PERFIL De falso goleiro a foragido Wellington Magalhães enganava presidentes de clubes do interior antes de se tornar político poderoso

PERFIL

De falso goleiro a foragido

Wellington Magalhães enganava presidentes de clubes do interior antes de se tornar político poderoso





PUBLICADO EM 23/04/18 - 03h00
PUBLICADO EM 23/04/18 - 03h00
BERNARDO MIRANDA
Belo Horizonte, início dos anos 90. Um jovem alto, forte de olhos claros ficava na porta da Federação Mineira de Futebol (FMF) abordando dirigentes de clubes do interior em busca de uma vaga no gol. Se apresentava como Wellington, ex-goleiro de América e Cruzeiro. Trinta anos depois, o mesmo personagem que enganava cartolas é hoje um político foragido da polícia. No intervalo de tempo que separa esses dois episódios, o ex-presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte Wellington Magalhães (PSDC) construiu uma carreira política com uma rápida ascensão de poder que lhe permite ter influência entre petistas e tucanos.
Antes de ser uma figura relevante e até temida nos bastidores políticos, Magalhães fazia se passar pelo ex-goleiro Wellington Fajardo em busca de um contrato para atuar em clubes pequenos. “Ele assinava os contratos, com registro na federação. Depois que conseguia receber algum valor, ele abandonava os clubes”, contou uma fonte que atuava na FMF.
A carreira como jogador não durou muito e, em 1996, a política entrou na vida de Wellington Magalhães. Ele foi nomeado secretário de gabinete do então deputado estadual Glycon Terra Pinto. Na Assembleia Legislativa, ele adquiriu experiência no jogo político e só deixou o local para assumir a cadeira de vereador por Belo Horizonte, em 2005. “Ele chegou na Câmara como um político pronto. Não era um novato, que em sua primeira legislatura fica um pouco perdido, tímido e tenta entender como é o sistema. Ele já chegou sabendo muito como se joga o jogo”, disse um ex-vereador que acompanhou o início da carreira parlamentar de Magalhães.
Em pouco tempo, ele foi de novato a presidente da Câmara. Agora, foge para não ser preso em uma operação que investiga o desvio de R$ 30 milhões em verbas de publicidade da Casa Legislativa.
Pelos colegas, o vereador é visto como um grande articulador de bastidores, mas com muito pouca preocupação com políticas públicas para a cidade. “Se você observar, ele é muito discreto. Fala muito pouco em plenário, não se posiciona. Porém, no corpo a corpo com os vereadores, ele trabalha muito bem e consegue aliados. Como ele consegue isso seria leviano da minha parte fazer acusações”, disse um vereador da capital.
Eleito pela primeira vez em 2004, Magalhães recebeu pouco mais 3.685 votos. Na eleição seguinte foi o segundo vereador mais bem votado com 14.321 votos. “Ele adotou uma forma fisiológica de conseguir votos. Fazendo festas nas suas comunidades, distribuindo benfeitorias. Assim, ele alcançou votação expressiva, uma das formas de aumentar o poder entre os demais políticos”, afirmou outro parlamentar.
As festas de Magalhães ficaram famosas na região Noroeste. Comida e bebida de graça, brindes com seu nome distribuídos e shows de cantores famosos. O jeito de fazer campanha assusta também aliados. “Na última eleição, João Leite (PSDB) visitou uma das comunidades do Magalhães. Havia seguranças armados por tudo quanto é lado, uma espécie de milícia para proteger o evento. Ele conduz uma claque que cumpre tudo o que ele manda”, disse um político envolvido na campanha do tucano.
Essa forma de fazer campanha não passou despercebida pelo Ministério Público e, em 2010, ele foi cassado pela Justiça Eleitoral por abuso de poder econômico.
Fora do cargo, o futebol voltaria a fazer parte da vida do vereador. Magalhães usou sua influencia para ser indicado para o cargo de vice-diretor da Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais (Ademg), durante a gestão do então governador Antonio Anastasia (PSDB). Em 2012, ele conseguiu driblar a Lei da Ficha Limpa e foi eleito novamente vereador. Dois anos depois, ocupava a presidência da Câmara. “A força dele vem do toma lá dá cá. O jogo dele é pesado e tem gente que topa fazer esse jogo. Daí vem todo esse poder”, disse um ex-secretário municipal de Belo Horizonte, durante o governo de Marcio Lacerda (PSB). Ele afirma que muitas das dificuldades do ex-prefeito na aprovação de projetos se deram por retaliação de Magalhães.
Obstrução
Influência. Com poder também entre os petistas, Wellington Magalhães teria sido atendido pelo governo Pimentel no pedido de troca de comando da Polícia Civil para atrapalhar as investigações.

 

Presidência teve agenda positiva

Durante sua gestão na presidência da Câmara Municipal, Wellington Magalhães (PSDC) conseguiu emplacar uma agenda positiva. Ele acabou com o recesso de meio de ano dos vereadores e passou a descontar no salários dos parlamentares as faltas às sessões plenárias sem justificativa. 
Antes não havia previsão de punição aos vereadores ausentes. Além disso, eles tinham um recesso de 15 dias em julho. O vereador Arnaldo Godoy (PT) disse que, durante a gestão de Magalhães, não houve grandes problemas. “Ele soube conduzir os trabalhos, nunca houve retaliação a nós da oposição. Agora, os fatos têm que ser apurados, mas não se pode condenar de antemão”, disse se referindo à denúncia de desvio de verbas de publicidade na Câmara.
Vida política
1995. Assume o cargo de secretário de gabinete do deputado estadual Glycon Terra Pinto. Segue como assessor na ALMG até 2004.
2005. Assume uma vaga de vereador na capital.
2008. É reeleito como o segundo vereador mais bem votado e vira primeiro vice-presidente da Câmara.
2010. É cassado por abuso de poder econômico.
2012. O MP Eleitoral perde o prazo para denunciar a candidatura de Magalhães na Lei da Ficha Limpa e ele é eleito vereador.
2014. Sua irmã Arlete Magalhães (PSDC) é eleita deputada estadual.
2015. Magalhães assume a presidência da Câmara.
2016. É reeleito vereador.
2017. É afastado por 120 dias de seu mandato de vereador por denúncia de desvio de verbas de publicidade da Câmara Municipal.
2018. Polícia consegue mandado de prisão contra Magalhães pela mesma investigação, mas ele foge e permanece foragido.
copiado http://www.otempo.com.br/


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