Poder Vi mais machismo dentro de jornais que em zona de guerra, diz espanhola Cobrir conflitos armados é testemunhar a história, afirma a jornalista Mayte Carrasco Imprensa livre é contrapeso ao poder do Estado cobertura sobre o Estado Islâmico

A jornalista espanhola Mayte Carrasco participa de debate sobre jornalismo em áreas de conflito, realizado no Encontro Folha, na semana passada, em São Paulo – Danilo Verpa/Folhapres

Vi mais machismo dentro de jornais que em zona de guerra, diz espanhola

Cobrir conflitos armados é testemunhar a história, afirma a jornalista Mayte Carrasco
  • Imprensa livre é contrapeso ao poder do Estado

    Poder

    Redação de jornal tem mais machismo que áreas de conflito, diz espanhola

    Danilo Verpa/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 19.02.2016 - 10h - mesa 6 - NAO ATIRE, SOU JORNALISTA - COBERTURA EM AREAS DE CONFLITO - Os jornalistas Mayte Carrasco, James Harkin, Joao Wainer com mediacao de Patricia Campos Mello durante o Evento Folha 95 anos. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, PODER) ORG XMIT: EVENTO FOLHA 95 ANOS
    A jornalista espanhola Mayte Carrasco durante o Encontro Folha de Jornalismo

    A mais conhecida correspondente de guerra espanhola, Mayte Carrasco, 41, costuma inverter o senso comum de que jornalistas mulheres teriam desvantagens ao atuar em zonas de conflito.
    "Nunca tive problemas por ser mulher. Além disso, eu tinha acesso à comunidade feminina local, coisa que nenhum colega homem tinha."
    Ela avalia que a próxima fronteira da cobertura sobre o Estado Islâmico deve se voltar ao deserto da Líbia, seu provável próximo destino.
    *
    Como e por que começou a cobrir conflitos?
    Nunca quis cobrir guerras, mas tive essa oportunidade quando era correspondente na Rússia e teve início a guerra da Geórgia. Decidi ir para lá e descobri que cobrir conflitos era jornalismo na veia, era ser testemunha da história e falar com seus protagonistas. Dizem que quem tem coragem tem colhão; eu digo que tenho ovários.
    E como é ser mulher nesse contexto?
    Eu me incomodo quando me perguntam se tenho filhos, porque é algo que nunca se pergunta aos homens. O machismo não está tanto na zona de conflito como está nas Redações e na sociedade.
    Os talibãs no Afeganistão me davam acesso e entrevistas. Só não me olhavam nos olhos nem apertavam minhas mãos. No entanto, com militares espanhóis e italianos eu tinha de ser agradável para quebrar certos obstáculos.
    Você já esteve sequestrada na Síria sem perceber. Como?
    Estava com outro freelancer tentando sair do país para o Líbano e nos abrigamos na casa de uma família, porque a cidade em que estávamos havia sido cercada pelas tropas de Bashar Al-Assad. A família nos tratou muito bem, mas não nos deixava sair da casa nem nos comunicarmos por telefone.
    Quando conseguimos sair, fomos informados de que o chefe da família era um contrabandista e havia tentado nos vender, sem sucesso. Tenho muitos colegas que estão sequestrados ou que foram mortos. A exibição propagandística da morte desses colegas é algo obsceno e triste.
    Por que os jornalistas se tornaram alvos do EI?
    Desde que comecei a cobrir guerras, o risco aumentou muito. Conflitos se tornaram complexos, incontroláveis. A tênue linha de confiança está cada vez mais frágil. E, nesses momentos, valemos o que valem nossos passaportes.
    Disse que não volta à Síria. Quais conflitos planeja cobrir?
    Quero investigar a dimensão que o EI está tomando fora da Síria, especialmente na Líbia, cujo deserto é um epicentro dos negócios antes liderados pela Al Qaeda, como tráfico de drogas e pessoas.
    copiado  http://www1.folha.uol.com.br/

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