Quase 100% das empresas venezuelanas paralisaram ou reduziram produção, diz pesquisas. Monoculturas tomam lugar do Cerrado e ameaçam comunidades no Brasil

Quase 100% das empresas venezuelanas paralisaram ou reduziram produção, diz pesquisas

AFP / FEDERICO PARRA(Março) Bairro parcialmente iluminado após apagão em Caracas
Uma pesquisa encomendada pelo sindicato das indústrias e apresentada nesta terça-feira (11) aponta que 96% das empresas venezuelanas paralisaram, ou diminuíram, sua produção no primeiro trimestre de 2019, devido aos apagões, à escassez de gasolina e à restrição de créditos.
Das empresas pesquisadas, "96% não produziram, ou diminuíram, sua produção", declarou o presidente da Confederação de Industriais da Venezuela (CONINDUSTRIA), Juan Pablo Olalquiaga, ao apresentar o estudo à imprensa.
Ainda segundo ele, 14% pararam por completo suas atividades.
A situação é ainda mais crítica, considerando-se que cerca de 80% das empresas do país fecharam desde a ascensão do chavismo ao poder, duas décadas atrás, disse Olalquiaga.
Ele acrescentou que as empresas ativas operam, em média, com algo em torno de 18% de sua capacidade, em comparação com 81% e 78% das indústrias da vizinha Colômbia e do Brasil, respectivamente. Além disso, 84% das empresas tiveram de demitir trabalhadores.
Olalquiaga relacionou esse cenário de retrocesso aos grandes apagões que atingiram o país desde março e à falta de combustível para o transporte.
A escassez de gasolina é crônica nas áreas de fronteira há anos, mas se espalhou para várias regiões do interior.
O problema piorou após a entrada em vigor, em abril, de um embargo de Washington que proíbe a negociação do petróleo venezuelano no sistema financeiro americano e a venda de combustíveis e solventes ao país para processar seu petróleo pesado.
As medidas fazem parte das sanções adotadas pela Casa Branca para pressionar o presidente Nicolás Maduro, a quem descreve de "ditador". As sanções incluem restrições ao transporte aéreo e marítimo de cargas.
"Os navios pararam de vir", afirmou Olalquiaga, apontando que isso ameaça aprofundar a queda das exportações privadas não petroleiras, que passaram de 1,7 bilhão de dólares em 2013 para 699 milhões em 2018, segundo o Banco Central.
Ao mesmo tempo, as importações não petroleiras, nas quais o Estado é o principal ator, caíram de 44 bilhões de dólares em 2013 para apenas 5,8 bilhões em 2018. Isso contribuiu para o déficit de produção nacional que causou uma grave escassez de produtos básicos.
A restrição de crédito também impacta o setor, segundo Olalquiaga, depois que o governo aumentou a exigência de reserva, ou seja, fundos que os bancos devem depositar no BCV para respaldar seus depósitos.
A COINDUSTRIA também relatou uma contração no consumo, em um colapso econômico marcado pela hiperinflação que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta para 10.000.000% até 2019.
Há um "baixo nível de vendas" em meio a um "processo de empobrecimento" da sociedade, completou Olalquiaga.
Nesse contexto, 68% das empresas que seguem vivas podem fechar dentro de um ano, alerta o relatório.

