Temer continua sem convencer que Joesley Batista é pior que ele
No filme Síndrome da China, a repórter Kimberly Wells (Jane Fonda), consegue produzir, dentro de uma usina nuclear, uma entrevista com o engenheiro Jack Godeel (Jack Lemon). Ele tenta explicar, de forma tensa, o que aconteceria se o núcleo da unidade se fundisse. O engenheiro faz um discurso atabalhoado e, ao final, quando Wells pergunta ao cinegrafista Richard Adams (Michael Douglas) que gravou as imagens sua opinião sobre a explicação de Godeel, Adams responde com uma frase curta: o suficiente para parecer um completo desequilibrado.
Michel Temer já falou três vezes sobre a denúncia de Joesley Batista, mas o pronunciamento desta terça-feira diante de uma claque patética foi o que mais se aproximou da cena protagonizada no clássico do cinema catástrofe de 1979.
O problema de Michel Temer é que ele simplesmente não convence ninguém de sua seriedade. O que Lula, com sua capacidade de comunicação, consegue com duas ou três frases de efeito, Temer não consegue com um discurso completo. Mesmo orientado por marqueteiros.
Certo, é verdade que a última coisa que Michel Temer está interessado é na opinião publica e, certamente, poderia estar falando para seus possíveis eleitores no Congresso que podem lhe salvar, mas a dificuldade é que ele não consegue organizar um discurso que apresente sua argumentação sem que o ouvinte o ache empoado. Dito de outra forma: o discurso de Michel Temer é chato. Todo mundo já percebeu que nesses tempos de mídias sociais, Facebook, Twitter e YouTube ele se apresenta como um missivista, analógico.
Nesta terça-feira, a articulação para responder a Rodrigo Janot repetiu os mesmos erros. A bancada que estava fazendo claque cheirava a naftalina. Uma senhora de vestindo um casaco vermelho ao lado do presidente desviada a atenção das pessoas pelo digamos “inusitado” guarda roupa. Sim também estava atrás dele, aquela deputada de Minas Gerais que o marido foi preso por corrupção pela Polícia Federal. Um desastre do ponto de vista de composição de imagem transmitida pelas TV fechadas.
Mas o problema é que Michel Temer não rebate as acusações de Rodrigo Janot com argumentos consistentes. O presidente jacta-se de seus conhecimentos jurídicos dizendo que do ponto de vista jurídica sua preocupação é zero e que estava ali para fazer um gesto político. Ora, a única coisa om que ele deve se preocupar é os argumentos jurídicos elencados pelo procurador. Os da política ele tem como se safar.
O diabo dessa denúncia de Janot é que ele bem construída do ponto de vista de argumentação. Ele foi construindo uma história recheada de constatações de fatos data e discursos e notas de rodapé que abre uma avenida suspeitas contra a Temer.
Porque diabo Joesley Batista iria pagar R$ 500 mil a Rocha Loures se não fosse para Michel Temer? Porque ele se organizaria para pagar R$ 500 mil toda semana ao um sujeito que nunca vira antes e que resolveu um problema de custos falando em nome do presidente da República?
O problema é que todas as provas forma construída pelo próprio Temer. O que diabos Michel Temer tinha para conversar com Joesley na situação em que se encontrou? Porque conversar sobre o que conversou se não fosse para viabilizar mais um dos negócios do qual os Batista se tornaram especialista com seus assessores?
O mais complicado desse denúncia não é fato de Temer poder sobreviver a uma denúncia. O Congresso não vai lhe negar os 172 votos mínimos para livra-lo. O problema é o que os 304 vão lhe cobrar em termos de imagem.
Tem mais: o maior porta-voz de Temer é o Carlos Marun. É aquele deputado que levou Eduardo Cunha até a cova, ou melhor a prisão em Curitiba. Porque diabos Michel Temer vão aceitar que sua defesa na Câmara seja feita por Marun? Cada vez que ele fala mais uma pessoa desacredita em Temer. Será que ele não tem ninguém para lhe defender entre 513 deputados?
Então importa pouco se Temer tem como se salvar. Se ele não tiver 172 deputados no Congresso para lhe barra vai ter que sair mesmo. O que se dispute agora é como fica seu governo. E ele próprio como presidente. As pessoas achavam ruim porque Dilma tinha esculhambado o ritual e a representação da importância do cargo. Achavam que ele tinha transformado o Palácio do Planalto na célula do PT.
Mas quando a gente olha aquela cena de Michel Temer falando para uma claque como aquela não há como não ter um enorme sentimento de vergonha cívica. A República do Brasil não merecia passar por esse constrangimento.
copiado http://jc.ne10.uol.com.br/blogs/jcnegocios/2017/06/27/michel-temer-continua-sem-convencer-que-joesley-e-pior-que-ele/
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