Governo Temer se mostrou incapaz de resolver a crise, diz cientista político Fábio Wanderley Reis
29/05/201818h45 O cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que o governo de Michel Temer (MDB) se mostrou incapaz de resolver com a rapidez necessária a crise criada com a paralisação dos caminhoneiros.
"Não há a menor dúvida de que o governo está numa péssima situação. É parte do problema e não da solução. Mostrou uma incapacidade evidente de lidar com a crise de uma maneira sensata e consistente", diz o autor da coletânea de artigos "Tempo Presente: Do MDB a FHC", publicada em 2009.
Wanderley Reis ainda diz que falta legitimidade ao governo Temer, o qual se ressente da falta de confiança por parte da população.
Transporte público afetado, postos de gasolina sem combustível, prateleiras vazias nos supermercados e suspensão das atividades em escolas e universidades nas principais regiões metropolitanas do país são alguns dos efeitos da greve que chegou nesta terça-feira (29) ao seu nono dia.
Para Wanderley Reis, um caso exemplar da incapacidade do governo federal é o fato de que membros da administração tenham anunciado o fim da greve, sem que realmente os caminhoneiros tenham desobstruído as estradas.
O país está nas mãos dos caminhoneiros. Está parado
Fábio Wanderley Reis, cientista político
"É surpreendente que o movimento tenha 'dado certo', com claras consequências negativas para a população. O país está nas mãos dos caminhoneiros. Está parado. Até por isso o governo tenta lidar com eles com um certo jeito, com certa brandura, por isso não há uma repressão mais forte, por exemplo, das forças policiais."
O cientista político defende que membros do Judiciário também atuem de maneira mais decisiva na solução da crise. "Nós temos um Judiciário à margem dos acontecimentos. Esse Poder deveria coibir os abusos que foram cometidos por essa paralisação."
Intervenção militar é um risco
Wanderley Reis se diz preocupado com o surgimento da pauta da "intervenção militar" no movimento dos caminhoneiros. Considera que o país vive uma situação tão caótica que há riscos para a preservação do Estado Democrático de Direito.
"É algo confuso, melancólico, desorientado, mas ao mesmo tempo extremamente perigoso porque vira uma enorme barafunda, não se enxerga muito bem como isso acaba", diz.
"Esse assunto da intervenção militar era um negócio que estava restrito a meia dúzia de malucos nas manifestações pró-impeachment. Agora, de repente, ganha uma difusão, uma penetração que, aparentemente, sensibiliza até certos setores das Forças Armadas."
Em entrevista, o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) disse que a democracia garante a todos o direito de se manifestar, seja a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou pela intervenção militar, mas os caminhoneiros em greve não podem bloquear estradas.
"Pode existir um movimento 'Volta, Lula', 'Fora, Temer', 'Intervenção Já'? Pode. A democracia protege até quem é contra a democracia. O que não pode é trancar estrada, isso é crime."
Temer chega ao final do mandato?
O cientista política considera que o governo Dilma, que sofreu processo de impeachment em 2016, tinha limitações, mas era mais consistente que a atual gestão.
"No caso do governo Temer, seria uma aposta furada que encontrará uma solução originada de suas próprias ações", afirma.
"No que se tem de caótica a nossa situação, existe, sim, algum risco de Temer não concluir o seu mandato. Envolve algum risco. Se a gente está até se preocupando com a possibilidade de um eventual intervenção militar, é muito difícil prever o que vai acontecer."
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