/ atualizado POR ANDRÉ DE SOUZA
BRASÍLIA — Em depoimento na CPI da JBS, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF) Jorge Hereda disse que não tinha poder para demitir o ex-vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco entre 2011 e 2013, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Ele afirma, no entanto, que nunca houve achaque no banco ou pareceres encomendadospara a liberação de empréstimos fraudulentos. Segundo Hereda, irregularidades envolvendo funcionários da instituição financeira aconteciam da "porta para fora", ou seja, envolviam negociações diretas entre eles e os empresários interessados. Seria o caso, por exemplo, de alguém "cobrar pedágio" para que o processo pudesse começar a ser analisado no banco. Mas, uma vez iniciado esse processo, Hereda disse que as regras eram seguidas com rigor.
— Vou confessar uma coisa: eu preferia que ele fosse o mínimo possível para a Caixa. Os senhores são muito mais experientes que eu nessa coisa de relação política. O senhor me perguntar se eu tinha poder, como presidente da Caixa, de tirar Geddel de lá de dentro, por favor! Vamos ser racionais. Eu não tinha poder de tirar Geddel.
Há vários processos na Justiça para investigar desvios de recursos públicos com a eventual participação de Geddel, que está preso atualmente e chegou a ser ministro no governo do presidente Michel Temer, e Fábio Cleto, também ex-vice-presidente do banco, que se tornou delator e passou a colaborar com a Justiça. Hereda negou ter qualquer responsabilidade sobre o que eles fizeram. Também disse não acreditar que um servidor da Caixa colocaria seu emprego estável e aposentadoria em risco para elaborar um parecer encomendado.
— Uma coisa é alguém cobrar pedágio na porta, sentar em cima do processo e não deixar andar. Outra coisa é esse processo ser fraudulento. Ele pode até segurar processo. Mas depois que botou a operação para rodar dentro da Caixa, ela só sai dentro da norma. Então não acredito em processo fraudulento dentro da Caixa. É isso que a gente não entende — afirmou ele, que continou a explicação:
'GEDDEL TRABALHAVA POUCO'
— A Caixa é um banco. E para rodar o processo lá dentro, só roda de acordo com as regras. Não tem processo sem ter risco, sem ter jurídico, sem ter área de precificação e área de negócio. São pareceres em cima de pareceres. Eu posso estar errado, mas eu não acredito que dentro desse processo tenha algum tipo de fraude. Também não acho que a Caixa teve prejuízo com a JBS, porque hoje todas as contratações estão em dia ou foram liquidadas — disse Hereda, que foi presidente da Caixa entre 2011 e 2015.
Ele ironizou o trabalho de Geddel, que foi , no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, e teria recebido propina de contratos do banco.
— Geddel inclusive era uma pessoa que trabalhava pouco. Chegava na segunda, tinha reunião na terça, na quarta atendia alguns deputados e, ó, ia embora. Eu, sinceramente, fiquei surpreso. Eu não tinha, não imaginava, sinceramente, que na área do Geddel pudesse ter acontecido alguma coisa, pelo desinteresse claro pela atividade dele — disse Hereda.
Em relação a Cleto, Hereda afirmou que fez o possível para que tudo ocorresse dentro da legalidade. Ele disse que desconfiava de todas as indicações políticas feitas no banco. Em sua delação, Cleto contou que atuava sob orientação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Entre outras coisas, repassava informações sobre processos e, quando necessário, segurava votos. Hereda, porém, disse que nunca recebeu uma reclamação nesse sentido.
— No primeiro dia, eu o chamei, tive uma conversa boa com ele e disse: não mexa na área do Fundo de Garantia, tem gente aqui que tem 20, 30 anos cuidando disso, então não quero que mexa em nenhum superintendente abaixo de você. À tarde, ele retirou três superintendentes. Eu levei para o Conselho e mandei voltar os três superintendentes — disse Hereda à CPI da JBS.
Ao fim da sessão, a CPI aprovou três requerimentos. Um deles prevê a realização de uma reunião conjunta com a CPI do BNDES para ouvir Joesley e Wesley Batista. Outro requerimento aprovado é um convite para o ex-ministro da Justiça e ex-procurador da República Eugênio Aragão prestar depoimento. Por fim, há um requerimento solicitando às secretarias de Fazenda dos estados a relação de incentivos ou benefícios fiscais dados à JBS e à J&F.
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