Monoculturas tomam lugar do Cerrado e ameaçam comunidades no Brasil

AFP / NELSON ALMEIDAPaisagem do Cerrado rodeia campo agrícola em Formosa do Rio Preto
"Aqui era um lugar sossegado, mas, desde que os seguranças da fazenda começaram a entrar em nossas comunidades e controlar os nossos movimentos, não conseguimos mais dormir. Aqui eles não respeitam ninguém", diz Sabino Batista Gomes, olhando com preocupação para a entrada da comunidade de Cacimbinha a cada passagem de veículo.
Instaladas no Nordeste do Brasil, a duas horas de uma estrada de terra arenosa de Formosa do Rio Preto, no extremo oeste do estado da Bahia, as 121 famílias de descendentes de indígenas, de ex-escravos e pequenos agricultores que chegaram ao Cerrado no final do século XIX denunciam a apropriação de seu território por uma grande fazenda para exploração agrícola.
O município de Formosa está localizado na chamada região do Matopiba, duas vezes maior que a Alemanha, abrangendo os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
O Matopiba é quase totalmente parte do Cerrado e é a zona do país onde a expansão das atividades agrícolas, em particular as monoculturas de soja, algodão e milho, principalmente transgênicas, bem como a pecuária, recebe mais apoio.
Tradicionalmente encorajada pelas autoridades, pode se intensificar ainda mais sob o ímpeto do governo de Jair Bolsonaro, que apoia o lobby agrícola.
Em cinco anos, a produção de cereais e oleaginosas nos quatro estados aumentou 79,7% e hoje representa 10,6% da safra nacional.
- Plantações a perder de vista -
Mas este avanço acontece ao custo do desmatamento maciço e provoca cada vez mais conflitos com comunidades tradicionais que vivem do artesanato, da colheita de frutas, da plantação da mandioca e de feijão e criação de bois, que pastam livremente.
Em Formosa, a fazenda do Estrondo, inaugurada em 1978, inicialmente queria comprar as terras dessas famílias. Diante da recusa, trabalhadores rurais passaram a fazer medições usando GPS e começaram a instalar cercas.
"Alguns dos nossos animais desapareceram, outros foram feridos. Temos que recuar cada vez mais para dentro do vale", explica Batista Gomes, mostrando as falésias que se elevam à distância.
No topo, não resta mais nada de vegetação nativa. As palmeiras, árvores frutíferas e vegetação rasa deram lugar a plantações que se estendem até onde os olhos podem ver.
A fazenda se estende a opera oficialmente em 305.000 ha, uma superfície maior que Luxemburgo, mas de acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Estrondo é o resultado "da apropriação ilegal de 444.000 hectares" de terras.
- Tentativas de intimidação -
Uma liminar de manutenção de posse de 2017 garante a posse de 43.000 hectares às comunidades tradicionais do vale. De acordo com essa decisão, nenhuma intervenção pode ser feita em suas terras, sob pena de multa.
"Para a gente, era uma vitória, mas a fazenda não respeita a justiça", lamenta Batista Gomes.
Estrondo considera essa área como sua "reserva legal", definida pelo Código Florestal Brasileiro como um lote de 20% da propriedade onde a vegetação nativa deve ser preservada, o que implica a saída dos habitantes rurais.
As comunidades denunciam a construção de guaritas cercadas de valas, onde os guardas controlam as identidades dos habitantes e impedem sua passagem à noite, bem como intimidações, às vezes violentas.
Em janeiro, um dos moradores, que queria recuperar seus bois, foi baleado no pé.
"Um juiz sério faria o controle da liminar, mas o juiz de Formosa ignorou e tentou reduzir a abrangência da liminar para 9.000 ha, o que foi rejeitado pelo tribunal de justiça da Bahia. Pode durar anos até a sentença final e por enquanto, a situação está piorando", preocupa-se Mauricio Correia, da Associação dos Defensores dos Trabalhadores Rurais do Estado da Bahia, que acompanha as comunidades.
AFP / NELSON ALMEIDAMorador da comunidade de Cacimbinha, em Formosa do Rio Preto, alimenta seu gado
Procurados pela AFP, os advogados das empresas proprietárias da fazenda Estrondo dizem que o Judiciário não determinou a retirada das guaritas e que apesar da redução, segundo eles em vigor, do território pertencente às comunidades, a exploração não invade os 43.000 hectares solicitados pelas famílias, "para evitar, como prova de boa vontade, [...] tensões inúteis até a decisão judicial final".
A outra preocupação dos habitantes diz respeito à diminuição dos recursos hídricos, o que seria, segundo um estudo do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Inema), o resultado da derrubada das árvores do Cerrado nos planaltos e a abertura de poços para irrigação das plantações de Estrondo.
Entre 2007 e 2014, de acordo com um relatório do Greenpeace divulgado na terça-feira, quase dois terços da expansão agrícola no Matopiba foram às custas da vegetação nativa. A área dedicada à soja triplicou entre 2000 e 2014, de 1 milhão para 3,4 milhões de hectares.
Para Martin Mayr, coordenador da agência 10envolvimento, uma associação que apoia essas famílias rurais, o tempo está se esgotando: "Desde a sua chegada, as comunidades preservaram o Cerrado, do qual dependem para viver. Se forem expulsas daqui, a vegetação pode muito bem desaparecer".


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