Brasileiros nos EUA não devem temer deportação, diz embaixador

Brasileiros nos EUA não devem temer deportação, diz embaixador




O embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, 72, não acha que o Brasil deve ter medo do novo presidente americano, Donald Trump. Nem os cerca de 150 mil brasileiros que vivem nos Estados Unidos de forma irregular, e cujos números vêm crescendo por causa da crise econômica brasileira, devem temer uma ofensiva de deportações em massa, como prometeu o republicano durante a campanha.
"Não acho que seja o propósito do novo governo fazer uma fiscalização e deportação sistemática; se fizerem isso, os primeiros a ser afetados são aqueles que empregam essas pessoas", disse Amaral.
Marlene Bergamo - 19.jul.2016/Folhapress
MUNDO - SP - Entrevista com o diplomata Sergio Amaral. 19/07/2016 - Foto Marlene Bergamo/Folhapress - 017
Sergio Amaral, embaixador do Brasil em Washington
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Folha – O Brasil deve ter medo de um governo Trump ?
Sérgio Amaral – Não. O Brasil não é parte de nenhum dos problemas identificados durante a campanha do Trump. O Brasil tem deficit comercial com os EUA (US$ 646 milhões em 2016), ao contrário de boa parte dos países mencionados por Trump. O Brasil não está atraindo investimentos americanos que resultam em perda de empregos americanos. Não somos problema significativo em tráfico de drogas e não temos problemas migratórios comparáveis ao de outros países.
Nossos imigrantes são cerca de 1,4 milhão, e 10% apenas estão indocumentados. Nós somos parte da solução, aceitamos deficit comercial e não reclamamos, investimos nos EUA cerca de US$ 24 bilhões, geramos mais de 80 mil empregos aqui.
Temos com os EUA interesses coincidentes em várias áreas. Se o TPP (Tratado Transpacífico) não sair, pode haver aspectos interessantes para o Brasil, porque o TPP exercia enorme atração na comunidade andina, que via na Aliança do Pacífico e no TPP a porta para expansão para mercados dinâmicos do Pacífico e da Ásia. Sem o TPP, esses países vão perceber que têm uma oportunidade na própria América do Sul, e isso levará naturalmente à convergência sul-americana que sempre quisemos.
Em uma ocasião em que conversamos, o senhor disse que talvez fosse bom ter essa pausa do TPP nos EUA, porque então talvez tivéssemos tempo para nos preparar e entrar em acordos...
O Brasil não é, ao contrário de países europeus e dos EUA, um país que está sofrendo as consequências do excesso de globalização. Na verdade, o problema é que a globalização avançou rápido, bastante, mas não foram tomadas medidas compensatórias para os deslocamentos que a globalização gerou.
Mas nós no Brasil não temos excesso de globalização, temos deficit. Então essa freada pode ser boa para o Brasil entrar mais em sintonia com o mundo. Se entrarmos em sintonia através das negociações multilaterais da OMC (Organização Mundial do Comércio), ótimo.
Mas se elas estiverem paradas, por que não acordos regionais? Acordos bilaterais? O fato é que nos precisamos abrir mais a economia, vai ser bom para a competitividade brasileira.
Isso significa que nós devemos tentar entrar no TPP?
Não, eu acho que o TPP está morto. Se o TPP não morrer, é uma coisa para se avaliar. Acredito que o TPP é muito mais que um acordo de comércio, mas não sei se algumas das questões que ele incorpora são do nosso interesse.
Nós não sermos parte da agenda negativa de Trump pode ser uma vantagem, mas não é preocupante o Brasil estar completamente ausente da agenda, não ser mencionado nem uma única vez?
Se for para ser mencionado como são a Rússia, a Coreia do Norte e a China, nessa lista eu prefiro não estar. O Brasil pode certamente estar na lista positiva. Nós temos convergências muito importantes. Trump já disse que tem grande interesse em ampliar o comércio...
Bom, mas ele tem interesse em exportar, não em importar...
Mas comércio é via de duas mãos, os empresários americanos sabem disso muito bem. Se a gente tiver facilitação de comércio e convergência regulatória, será bom para os dois lados. Tem uma área que também está muito avançada, tem apenas alguns pontos pendentes, que é um acordo de investimentos.
