O apressado come cru, reza o velho ditado. A continuar no atual ritmo rumo a 2018, o prefeito de São Paulo, João Doria, caminha celeremente para dar com a cara no muro, ou ser atropelado por uma jamanta azul e amarela. Ou alguém imagina que o PSDB, que escolhe seus candidatos a presidente em almoços chiques de três ou quatro caciques nos Jardins, vai lhe dar sua mais importante candidatura assim, de mão beijada? Ou que o comedido mas persistente Geraldo Alckmin vai abrir mão assim, sem mais, de sua maior aspiração política?
Hoje à noite, no jogo do Brasil contra o Paraguai, vai ter mais propaganda nacional da Prefeitura de São Paulo. Desde que assumiu o cargo, há três meses, Doria vem mostrando ser o rei da propaganda, protagonizando seguidas performances e aparições, devidamente repercutidas na mídia e em redes poderosas na internet. Mostrou que trabalha muito, sim, mas sobretudo na causa da própria imagem. E só com isso já conquistou corações e mentes de uma elite perdida, que anda carente de candidatos e líderes na política nesses tempos de corrupção quase total.
Mas será que daqui a um ano, quando a corrida começar de fato, bastará o marketing? Ou Doria não terá que apresentar credenciais mais sólidas, como um bom trabalho à frente da prefeitura, e não apenas para os pessoal da Paulista e dos Jardins? Seu açodamento para se tornar conhecido – e amado – fora dos limites paulistanos vai virar espuma se não apresentar um atestado concreto de realizações e um projeto coerente de pais, que atenda também o Brasil dos grotões.
Acima de tudo, o apressado Doria vem chocando os caciques tucanos com seu comportamento. Respondeu com arrogância afirmações do ex-presidente Fernando Henrique e, diariamente, desafia a paciência do chefe Alckmin, que até agora não passou recibo mas tem uma longa estrada de disputas políticas vencidas com expressao angelical mas socos, pontapés e puxadas feias de tapete nos bastidores.
O governador já reparou que Doria, usando muito bem os meios de comunicação, jura de pés juntos que seu candidato é ele, com ostensivos atos de reverência. Mas que, no paralelo, passa o tempo todo preparando os holofotes para a candidatura presidencial. Chega a ser notável seu esforço para, dia sim, outro também, atacar o ex-presidente Lula, na tentativa de polarizar o debate com ele e tornar-se o anti-Lula de 2018, seu sonho dourado.
Rudolfo Lago
O grande nó provocado no mundo político, que só vem se apertando desde o julgamento do mensalão, a famosa Ação Penal 470, é o aumento da intolerância geral da Justiça e dos organismos de controle – Ministério Público à frente – aos expedientes de sempre no financiamento das campanhas e na relação entre financiadores e financiados. Coisas que se operavam como rotina – ainda que sempre à margem da lei – passaram a ser criminalizadas duramente a partir do mensalão, e mais ainda na Lava-Jato. E eis aí o nó: como eram feitas por todos e em todos níveis, sua criminalização vai travando completamente o sistema político, gerando tal grau de amplitude que ninguém sabe a essa altura onde nem quando vai parar.
O depoimento agora de Marcelo Odebrecht, dizendo que todos os partidos fazem caixa 2 e que o caixa 2 era, nesse sentido, situação normal na relação entre a empreiteira e os candidatos que financiava, se assemelha muito ao que o ex-presidente Lula já dizia lá no início do processo do mensalão. Quando, sobre o caixa 2, afirmou que era algo que “todo mundo faz, sistematicamente”.
Por outro lado, anote-se a declaração do procurador Deltan Dallagnol na entrevista que concedeu ao Correio Braziliense neste domingo, recomendando às pessoas que respirem profundamente e continuem se indignando porque muito ainda virá no desenrolar da Operação Lava-Jato.
A gente até já escreveu por aqui sobre essa evolução na intolerância com esses expedientes a partir do julgamento do mensalão. Na Ação Penal 470, apertaram-se entendimentos que levaram a condenações que, antes (no caso do julgamento do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor, por exemplo) não aconteceram. Agora, a mais recente decisão que tornou réu o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) determina que dinheiro oriundo de propina é crime mesmo que seu destino seja financiar campanhas eleitorais. Fica, no caso, caracterizado que pode haver crime de lavagem de dinheiro além do caixa 2.
O nó da questão é que se estamos falando de algo que todos os partidos fazem, conforme diz Marcelo Odebrecht, ou que “todo mundo faz, sistematicamente”, como dissera Lula, estamos diante de algo que só para se os políticos e seus partidos afinal entenderem que precisam reavaliar e refazer os seus métodos. Coisa que eles resistem. Até tentando afrouxar a legislação, no sentido oposto do aumento desse grau de intolerância. Quem vai ceder nessa queda de braço? E nós, aguentaremos?
copiado https://osdivergentes.com.br/
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