O mar não para de subir. Culpa do aquecimento global
Por: Miguel Angel Criado. Fonte: Jornal El País
O aumento do nível dos mares é, para a comunidade científica atual, algo tão verdadeiro quanto era a Terra girar ao redor do Sol para Giordano Bruno e Galileu. No entanto, não há o mesmo consenso sobre a origem dessa elevação e, em particular, o ritmo do aumento das águas. Agora, dois estudos paralelos olharam para o passado e o futuro dos oceanos. Para trás, o mar subiu mais rápido no século 20 do que nos 3 mil anos anteriores. Para a frente, se as emissões não forem drasticamente reduzidas agora, o nível do mar pode subir cerca de um metro no decorrer deste do século.
Faltava contexto aos sucessivos trabalhos que foram analisando o aumento dos níveis do mar em escala planetária. Apresentar um número sem colocá-lo no contexto da história do planeta pouco informa sobre a gravidade ou a normalidade dessa elevação ou o papel dos seres humanos nele. Portanto, o trabalho de uma dúzia de investigadores de várias universidades é algo novo: mostram os centímetros que o mar subiu nos últimos séculos chegando até o presente.
Nível das águas não para de subir
Usando dados de 24 locais ao redor do mundo, incluindo Muskiz e Urdaibai na costa basca espanhola, nos quais é possível se ver o rastro que o mar foi deixando na terra, pesquisadores publicaram na revista PNAS dados reveladores do quanto mudou o nível do mar nos últimos três milênios. Para confirmar suas estimativas, usaram 66 registros de marés de todos os continentes, com alguns que remonta ao ano 1700. Com esses 300 anos puderam validar seus cálculos para o período restante.
O nível do mar subiu no século passado 14 centímetros e poderia subir até um metro no restante do século 21. “O aumento no século 20 foi extraordinário no contexto dos últimos 3 mil anos”, diz o professor de ciências da Terra da Universidade de Rutgers (EUA) e principal autor do estudo, Robert Kopp em uma nota. Especificamente, sempre com algum grau de incerteza, o nível do mar subiu 14 centímetros no século passado. O número, sem o contexto, pode parecer pequeno. Mas é quase o dobro do máximo alcançado em 2700 anos. Ou seja, mais do que a elevação total, o alarmante é a velocidade com que ela aconteceu.
Variações correspondem ao aumento da temperatura média
O estudo também mostra outro fenômeno que agrava esses 14 centímetros. Desde o início da era atual, há cerca 2 mil anos, o nível do mar tem variado muito ao longo do tempo, mas para terminar onde estava. Até o século 8, o mar subiu lentamente cerca de 7 centímetros. Mas, desde então, e especialmente depois do ano Mil, a água não deixou de baixar até se recuperar no século 19.
As variações respondem, de acordo com os autores do estudo, às mudanças na temperatura média global. Assim, de 1000 a 1400, período em que o planeta esfriou cerca de 0,2 °, os oceanos aumentaram cerca de 8 centímetros. Por isso, o aquecimento global iniciado com a Revolução Industrial também coincide com o aumento do nível do mar acelerado, uma subida que, como recorda Kopp, “foi ainda mais rápida nas últimas duas décadas”. Na verdade, de acordo com os autores, se fosse eliminada a mudança climática da equação, o nível do mar não teria subido, mas diminuído.
Um segundo trabalho, também publicado na PNAS, olha para a frente. Partindo da evolução do nível do mar, pesquisadores do Instituto para a Pesquisa do Impacto Climático de Potsdam (PIK, Alemanha) e do Instituto de Geociências do CSIC na Espanha, projetaram até onde subirão as águas no restante do século empurradas pelo aumento da temperatura, fruto do aquecimento global.
Principais causas do aumento
Mesmo alcançando as metas de redução de emissões assinadas na Conferência do Clima de Paris em 2015, o nível do mar vai subir entre 20 e 60 centímetros. E isso no cenário mais positivo. Caso não seja cumprido nem mesmo o que foi decidido na capital francesa, os oceanos poderiam subir entre 85 e 130 centímetros.
“Com tantos gases de efeito estufa já emitidos, não podemos impedir que os mares subam, mas poderíamos reduzir substancialmente o ritmo que vão subir se deixássemos de usar combustíveis fósseis”, diz o pesquisador do PIK e coautor da pesquisa, Anders Levermann.
O estudo também identifica as principais fontes de aumento do nível do mar, dando uma estimativa de seu grau de responsabilidade. Assim, levam em conta a expansão térmica. Com o aumento da temperatura, a água é aquecida e, consequentemente, se expande. Este fenômeno vai contribuir com entre 15 e 19 centímetros até 2100, dependendo do cenário de emissões que tenha sido conseguido nesse momento.
Enquanto isso, o degelo dos glaciares das grandes cordilheiras poderia contribuir com até 11 cm de elevação do nível do mar. A perda de massa gelada e a diminuição de seus glaciares vão fazer com que a Groenlândia contribua com outros 27 cm no pior dos casos. Na Antártida, os pesquisadores reconhecem ter mais dificuldades para modelar sua evolução, mas calculam uma margem de contribuição entre 6 e 13 centímetros. As quatro origens de aumento do nível do mar parecem ter a mesma fonte, em todos os casos: o aquecimento global antropogênico.
copiado http://www.brasil247.com/
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