Nas guerras entre FBI e Casa Branca o primeiro costuma sair vencedor



No Twitter, o presidente Donald Trump voltou a atacar a polícia federal, acusando-a de não ser capaz de travar as fugas de informações confidenciais que vão alimentando as "notícias falsas" publicadas pelos "media desonestos"
É ponto assente em Washington que o FBI pode fazer presidentes. E destruí-los. John F. Kennedy sabia que o mítico diretor do FBI J Edgar Hoover tinha gravações antigas dele de cariz sexual que podiam acabar com a sua carreira. E Lyndon Johnson, no momento de passar a pasta a Richard Nixon, alertava: "Vai acabar por depender do Edgar. Ele é um pilar de força numa cidade de homens fracos." Passados quase 45 anos da morte de Hoover, a relação entre FBI e Casa Branca volta a ser notícia pelos piores motivos, com o presidente Donald Trump a repetir ontem os ataques contra a polícia federal dos EUA, acusando-a de ser responsável pelas fugas de informações confidenciais para a imprensa, alimentando as "notícias falsas" que tanto o preocupam.
"O FBI é totalmente incapaz de travar os responsáveis pelas fugas de segurança nacional que infiltraram há muito o nosso governo. Nem conseguem... encontrar as fugas dentro do próprio FBI. Há informação classificada a ser passada aos media que pode ter efeitos devastadores nos EUA. Encontrem já", escreveu no Twitter, em dois tweets consecutivos. As declarações do presidente surgem após as notícias da CNN e MSNBC segundo as quais o FBI terá recusado pedidos de responsáveis da Casa Branca, entre eles o chefe de gabinete de Trump, Reince Priebus, para negar que pessoas ligadas ao presidente tivessem estado em contacto com a secreta russa durante a campanha para as presidenciais de 8 de novembro.
Este ataque repetido contra o FBI pode acabar por se virar contra ele. Pelo menos se olharmos para os 108 anos de história da polícia federal. Em Washington, informação é poder e o diretor do FBI é uma das pessoas com mais acesso a informação classificada - além de ter o poder de investigar e até invadir a Casa Branca em caso de suspeita forte. E ninguém soube usar esse poder como J. Edgar Hoover. À frente do FBI durante 48 anos, até à sua morte em 1972, o mítico diretor pesou como uma ameaça constante sobre a presidência de Kennedy. Mas mais ainda que John, era Robert Kennedy que Hoover odiava, tendo mesmo deixado de lhe falar após o assassínio de JFK em 1963, apesar de o FBI ter de prestar contas ao gabinete do procurador-geral, que Robert dirigia. Só a vitória surpresa de Harry Truman sobre Thomas Dewey, nas presidenciais de 1948, escapou do seu controlo obsessivo.
Mas Hoover não foi o único diretor do FBI a impor-se a um presidente. Se foi uma investigação daquela agência secreta americana a ajudar a derrubar Nixon após o escândalo do Watergate e se foram os agentes do FBI a recolher as amostras de sangue e ADN que deixaram o presidente Bill Clinton à beira da destituição por mentir sobre a relação com a estagiária Monica Lewinsky, Robert Mueller III em 2001 foi o último diretor do FBI a desafiar diretamente um presidente. Passados poucos dias dos atentados de 11 de Setembro, Mueller entrou na Sala Oval com a carta de demissão no bolso e disse ao presidente George W. Bush que a entregaria se este não recuasse na ordem para realizar buscas sem mandado a suspeitos de envolvimento terrorista, Bush hesitou, mas cedeu, mesmo se demorou a cumprir a promessa.
Hoje o embate é entre Trump e o diretor James Comey, que durante a campanha chegou a ser acusado de sabotar a democrata Hillary Clinton devido à investigação que ordenou ao seu uso do email privado quando era secretária de Estado. Resta ver se também aqui o FBI vence.
Fontes da Administração
Apesar de estar no poder há pouco mais de um mês, Trump já viu os media publicarem um grande número de notícias baseadas em fontes anónimas da Administração. E estas já causaram estragos. O conselheiro para a segurança nacional Michael Flynn teve de se demitir na semana passada depois de excertos das suas conversas telefónicas com o embaixador russo nos EUA terem sido publicados no Washington Post. Uma conversa que Trump defendeu, sublinhando que Flynn foi afastado por não ter comunicado o conteúdo das conversas ao vice-presidente Mike Pence.
Sob os aplausos de uma audiência onde se viam muitos bonés vermelhos com o slogan de campanha Make America Great Again, Trump foi o primeiro presidente desde Ronald Reagan a discursar na Conservative Political Action Conference (CPAC), que decorre em Washington. Ali, reafirmou que as "notícias falsas são o inimigo do povo. E são". E acrescentou: "Não têm fontes. Quando não há, eles inventam". Numa longa tirada sobre os "media desonestos", o presidente exigiu que os jornalistas identifiquem sempre as fontes. "Que os seus nomes venham a público!"
Trump criticou ainda o sistema, jurou "obliterar totalmente" o Estado Islâmico e construir o muro na fronteira com o México dentro do prazo - ou menos "antes do prazo".


copiado http://www.dn.pt

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