A ofensiva atípica em cima da PF ignora o fato de os inquéritos serem sigilosos e estarem em fase inicial e se dá em meio a diversas tentativas frustradas de interromper a paralisação.
Em reunião no Palácio do Planalto, o diretor-geral da polícia, Rogério Galloro, chegou a ter de fazer uma explicação básica de como as prisões ocorrem no Brasil, segundo apurou a Folha.
A explanação se deu como resposta a diversas cobranças feitas durante uma das reuniões do fim de semana, de que as detenções seriam importantes para colocar fim na mobilização. À cúpula do governo, Galloro esclareceu que isso só pode acontecer em casos de flagrante ou com ordem judicial.
Carlos Marun (Secretaria de Governo) e Eliseu Padilha (Casa Civil) são os maiores entusiastas das prisões, de acordo com pessoas que participam das reuniões desde a semana passada.
Até o presidente Temer questionou e ouviu explicações do chefe da PF, no encontro da manhã desta segunda (28), de que as prisões não poderiam ser tratadas como uma realidade, já que não havia decisão judicial.
Procurada, a direção da PF não respondeu aos pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.
A pressão começou na sexta (25), após o governo constatar que o acordo anunciado na noite anterior com representantes da greve não teve sucesso.
Foi no fim daquele dia que Galloro enviou comunicado para todas as superintendências da PF abrirem inquéritos caso verificassem suspeitas de locaute. O ofício levava uma explicação do ponto de vista legal sobre o que é a prática, que consiste na ação de patrões que tentam impedir funcionários de trabalharem.
Em menos de 24 horas, Marun já anunciava em entrevista para a imprensa a suposta
existência de pedidos de prisões, que, segundo ele, estavam apenas dependendo de autorização judicial.
Naquele momento, contudo, não havia pedidos de prisão, segundo a Folha apurou, e muitos Estados nem sequer tinham inquéritos abertos.
Ainda segundo autoridades ouvidas pela reportagem, Galloro teve de explicar, em um dos poucos momentos que falou nas reuniões, que as investigações têm ritmos próprios e que não era possível ter controle do andamento delas, já que estavam espalhadas pelo país.
A pressão também envolveu a PRF (Polícia Rodoviária Federal), que acompanha in loco a mobilização. Como resposta, o diretor-geral do órgão, Renato Dias, concedeu entrevista nesta segunda, afirmando ser possível prisão em flagrante nas rodovias, de quem impedir caminhoneiro de voltar à atividade.
OUTRO LADO
Procurado pela reportagem, o Palácio do Planalto informou que não há pressão sobre a PF e que a investigação ocorre em ritmo normal. A apuração dos fatos enquanto eles ocorrem, segundo a assessoria, permite melhores conclusões.
Marun negou que exista uma cobrança do governo sobre as prisões. “Confiamos no trabalho da polícia. Tem que deixar cada um fazer o seu trabalho”, disse.
Por meio da assessoria de imprensa, Padilha informou que solicitou à Polícia Rodoviária Federal e à PF que investigassem a denúncia de infiltração de pessoas estranhas ao movimento dos caminhoneiros, que estariam ameaçando e constrangendo motoristas que tentavam voltar a estrada com seus caminhões.
“Portanto, o ministro Padilha pediu apenas investigação sobre um fato objetivo e não solicitou nada sobre locaute”, disse a Casa Civil, em nota.
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