Barbosa, Huck e a salvação que vem dos céus "A tragédia, assim, nos mostra que as salvações impostas por alguém 'de fora' podem trazer embutidos custos que talvez não estejamos dispostos a pagar! Melhor, então, tentarmos resolver os problemas entre nós mesmos, apesar de nossas evidentes limitações"

Presidente Luciano Huck ou presidente Joaquim Barbosa? Para pesquisador, qualquer um dos dois será candidato forte caso se lance à Presidência

Barbosa, Huck e a salvação que vem dos céus

"A tragédia, assim, nos mostra que as salvações impostas por alguém 'de fora' podem trazer embutidos custos que talvez não estejamos dispostos a pagar! Melhor, então, tentarmos resolver os problemas entre nós mesmos, apesar de nossas evidentes limitações" Estamos no desenlace da peça Orestes, de Eurípedes, e a tragédia é eminente. O personagem principal mantém a prima Hermione como refém, com a espada a roçar-lhe a garganta. Ele ameaça não só matá-la como atear fogo ao Palácio Real caso o seu tio Menelau não convença os habitantes da cidade a livrá-lo da pena de morte.
Orestes havia recebido ordens de Apolo para assassinar a própria mãe, Clitmnestra, tendo cumprido com o desejo divino, mas fora condenado pelo crime. Mais do que esperar por uma reversão da pena, o matricida busca mesmo é vingar-se do tio, que não teria feito esforços para defendê-lo durante o julgamento.
Diante dessa situação, nos resta apenas esperar por mais mortes e destruição. Mas, para os dramaturgos gregos, havia sempre a possibilidade de promover uma reviravolta na história, um recurso que ficou conhecido como deus ex machina.
A expressão latina, que significa literalmente “o Deus surgido da máquina”, alude à prática de introduzir um personagem divino no final da peça – que baixava ao palco por meio de um guindaste, daí o nome – para resolver os impasses da trama. No caso de Orestes, é o próprio Apolo que surge em pessoa para evitar o pior. Fora do ambiente teatral, a expressão deus ex machina faz referência a alguém que surge do nada, inesperadamente, para resolver um problema ou uma situação aparentemente insolúvel.
Candidatos outsiders
Vejamos o caso das eleições presidenciais: boa parte do noticiário dos últimos meses girou em torno das especulações de candidaturas de nomes alheios ao mundo político (como Joaquim Barbosa e Luciano Huck). Não foram poucos também os que lamentaram a impossibilidade de se ter candidaturas avulsas no Brasil.
No fundo, todas essas discussões revelavam o desejo pelo aparecimento de um deus ex machina que pairasse sobre os escombros do nosso sistema político-partidário e resolvesse, como que por milagre, os impasses e divisões profundas da sociedade brasileira.
Nada mais natural que esse desejo de salvação; nada também mais perigoso. Voltemos à tragédia de Orestes e vejamos como Apolo impõe sua solução: Hermione, a pobre donzela ameaçada pela espada, terá que se casar com o seu algoz. Com isso, Menelau será obrigado a receber o sobrinho chantagista e homicida como seu genro.
O deus que surge dos céus impõe uma conciliação que nos parece forçada, artificial, e que tem tudo para dar errado. A tragédia, assim, nos mostra que as salvações impostas por alguém “de fora” podem trazer embutidos custos que talvez não estejamos dispostos a pagar! Melhor, então, tentarmos resolver os problemas entre nós mesmos, apesar de nossas evidentes limitações…
Do mesmo autor:
<< A alma petista e o engano das paixões
<< Por que é tão difícil encontrar os amigos?

 copiado  http://congressoemfoco.uol.com.br/n

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