Seria um acordo seguindo esse novo modelo que o Brasil vem assinando com países como Moçambique e Colômbia, que não inclui a cláusula investidor Estado muitas vezes imposta pelos EUA (que permite às empresas processarem o governo do país por políticas que potencialmente as prejudiquem)?
O modelo deles é mais rigoroso que o nosso. Mas eu tenho dito que, se houver a disposição de flexibilizar dos dois lados, nós temos condições de avançar. Essa cláusula empresa-Estado, falei com várias entidades empresariais no Brasil, ninguém levantou essa clausula. Os empresários não se opõem a essa cláusula. O governo, eu não sei. Será que não é hora de a gente flexibilizar algumas coisas que não são o núcleo do programa?
O que teríamos a ganhar?
Concluiríamos um acordo de investimentos que as empresas brasileiras querem fazer. Esse acordo facilitaria muito para elas a questão da tributação sobre o emprego.
A taxa de recusa de visto americano para brasileiros saltou de 5,36% em 2015 (ano fiscal americano, que termina em setembro) para 16,7% neste ano. Por que isso aconteceu e o que o Brasil está fazendo em relação a isso?
Eu vou por essa informação sob outro ângulo. Por que nós não temos um acordo de isenção de vistos com os EUA? Porque eles não dão acordo de isenção para quem tem mais de 3% de pedidos de visto rejeitados.
Nós estávamos chegando perto desse percentual, mas, com a crise econômica brasileira, aumentou de novo. O porcentual de vistos recusados tenderá a voltar a um nível muito mais baixo, porque algumas pessoas vêm para cá porque não conseguem achar emprego no Brasil. Isso tenderá a se resolver naturalmente quando a economia brasileira melhorar.
Os últimos números da Patrulha de Fronteiras dos EUA mostram que cresceu 142% o número de brasileiros detidos tentando imigrar para os Estados Unidos em relação a 2015. Muitos ficam presos em centros de detenção por meses. O que se pode fazer em relação a isso?
Precisamos avaliar qual era o número antes, de que base está saindo. Foram pegos 3.252 brasileiros cruzando ilegalmente a fronteira em 2016, diante de 1.344 brasileiros. É pouco comparado a Honduras, Guatemala, mas para o Brasil é uma alta significativa.
Não recebemos nenhuma manifestação de preocupação do lado dos americanos. Quando há brasileiros detidos, é certamente motivo de preocupação e está sendo resolvido pelos consulados.
Mas se escolas públicas e o sistema de saúde começarem a checar se esses imigrantes são legais...
As escolas e sistema de saúde se recusam. Uma deportação em massa é muito pouco factível. Não acho que seja o propósito do novo governo, uma fiscalização e deportação em massa.
Se fizerem isso, os primeiros a ser afetados são aqueles que empregam essas pessoas. Se já há empresas perdendo competitividade por causa das importações e se deslocando para outros países em busca de salários mais baixos, se além do mais fizerem uma fila na frente da fábrica para checar os documentos...isso teria impacto enorme na economia americana.
*É correto comparar "brexit" com eleição de Trump, é parte de uma onda de populismo
Trump conseguiu captar o que é um sentimento de mal estar na sociedade e isso deve a duas coisas –o excesso de globalização ou globalização não acompanhada de medidas compensatórias.
A democracia liberal é um sistema que não foi capaz de prevenir, entender ou remediar o que trouxe essas manifestações de insatisfação na sociedade, que levaram ao "brexit" e que contribuíram para a eleição do Trump.
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RAIO-X
SÉRGIO AMARAL
Nascimento
São Paulo, 1º de junho de 1944 (72 anos)
Formação Acadêmica
Bacharel em Direito pela USP em 1967, mestre e doutor pela Universidade de Paris-1
Carreira política
Ministro do Desenvolvimento e da Comunicação Social
Carreira diplomática
Diplomata em Bonn, Paris, Genebra e Washington, embaixador em Londres e Paris e na OCDE


copiado http://www1.folha.uol.com.br/mundo/
IMIGRAÇÃO DE BRASILEIROS AOS EUARotas usadas para entrar ilegalmente no país

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