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Golpe de Estado no Brasil em 1964 designa o conjunto de eventos ocorridos em 31 de março de 1964 no Brasil, que culminaram, no dia 1º de abril de 1964, com um golpe militar que encerrou o governo do presidente democraticamente eleito João Goulart, também conhecido como Jango.
Os militares brasileiros favoráveis ao golpe e, em geral, os defensores do regime instaurado em 1964 costumam designá-lo como "Revolução de 1964" ou "Contrarrevolução de 1964".[1][2] Todos os cinco presidentes militares que se sucederam desde então declararam-se herdeiros e continuadores da Revolução de 1964.[3]
Já a historiografia brasileira recente defende a ideia de que o golpe, assim como a ditadura que se seguiu, não deve ser considerado como exclusivamente militar, sendo, em realidade, civil-militar.[4][5][6][7] Segundo vários historiadores, houve apoio ao golpe por parte de segmentos importantes da sociedade: os grandes proprietários rurais, a burguesia industrial paulista,[8][9] uma grande parte das classes médias urbanas (que na época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor conservador e anticomunista da Igreja Católica (na época majoritário dentro da Igreja) que promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada poucos dias antes do golpe, em 19 de março de 1964.[10][11].
Jango havia sido democraticamente eleito vice-presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – na mesma eleição que conduziu Jânio da Silva Quadros, do Partido Trabalhista Nacional (PTN), à presidência, apoiado pela União Democrática Nacional (UDN). O golpe estabeleceu um regime autoritário e nacionalista, politicamente alinhado aos Estados Unidos,[12][13]e marcou o início de um período de profundas modificações na organização política do país, bem como na vida econômica e social. O regime militar durou até 1985, quando Tancredo Neves foi eleito, indiretamente, o primeiro presidente civil desde 1964.
copiado https://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estado_no_Brasil_em_1964
A história de resistência e morte dos povos indígenas na ditadura militar
O marechal Rondon cunhou uma frase que se tornou o lema de gerações de sertanistas brasileiros e funcionários do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), criado em 1910: “Morrer se preciso for, matar nunca”. A declaração ecoou até os anos 1960 e 1970. Contudo, apesar do desejo declarado de proteger os indígenas, o resultado da ação do Estado brasileiro não raro foi o massacre de tribos inteiras. Essa é a história que o jornalista Rubens Valente conta em “Os fuzis e as flechas: a história de sangue e resistência indígena na ditadura” (Companhia das Letras). A partir de uma vasta pesquisa nos arquivos oficiais abertos a partir de 2008 e entrevistas com índios e ex-funcionários do SPI e de sua sucedânea criada em 1967, a Fundação Nacional do Índio (Funai), Valente constrói um painel de violência, morte e luta desses povos.
O enredo da história se repetiu. Índios entravam em conflito com seringueiros, posseiros ou militares que construíam obras faraônicas no meio da selva. Funcionários do SPI, e depois da Funai, eram chamados para resolver o problema, “amansando” os indígenas, aponta o jornalista. Várias vezes, os contatos com homens brancos provocavam epidemias de doenças como gripe e sarampo. Sem remédios nem estrutura para ajudar, os funcionários que deviam protegê-los assistiam a tribos inteiras morrerem. Valente aponta, entretanto, uma ambiguidade na atuação dos sertanistas e do próprio Estado brasileiro.
A reportagem é de Leonardo Cazes, publicada por O Globo, 27-03-2017.
— Havia um projeto de desenvolvimento sendo colocado em prática que passava por cima dos direitos indígenas, principalmente o direito de eles saberem o que estava acontecendo. Muitos servidores se viram nesse papel de buscar uma negociação entre o Estado e os grupos étnicos ao mesmo tempo em que já sabiam que a decisão já estava tomada — afirma. — Com o passar do tempo, os próprios agentes fazem o balanço crítico do que foi feito. Eles trazem um lamento que senti nas entrevistas.
Um caso ilustrativo da maneira como a questão indígena foi tratada durante a ditadura ocorreu na construção da BR-174, entre Manaus e a fronteira com a Venezuela, em Roraima. A rodovia cortava o território dos waimiri-atroari. Desde o final do século XIX, os índios dessa região viviam em conflito com os ditos “civilizados”. Em junho de 1968, alguns apareceram próximo aos canteiros de obras. Com os operários alarmados, o diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de Manaus, coronel Manoel Carijó, pediu ajuda à Funai.
Índios Waimiri-Atroari perto de uma de suas malocas no estado do Amazonas, em registro feito na década de 1970. Foto: Jorge Peter | 14-01-1977
A primeira tentativa de contato com os waimiri-atroari, comandada por um padre italiano, terminou com nove membros da equipe mortos. Quatro anos depois, no governo Médici, a Funai abriu três postos de atração, sob a chefia do sertanista Gilberto Pinto Figueiredo. A situação era tensa. Os índios viam máquinas destruírem a floresta e as obras atraindo novos moradores. Valente narra as dificuldades de comunicação, encontros e desencontros entre brancos e índios, tensão permanente com empreiteiros e servidores. Mais de uma dezena de funcionários morreram em quatro chacinas entre 1973 e 1974. O Exército respondeu à bala.
— Os waimiri-atroari simbolizam o período. É uma obra que sofre resistência violenta e provoca uma reação militar muito clara. Pela primeira vez, três militares reconheceram que houve mortes de índios em confrontos. Isso nunca tinha sido admitido. Mas eu lamento a confissão de um coronel de que todos os documentos sobre essa obra terem sido incinerados. Ainda precisamos descobrir muita coisa sobre o que aconteceu — diz o autor.
Caciques se reúnem com os irmãos Villas-Bôas, no Parque Nacional do Xingu, para denunciar invasão de suas terras em 1974. Foto: Marcio Arruda | 14-11-1974
Ele vê uma ação deliberada dos militares para abafar todos os casos relativos aos indígenas durante a ditadura. E avalia que os generais sabiam que viria uma enorme pressão internacional se as milhares de mortes viessem à tona. Isso também contribuiu para o silenciamento dessas violências.
— Isso traz uma dificuldade para reconstituir a história, que ocorreu em locais ermos e distantes. Essa é uma pesquisa que necessita de muitos recursos, as testemunhas estão espalhadas por diferentes aldeias e cidades. O Estado brasileiro também precisa reconhecer seus crimes e seus erros — afirma Valente, que começou a trabalhar no livro em 2013, mas escreve sobre o tema desde 1989.
O cacique guarani Marçal de Sousa denuncia ao Papa João Paulo II os assassinatos cometidos contra o seu povo no Mato Grosso do Sul, durante visita do pontífice ao Brasil. Foto: Luiz Pinto | 10-07-1980
O autor aponta que discursos do passado voltaram com força hoje em uma ofensiva contra os direitos indígenas, que é, na verdade, uma disputa pela terra.
— Se os índios habitassem o céu não gerariam tantas críticas. A crítica vem porque eles ocupam um pedaço de terra, que é cobiçado. É uma guerra econômica envolta em preconceito e intolerância. São os mesmos fantasmas que nos atormentam. A elite econômica e política brasileira, infelizmente, não conseguiu entender que o índio deve ficar onde está, que eles trazem uma riqueza cultural imemorial. A convivência seria uma lição de tolerância do Brasil para o mundo.
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