Golpe é coisa para profissionais O que falta falar e lembrar neste momento em que a esquerda brasileira anda fugindo de assombração é que golpes (armados ou desarmados) não são manobras para principiantes. A doutora Dilma que o diga.

Foto Orlando Brito

Golpe é coisa para profissionais

Golpe de estado é coisa séria. Não se derruba um governo (constitucional, autoritário ou totalitário) e toda a institucionalidade de um estado organizado só no grito. É preciso muito mais, que o digam os generais soviéticos que tentaram impedir a redemocratização daquele país em 1991. Levar na força bruta foi um fracasso. Como consequência da barbeiragem, a União Soviética pulverizou-se e Boris Yeltsin virou presidente constitucional da flamante República da Rússia.
Na época, jocosamente, dizia-se que os generais do Kremlin deveriam fazer cursos de golpismo na América do Sul, pródiga em levantes militares bem-sucedidos.
O que falta falar e lembrar neste momento em que a esquerda brasileira anda fugindo de assombração é que golpes (armados ou desarmados) não são manobras para principiantes. A doutora Dilma que o diga.
Um golpe verdadeiro, com todos seus ingredientes, tais como tropas nas ruas, presidente fugindo do país, adversários na cadeia, submissão do que sobrar de instituições (em 1964 o Congresso sobreviveu para espanto dos observadores e analistas estrangeiros) precisa de muito mais do que o mau humor de um general da ativa.
Golpes menos drásticos demandam, também, de todos seus ingredientes básicos: conspiração prévia, mobilização das forças antagônicas ao poder constituído, articulação com a sociedade (economia e forças políticas) e inserção internacional. Dar um golpe isolado que atraia a condenação da comunidade internacional de negócios, que nem uma Coreia do Norte, é o desastre. Outros exemplos, nesse modelo tosco, seria lembrar algumas experiências desastradas na América Central, que deram em nada, com os candidatos a ditadores deixando seus palácios com o rabo entre as pernas. Esses golpes só deram certo quando havia a Guerra Fria. Sem um forte apoio das grandes potências, o fracasso é o horizonte.
Por isto não se deve esperar dos generais brasileiros um “levantamiento”. Esses arroubos que se vê e se ouve aqui e acolá não têm densidade para sustentar uma derrubada pela força de um governo. É nesse contexto que se deve analisar os “pronunciamientos” desses generais da reserva ou da ativa. É coisa de militar, um estamento integrado por gente formada para a briga, não para a política. Então quando abrem a boca tudo parece assustador.
Por natureza os militares são afoitos e destemidos, duas qualidades que são defeitos irreparáveis na política. Sempre que os fardados tomam as rédeas, há por trás forças e interesses que os manipulam. Geralmente interesses inconfessáveis, pois se fossem transparentes não precisariam dar golpes armados. Iriam disputar os governos nas urnas, como se faz no mundo civilizado.
A nota oficial do general Villas Boas é importante porque ela estabelece os limites: as Forças Armadas vão sustentar as leis. Se os juízes quiserem soltar o ex-presidente Lula podem fazê-lo, mas dentro dos limites da Lei e com o aval da Constituição e de seus tribunais.
Quanto aos milicos que estão rosnando, serão contidos pela disciplina. É o que se deve ler na nota que o comandante emitiu ontem dando garantias de assegurar a vigências das leis. Entre estas leis está a de ficaram os militares quietos dentro de seus quartéis, afiando as armas e cuidando dos grandes interesses na Nação, sem se envolver em política partidária, contra ou a favor desta ou daquela candidatura ou tendência ideológica na sociedade. Fora isto é cana ou reforma. É o regulamento disciplinar.
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