“Controle pulverizado”. Quer dizer que a Vale não tem mais dono?
POR FERNANDO BRITO · 20/02/2017
A Bolsa, o mercado financeiro e os patetas do jornalismo econômico comemoram o “acordo de acionistas” que iria “pulverizar” o controle da Vale, o que garantiria o “profissionalismo” de sua gestão. Segundo o Valor, o objetivo seria “transformar a Vale numa empresa sem controle definido”.
“Me engana que eu gosto”, como diz o povão, que tem, aliás, uma definição impublicável sobre aquilo que não tem dono.
Por mais que o controle possa – e deva -ser compartilhado por todos os acionistas é obvio que a ideia é afastar ao máximo o que remanesce de controle estatal sobre a Vale.
No que, aliás, foram ajudados pelo apetites de Aécio Neves sobre a empresa.
E como não têm gás para avançar sozinho, o Bradesco e os fundos de pensão – Funcef, Petros, com a Previ (BB) no comando – precisam de liquidez já – abriram cainho para quem quiser chegar devagar, devagarinho, para ir montando sua banca. Muito provavelmente, os chineses, maiores compradores do minério da Vale.
Empresa de um produto só (ou quase), como são as de petróleo, mineração, siderurgia, eletricidade não são o mesmo que varejistas.
Precisam de definições estratégicas e devem tê-las alinhadas aos interesses dos “donos” daquilo que é a riqueza que exploram, as populações. Afinal, minérios, petróleo, rios, tudo isso não são bens públicos?
Meros acionistas eventuais estão se lixado para isso. Querem dividendos, maiores e mais rápidos, mesmo que isso implique em investir menos do que seria desejável no longo prazo.
A Vale cortou R$ 1,1 bilhão em investimentos para 2017, fixando uma meta de US$ 4,5 bilhões, que baixará para R$ 4 bilhões em 2019.
O “mercado” aplaudiu, claro, porque o que não se investe, distribui-se.
Retirar os compromissos da Vale com o seu país é uma consequência natural de uma gestão meramente “profissional”. E profissionais, movidos pela equação do lucro rápido e dissociado do desenvolvimento do país, também fazem asneiras, embora não deixem de levar os seus polpudos bônus.
Os navios comprados por Roger Agnelli na China e na Coreia estão aí para prová-lo: não apenas um “mico” bilionário como um crime contra a industrialização do Brasil.
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