:
Doença infecciosa aguda que causa febre, aparecimento de aftas, principalmente, na boca e nos pés de animais como bovinos, búfalos, caprinos, ovinos e suínos.O que causa:
Um vírus que pode se espalhar rapidamente, caso as medidas de controle e erradicação não sejam adotadas. Está presente nas aftas e pode ser encontrado na saliva, no leite e nas fezes dos animais afetadosComo se contrai:
Os animais contraem o vírus no contato direto com outros animais infectados. Calçados, roupas, alimentos e mãos das pessoas que lidaram com animais doentes também podem transmitir o vírusCombate:
No Brasil, a vacinação contra febre aftosa ocorre em todos os Estados, fora Santa Catarina, considerado, desde 2007, pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) livre de febre aftosa sem vacinação97,4% foi o índice de cobertura vacinal dos rebanhos brasileiros em 2010
324.223.052 foram as doses de vacinas em bovinos e búfalos ao longo do anoFonte: Ministério da Agricultura, Pedro Felício, professor aposentado da faculdade de engenharia de alimentos da Unicamp, e Pedro Camargo Neto, pecuarista e vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira copiado https://www.uol.com.br/ - Os abscessos, formações purulentas ou fibrosas encontradas em carnes brasileiras e que motivaram o fechamento do mercado dos Estados Unidos para o produto resultam de falhas durante a aplicação de vacinas ou na limpeza da carne, segundo a avaliação de especialistas.
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