“Qualquer canção de dor/Não basta a um sofredor/Nem cerze um coração rasgado/Porém ainda é melhor/
Sofrer em dó menor/Do que você sofrer calado.”
Sofrer em dó menor/Do que você sofrer calado.”
Lula é pobre e pobre “tem de sofrer calado”. Por Wilson Gomes
Do doutor em Filosofia Wilson Gomes, professor da Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia, via Facebook: Primeiro
apareceram os que acusaram Lula de pecado futuro: vai usar a morte da
esposa para se fazer...

Do doutor em Filosofia Wilson Gomes, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, via Facebook:
Sofrer em dó menor/Do que você sofrer calado.”
Qualquer canção de amor
É uma canção de amor
Não faz brotar amor e amantes
Porém, se esta canção
Nos toca o coração
O amor brota melhor e antes
Qualquer canção de dor
Não basta a um sofredor
Nem cerze um coração rasgado
Porém ainda é melhor
Sofrer em dó menor
Do que você sofrer calado.
Qualquer canção de bem
Algum mistério tem
É o grão, é o germe, é o gen da chama
E essa canção também
Corrói, como convém,
O coração de quem não ama.copiado http://www.tijolaco.com.br/
Do doutor em Filosofia Wilson Gomes, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, via Facebook:
Primeiro apareceram os que acusaram
Lula de pecado futuro: vai usar a morte da esposa para se fazer de
vítima. Acusar alguém de pecados ainda não cometidos é uma tentativa de
fechar ao acusado uma alternativa, de desqualificá-la de antemão: “vai
doer, mas chorar você não pode; tente, então, ficar quietinho”.
“Fazer-se de vítima” é uma dessas expressões curiosas da alma
brasileira, vez que quem acusa o interlocutor de se fazer de vítima
geralmente está fazendo o papel de verdugo. O carrasco está
barbarizando, mas, por favor, tenha compostura, “não se faça de vítima”.
Depois apareceram as condenações pelo
“uso político do velório”. Como pode um sindicalista e político
enterrar a própria esposa com um coração de político e sindicalista?
Tinha que ter havido discrição, silêncio. Como pode um sujeito enterrar a
sua companheira de vida, cuja morte foi, no mínimo, acelerada pelo
desgosto e por acusações que, segundo ele, são injustas, berrando,
esperneando, acusando? Não, o certo era ficar quietinho ou, se fosse
mesmo para fazer drama, que se cobrisse de cinzas, batesse no peito, em
lágrimas, e gritasse “mea culpa, mea maxima culpa!“.
Fosse apenas questão de ser sommelier
do luto alheio, até me pareceria razoável. Afinal, o Facebook é
principalmente uma comunidade de tias velhas desaprovando as saias
curtas e os comportamentos assanhados dos outros. Mas, é mais que isso.
Pode haver um aluvião público de insultos, augúrios de morte e dor, e
difamação à sua esposa, durante duas semanas, mas Lula não pode
mostrar-se ultrajado ou ofendido, não pode desabafar do jeito que pode e
sabe, não pode espernear. Em vez do “j’accuse“, o certo seria a
aceitação bovina do garrote, da dor, da perda. Em vez do sindicalista e
político, em um ambiente privado do sindicato, velando entre amigos a
mãe dos seus filhos, havia de ser um moço composto e calado. Todo mundo
tem direito de velar os seus mortos como pode e sabe, exceto Lula.
Uma parte da sociedade brasileira
nunca se cansa de mostrar a Lula o seu lugar. E de reclamar, histérica,
quando ele, impertinente, não faz o que ela quer. Tem sido assim. Lula
já foi insultado de analfabeto, nordestino, cachaceiro, ignorante e
aleijado, muito antes de ser chamado de corrupto e criminoso. A cada
doutorado honoris causa de Lula choviam ofensas e impropérios
porque ele não tinha todos os dedos, porque era uma apedeuta, porque era
um peão. Qualquer motivo para odiá-lo sempre foi bom o bastante para
uma parte da sociedade.
Agora, estamos autorizados a odiá-lo por mais uma razão: o modo como acompanhou a agonia e como velou sua companheira. Que os cultivados me perdoem a analogia, mas isso me lembra a acusação feita em O Estrangeiro, de Albert Camus, ao sujeito que não conseguiu chorar e sofrer, como aos demais parecia conveniente e apropriado, no funeral da própria mãe: “J’accuse cet homme d’avoir enterré sa mère avec un cœur de criminel”. “Eu acuso este homem de ter enterrado a sua mãe com um coração de criminoso”.
Agora, estamos autorizados a odiá-lo por mais uma razão: o modo como acompanhou a agonia e como velou sua companheira. Que os cultivados me perdoem a analogia, mas isso me lembra a acusação feita em O Estrangeiro, de Albert Camus, ao sujeito que não conseguiu chorar e sofrer, como aos demais parecia conveniente e apropriado, no funeral da própria mãe: “J’accuse cet homme d’avoir enterré sa mère avec un cœur de criminel”. “Eu acuso este homem de ter enterrado a sua mãe com um coração de criminoso”.
No surrealismo da narrativa política
brasileira, a história se repete: Lula deve ser desprezado porque
enterrou a esposa com um coração de político e sindicalista e isso não
está direito.
Voilà. Lula nunca vai aprender o seu lugar.
Não. E como disse o Chico, “Qualquer canção de dor/Não basta a um sofredor/Nem cerze um coração rasgado/Porém ainda é melhor/Sofrer em dó menor/Do que você sofrer calado.”
Qualquer canção de amor
É uma canção de amor
Não faz brotar amor e amantes
Porém, se esta canção
Nos toca o coração
O amor brota melhor e antes
Qualquer canção de dor
Não basta a um sofredor
Nem cerze um coração rasgado
Porém ainda é melhor
Sofrer em dó menor
Do que você sofrer calado.
Qualquer canção de bem
Algum mistério tem
É o grão, é o germe, é o gen da chama
E essa canção também
Corrói, como convém,
O coração de quem não ama.copiado http://www.tijolaco.com.br/
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