Aécio recebia mesada de R$ 50 mil paga pela JBS por meio de rádio, diz Joesley
O delator e ex-executivo da JBS Joesley Batista afirmou, em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), que pagou mesada de R$ 50 mil ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), durante dois anos, por meio da rádio da qual o tucano era sócio. A declaração faz parte de um dos anexos da complementação da delação ao qual o jornal Folha de S. Paulo teve acesso. A defesa do senador afirma que Joesley tenta “forjar mais uma falsa acusação”.
Segundo Joesley, os pagamentos foram um pedido de Aécio para “custeio mensal de suas despesas” e foram pagos por meio da Rádio Arco Íris, afiliada da Jovem Pan em Belo Horizonte, da qual Aécio era sócio. Atualmente, a rádio pertence a irmã do senador, Andrea Neves.
Foram 16 notas fiscais emitidas pela rádio entre 2015 e 2017, atribuídas a “prestação de serviço de publicidade”. Somadas, as notas fiscais acumulam R$ 864 mil. Joesley afirmou não saber se realmente foram prestados serviços de publicidade, mas que pagou a mesada para manter um bom relacionamento com o tucano.
Segundo a reportagem assinada por Reynaldo Turollo Jr. e Camila Matoso, apesar de as notas fiscais registrarem o valor de R$ 54 mil, o empresário cita R$ 50 mil, sem esclarecer a diferença. O primeiro pagamento registrado data de julho de 2015 e vão até junho de 2017, quando a delação da JBS já era conhecida e Andrea e o primo de Aécio, Frederico Pacheco, já haviam sido presos na Operação Patmos.
O advogado de Aécio, Alberto Toron, confirmou, em nota, as transações financeiras entre a rádio e a JBS, mas que o tucano jamais fez pedido de mesada ao empresário. Toron alega ainda a relação entre JBS e Rádio Arco Íris era legal e comprovada pelo contrato, que foi mantido normalmente até o fim, após a delação da JBS.
Leia a íntegra da nota da defesa de Aécio Neves:
A Defesa do senador Aécio Neves considera que se trata de mais uma demonstração da má-fé e do desespero do delator Joesley Batista na tentativa de manutenção do seu extraordinário acordo de delação, atualmente sob risco de ser anulado. O senador jamais fez qualquer pedido nesse sentido ao delator, da mesma forma que, em toda a sua vida pública não consta nenhum ato em favor do grupo empresarial.
O sr. Joesley Batista se utiliza de uma relação comercial lícita mantida entre empresas de seu grupo e um veículo de forte inserção no mercado mineiro para forjar mais uma falsa acusação. Ao dar início à negociação de acordo de delação, delatores se comprometem a suspender qualquer prática irregular. Prova de que o contrato com a emissora foi uma relação comercial legal e desprovida de qualquer conotação pessoal é que o contrato foi mantido normalmente, até a data do seu encerramento.
A afirmação do delator de que não sabia se os serviços teriam sido prestados, demonstra o alcance da sua má-fé, já que bastaria uma consulta ao setor de comunicação das suas empresas para constatar que os serviços foram correta e efetivamente prestados.
A falta de credibilidade e as sucessivas mentiras e omissões praticadas pelo delator levaram a PGR a pedir a rescisão dos benefícios de sua delação e contribuem para desqualificar mais uma mentira desse cidadão, réu confesso de mais de duas centenas de crimes e pelos quais o Brasil espera que ele venha a responder.
Alberto Zacharias Toron
Advogado
*Texto atualizado às 12h54 para acréscimo da íntegra da nota da defesa de Aécio
Serraglio afirma que Aécio pressionou para nomear delegado da PF, diz jornal
O ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PP-PR) confirmou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que o senador Aécio Neves (PSDB), que se tornou réu essa semana, tentou alterar o curso das investigações na Operação Lava Jato. De acordo com Serraglio, Aécio teria pressionado para que ele, quando chefiava a pasta, nomeasse um delegado da Polícia Federal “de sua preferência para investigar suas ações delituosas”. As informações foram publicadas pelo jornal O Globo, na manhã desta sexta-feira (20).
Na última terça-feira (17), após decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Aécio se tornou réu por corrupção passiva e obstrução de Justiça. A denúncia apresentada contra o senador tucano, pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot, atribui a substituição de Serraglio às pressões do senador e de outros parlamentares.
Aécio foi gravado admitindo ter pressionado o presidente Michel Temer (MDB) a trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Também no diálogo, o político indica que Alexandre de Moraes, recém empossado no Supremo Tribunal Federal (STF), tinha conhecimento das pressões do governo contra a Lava Jato. Além disso, o senador desqualifica a nomeação de Serraglio e se refere ao então ministro com palavrões.
Entre suas declarações, Serraglio afirmou ainda que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fez pressões semelhantes, conforme publicado pela jornalista Amanda Almeida. Ao jornal, Renan afirmou que a declaração de Osmar Serraglio sobre ele é uma “vingança” e disse ter denunciado que sua nomeação foi feita pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ)). Já a assessoria de Aécio não se manifestou.
Em trecho da gravação, tornada pública no ano passado, Aécio diz ter pressionado Temer. “Foi uma cagada generalizada, mas eu tô, tô querendo apertar de novo amanhã, amanhã, o Michel nessa história. Acho que o Brasil tem que fazer uma operação, tem que fazer uma ‘mea culpa’ pra dar pelo menos mais um instrumento pros negociadores novos, pros embaixadores, pros diplomatas novos. O cara da Polícia Federal chegar e cair, né. Dizer o seguinte: ‘foi um erro de avaliação e tal, eram questões pontuais que não afeta, né, um ‘mea culpa’ do Brasil que o Michel não teve culhão de cobrar do cara pra fazer. [Eu] tava cobrando isso hoje lá, falar com ele pra fazer…” [sic], disse Aécio.
A declaração do senador foi dada a Joesley Batista, dono da JBS, em encontro com o parlamentar no dia 24 de março do ano passado, no hotel Unique, em São Paulo, e foi anexada ao acordo de delação premiada do grupo, nos autos da acusação contra Aécio no Supremo.
Serraglio foi exonerado dias após a divulgação dos áudios e das delações premiadas de executivos do grupo JBS que comprometeram o presidente. Temer o afastou do cargo sem justificar o motivo. Nos bastidores, a informação é de que dois motivos foram determinantes para a saída dele do governo: a falta de controle do então ministro sobre a Polícia Federal e a necessidade do presidente de reforçar a pasta com um jurista com bom trânsito no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde a chapa Dilma/Temer estava sob julgamento.
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