Análise Protesto atinge economia em momento de recuperação frustrante



Érica Fraga

SÃO PAULO
O prejuízo econômico das paralisações dos caminhoneiros nos últimos dias já começa a aparecer nos indicadores acompanhados por analistas.
O primeiro efeito palpável da paralisação surgiu nas estatísticas de consumo de energia elétrica.
Entre quinta-feira (24) e domingo (27), houve uma contração de 9% em comparação ao mesmo período da semana anterior, segundo Artur Passos, economista do Itaú Unibanco.

É comum que greves de grande proporção causem danos de curto prazo.

Segundo economistas, o script de episódios de natureza semelhante ao atual é o seguinte: durante a crise, há efeitos negativos imediatos que, no entanto, são revertidos nos meses seguintes.
A grande dúvida, que dificulta estimativas sobre o impacto desta crise, é se, quando chegar ao fim, o movimento atual será comparável a outros eventos em anos recentes.
Para especialistas, há indícios de que a situação caminhe para se tornar mais severa e, com isso, provoque prejuízos mais duradouros.
"O governo e as instituições sairão muito abalados desta crise. Isso pode aumentar o peso da indefinição eleitoral sobre a confiança, prejudicando ainda mais o consumo e o investimento", diz Armando Castelar Pinheiro, coordenador de economia aplicada do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Passos concorda que existe o risco de efeitos mais duradouros desta vez, embora ressalte que ainda não se pode ter certeza sobre isso.
"Parece que tanto a adesão quanto a duração do movimento caminham para ultrapassar as de outros episódios recentes", afirma.
De acordo com Castelar, a experiência de paralisações dos últimos anos --como outras greves de caminhoneiros e os protestos causados pelo reajuste de tarifas públicas em 2013-- indica que as vendas do varejo são as mais afetadas, enquanto o impacto sobre a indústria é menor.
Mas mesmo o estrago sobre o comércio costuma ser revertido logo no mês seguinte dos protestos.
"Muita coisa que deixa de acontecer nesses períodos de tumulto acaba acontecendo depois", diz Castelar, do Ibre.
O problema é que, além de as paralisações estarem se estendendo além do previsto, atingiram a economia brasileira em um momento de recuperação frustrante, após uma longa recessão.
Os repetidos dados de atividade mais fracos do que o esperado já tinham levado a uma onda de revisões para baixo nas projeções de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) deste e do próximo ano. E, segundo analistas, esse movimento deve continuar.
"O risco é que essa crise aumente ainda mais as dúvidas sobre a capacidade de crescimento", afirma Passos.
Embora a incerteza provocada por eventos como o atual seja relevante, é difícil mensurá-la, completa o economista.
De acordo com Castelar, se a confiança de consumidores e empresários for, de fato, muito abalada, a demanda por bens e serviços na economia diminuirá ainda mais:
"Ironicamente, se isso ocorrer, trará grande prejuízo aos próprios caminhoneiros."
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