Quando o celular “vai pelo ladrão” “A telefonia, que nos libertou, está nos aprisionando na gaiola do medo de ser assaltados e mortos a qualquer momento, porque o telefone tornou-se a maior commodity do século 21. Nem o celular, nem a vida são brinquedos”



Quando o celular “vai pelo ladrão”

“A telefonia, que nos libertou, está nos aprisionando na gaiola do medo de ser assaltados e mortos a qualquer momento, porque o telefone tornou-se a maior commodity do século 21. Nem o celular, nem a vida são brinquedos”
Clique abaixo para ouvir o comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no Papo de Futuro, da Rádio Câmara, com Alex Gusmão:
Nós achamos que os celulares revolucionaram a nossa vida. Sim, de fato. Homo Deus é o nosso novo nome, somos onipresentes e onipotentes. Tem gente que não se desconecta nem embaixo do chuveiro, ou quando põe a cabeça no travesseiro. Nossos neurônios espelhos, aqueles que a ciência julgue sempre responsáveis pela nossa vida social, nunca estiveram tão ativos. Outro dia contei 30 mensagens trocadas num dia. Ou melhor, mensagens trocadas com 30 pessoas num único dia. No Google você pode saber mais sobre neurônios espelhos e como nos enxergamos nos outros, porque este é tema para outro programa.
O que 2017 pede com urgência é uma palavra sobre segurança. Sim, para o Google, se você pergunta como o celular está te expondo ao risco, a lista de busca fala sobre a radiação das células e os possíveis danos à saúde. Em outra busca, perguntei: como os celulares podem me prejudicar e o resultado foi sobre o problema da clonagem, dos hackers, da ameaça à sua privacidade. Sexting, ou a chamada vingança pornô, todo mundo morre de medo disso.
ABr
"O celular é objeto de volúpia e o primeiro item a ser procurado hoje pelos ladrões, ao lado do tablete e do computador"
O que aflige cada vez mais no mundo da comunicação, porém, não está do lado de dentro do sistema. A comunicação é ótima, com todos os seus problemas. O difícil é aceitar que viramos alvo de bandidos, onde quer que estejamos. Em algumas cidades a portabilidade do celular é apenas em quatro paredes. Foi assim em Salvador, por exemplo. Usar o telefone na rua é um ato de coragem, pois a chance de você ser roubado é quase total. Coragem mesmo tem os pais que presenteiam seus demandantes filhotes com celulares de última linha! Aí eu pergunto: você cobriria o seu filho de ouro para sair na rua, no Brasil, com esses altos índices de violência?
O celular é objeto de volúpia e o primeiro item a ser procurado hoje pelos ladrões, ao lado do tablete e do computador. Eu recomendei ao meu filho: nada de falar ao celular no ônibus, nem andar com headphone na rua, nem usar o aparelho no caminho da escola. Esse é o trajeto favorito dos bandidos que não distinguem entre o estudante ou o trabalhador. O que eles querem é o seu telefone, e todos nós viramos alvos ambulantes da coqueluche que assaltou todo o planeta.
Imagine como seria sair com um maço de R$ 6 mil na mão. Ninguém faria isso em sã consciência, mas é isso que o celular é: uma joia da coroa que nos deixa vulneráveis e coloca nossa vida por um fio. Não o fio do telefone, mas o da impossibilidade de vivermos seguros em meio a tanta desigualdade social.
Outro dia levei minha empregada ao IML para pegar o obituário do filho de 17 anos, morto na periferia. O objetivo do roubo com morte: o celular. Meu filho me chama de paranoica porque quero dar a ele o celular do ladrão: sem dados, sem 3G, nada disso. Apenas um telefone de R$ 10. Eu chamo de loucos os pais que dão ao seu filho uma Ferrari em forma de celular. E lamento que a telefonia, que nos libertou, esteja nos aprisionando na gaiola do medo de ser assaltados e mortos a qualquer momento, porque o telefone tornou-se a maior commodity do século 21.
Nem o celular, nem a vida são brinquedos. Que a gente pare para olhar primeiro a segurança de nossas crianças, depois a diversão.
Mas se você não concorda ou quer comentar, escreva para nós: papodefuturo@camara.leg.br
Coluna produzida originalmente para o programa Papo de Futuro, da Rádio Câmara. Pode haver diferença entre o áudio e o texto.

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