Fachin deu aula a membros da Lava Jato na UFPR, e pares o têm como "incorruptível" UOL Notícias - Política
Rafael Moro Martins
Colaboração para o UOL, em Curitiba
- Fellipe Sampaio/SCO/ STF
"Aqui, o relacionamento deles era de simples colegas", contou ao UOL um docente do curso de Direito, que pediu para não ser identificado. "Nunca deram aulas no mesmo turno. Moro leciona sempre à noite; Fachin dava aulas pela manhã. Moro dá suas aulas e vai embora. Não vive a faculdade. Fachin, não. Foi coordenador do curso, tem uma geração de orientandos da pós-graduação. Ele respirava a faculdade 24 horas por dia até ir ao STF."
A comparação dá a medida do respeito que Fachin merece de seus pares na UFPR. O ministro, que atuou na instituição entre 1991 a 2016 --quando se licenciou por conta dos compromissos na corte suprema --, é visto nos corredores do prédio neoclássico da praça Santos Andrade, centro de Curitiba, como dono de um currículo dos mais robustos entre os juristas brasileiros e como o responsável, como professor e coordenador, por fazer o curso subir de nível.
"Moro chama a atenção da mídia, mas o que fez crescer a reputação do curso foi a nomeação de Fachin para o STF e, antes ainda, o fato de termos um programa de pós-graduação entre os melhores do país --algo que também devemos em muito a ele", diz o docente.
"Reúne as melhores credenciais acadêmicas"
"Fachin era o coordenador do curso quando o programa de pós-graduação em Direito se tornou referência nacional. Sempre foi um dos grandes nomes da ciência jurídica na área dele, o direito civil. Ele criou uma escola de pensamento na área que se tornou muito influente", afirma o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca. Como Fachin, Fonseca foi professor e coordenador da faculdade de Direito."É uma pessoa com enorme capacidade de trabalho, altamente comprometida com seu ofício, da maior retidão e integridade e com muito equilíbrio, prudência, bom senso e temperança, além de grande conhecimento jurídico", fala o reitor.
"Ele reúne as melhores credenciais acadêmicas. Chegou a professor titular de Direito Civil (topo da carreira acadêmica). É um de nossos maiores juristas. Estudou no exterior, tem um intercâmbio de pesquisas com o Instituto Max Plank [de Munique, Alemanha]", corrobora a professora Vera Karam, atual diretora do setor de Ciências Jurídicas da UFPR.
"Fachin é muito conhecido internacionalmente, tem relações muito estreitas com o mundo acadêmico fora do Brasil, o que não é muito comum no Direito", assevera Carlos Frederico Marés, professor de direito sócio-ambiental na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ex-presidente da Funai no governo FHC e ex-sócio do ministro em um escritório de advocacia em Curitiba.
"Fachin tem uma postura muito ponderada", avalia Marés. "É muito mais de diálogo do que o juiz Moro, que tem uma postura do direito penal mais punitivo."
"Eu o considero incorruptível"
Marés foi colega de Fachin na procuradoria-geral do Estado e em um escritório de advocacia em Curitiba --compartilhado também com a mulher do ministro, Rosana Amara Girardi Fachin, atualmente desembargadora no Tribunal de Justiça do Paraná. Ainda é amigo pessoal de ambos, embora os encontros tenham se tornado cada vez mais raros, por conta das agendas profissionais."Todo o lazer dele está ligado diretamente à família, aos netos, à esposa", diz Marés. "Não vejo no STF nenhum ministro mais independente e constrito que ele mesmo. Não sei dizer se algum dos ministros cederia aos muitos encantos de Brasília, mas sei que Fachin não cederia. O considero incorruptível."
Fachin, Rosana e Marés trabalhavam juntos nos anos 1990. "Fachin não advogava muito por ser procurador do Estado", lembra Marés. A legislação permite que procuradores que fazem parte dos quadros desde antes da Constituição de 1988 mantenham escritórios de advocacia --caso dos três.
O novo relator da Lava Jato no STF demitiu-se da procuradoria após alguns anos para dar mais atenção ao escritório, que atua na área de sua especialidade --direito civil. Rosana defendeu o hoje senador Roberto Requião (PMDB) em algumas ações. Mas Marés --também próximo de Requião, de quem foi procurador-geral do Estado--, não se recorda de Fachin ter defendido o político.
A proximidade com Requião, aliás, fez com que a nomeação de Rosana para o hoje extinto Tribunal de Alçada, em 1999, fosse considerada uma surpresa --o então governador e responsável pela nomeação, Jaime Lerner, é adversário do peemedebista. "Ela foi indicada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), e era querida pelo tribunal. Lerner acabou cedendo e a nomeando, ainda que a contragosto", relata Marés.
Deltan Dallagnol também foi aluno
A nomeação de Fachin para a relatoria da Lava Jato, de certa forma, coloca o curso de Direito da UFPR como nunca sob os holofotes da mídia. Ele graduou-se na instituição. Moro, bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), é doutor pela UFPR.Outras figuras da operação --como os procuradores Deltan Dallagnol, Laura Tessler e Roberson Pozzobon e o delegado de Polícia Federal Igor Romário de Paula -- também passaram pelo curso e foram alunos de Fachin.
Do outro lado, figuras da proa da defesa de envolvidos na operação também estão ligados à UFPR. O advogado Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, que defende executivos da empreiteira OAS e chegou a pedir a nulidade de ações por alegadas falhas nas transcrições de delações, é professor titular da instituição.
copiado https://noticias.uol.com.br/politica/u
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