Temer prefere “declarar guerra” a caminhoneiros do que aborrecer o mercado
Leonardo Sakamoto
Ao autorizar o uso das Forças Armadas contra caminhoneiros, o governo Michel Temer mostra mais uma vez que prefere enfrentar as consequências e não as causas de um problema. Neste caso, usar o Exército sobre grevistas ao invés de encontrar uma solução para as demandas – não apenas desta categoria, mas das outras que sofrem com a atual política de preços de combustíveis da Petrobras.
Uma parte do governo justifica que o uso de militares para desobstruir vias é necessária após os caminhoneiros não terem cumprido o acordo – acordo que boa parte dos caminhoneiros não reconhece e não deu autorização para que fosse firmado em seu nome. Outra parte parece ignorar as reivindicações dos motoristas autônomos, dizendo que tudo é apenas um locaute de donos de empresas de transporte. Claro que as consequências do desabastecimento são terríveis, mas não adianta encontrar uma solução que jogue a bomba para baixo do tapete.
É o mesmo padrão de resposta social adotada diante da crise de segurança pública no Rio. Há um genocídio de jovens negros na periferia. E entre as razões da violência urbana, encontra-se uma política fracassada de guerra às drogas que transforma comunidades em territórios a serem disputados para comércio e armazenamento de entorpecentes. Morrem moradores e traficantes, muitos deles pobres e negros. Morrem policiais, mal remunerados, mal equipados e mal assistidos. Faltam políticas de empregos para jovens, escolas com recursos, hospitais de qualidade, um Estado que se importe com quem é pobre.
Qual foi a solução adotada pelo governo Temer? Entregar a área de segurança pública do Rio para o Exército até o final do ano, afirmando que o general poderia fazer ''o que for preciso'' no comando. Desde então, moradores de comunidades já foram até fotografados e fichados para poderem deixar sua própria comunidade. Direitos civis? Não, estamos em guerra.
O problema é que mexer com as causas é, em qualquer circunstância, é comprar briga com o mercado, o poder econômico, a velha política. É mexer em estruturas antigas de desigualdade. Coisa que Temer não faz, pois foram eles que o colocaram lá. É mais fácil comprar guerra contra um país.
Em tempo: Não deixa de ser irônico e triste que a muito pequena parcela entre os caminhoneiros que defendia ''intervenção militar'' tenha conseguindo o que pediu.
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