O golpe é civil, não é militar. E não é ameaça, já é um fato
Não é só o placar da votação do STF que vai registrar uma divisão e maioria apertada.
Tudo, no Brasil, está assim, hoje.
A manifestação de Rodrigo Jantot, hoje, na Folha, dizendo que as declarações de Eduardo Villas Boas fazem lembrar 1964 é uma piada trágica.
Por mais imprópria que seja, o “pitaco” do General não é nada, em matéria de subversão da ordem, perto do que fez para isso o Ministério Público, quando tolerou – e, pior, estimulou – o comportamento histérico de seus integrantes, escancaradamente assumindo o papel de “salvadores da pátria” e moralizadores do Brasil.
Não há nada mais parecido com 64 que o que fez a instituição comandada por ele, surfando uma imprensa que, já de anos, assumiu o golpismo como chave única para retomar o poder que não lhe vinha mais das urnas.
O golpe, no Brasil, é civil e não militar e não é uma ameaça, mas uma realidade.
Os poderes da República, submetidos a ele, dissolveram-se,
O Legislativo, quando Eduardo Cunha o tornou, sob aplauso geral, gazua e alavanca para fazer tombar o governo eleito legitimamente.
O Executivo, quando se permitiu, para isso, que um medíocre da pior espécie o empalmasse, para conduzir um processo que só não é fracassado naquilo que tem de pior, a entrega do país.
E, afinal, o Judiciário, onde vaidade, o indecoro e a pequenez de alma e caráter de vários de seus integrantes não vacilaram em produzir espetáculos deprimentes, desmoralizantes.
À sombra deste desgoverno, como esperar que não vicejasse o extremismo, o ódio e a transformação do “combate à corrupção” como justificativa da demolição da democracia, afinal o regime de direitos e garantias que nos protege dele?
Não se empurre aos militares a culpa por termos chegado a este estado, por mais condenável que seja qualquer tentativa ou mesmo a simples pretensão de “intervenção”da força armada sobre o regime civil, ainda que este tenha se tornado o que sabemos.
Mesmo neste episódio infeliz, estão servido apenas como ferramenta dos grupos que, estes sim, querem impor a ferro e fogo ao Supremo uma decisão que os livre do fantasma eleitoral de Lula.
Afinal, se o MP se sente no direito de, fora dos autos, pressionar os ministros com alegações falsas de que conceder a Lula o que é direito constitucional, afirmando que isso será “o fim da lava Jato” e que soltaria estupradores e traficantes e isso se repete com ex-ministros, comentaristas da mídia e por toda a parte, porque os militares iam ficar fora da “onda”?
O Supremo terá um desgaste imenso com a parte do Brasil que se expressa – o Brasil profundo segue quieto – qualquer que seja a sua decisão.
Mas só uma reafirmará sua autoridade: fazer cumprir, mesmo que com todo este temporal de pressões, chantagens e, agora, ameaças, a Constituição brasileira.
O contrário, por mais que corresponda ao ódio de alguns ministros, será confirmar-se que o STF é medroso e se acovarda diante dos gritos da selvageria.
O Supremo teve muitas chances de barrar o golpe e não o fez, por covardia. Se optar, mais uma vez, por entregar carne aos lobos talvez já não tenha outra oportunidade, além da de hoje, para evitar ser devorado também.
Villas Boas faz movimento para conter seus radicais? Se faz, erra
A triste manifestação do General Eduardo Villas Boas pressionando o STF, infelizmente, mostra um comandante acuado, tentando fazer um gesto que se trata, evidentemente, de uma tentativa de se por à frente de uma pressão crescente da alta oficialidade cada vez mais próxima do golpismo.
Trata-se, óbvio, de um ponto incongruente com a trajetória do Comandante do Exército, e não vem ao acaso.
O golpismo civil, político, judiciário e midiáticonão pode pretender que sua semeadura autoritária não brote também no terreno militar.
Não adianta Merval Pereira verberar contra isso na Globonews, assustado.
O golpismo militar é sempre uma condição latente nas Forças Armadas, mas só germina com o golpismo civil a adubá-lo.
O mais incrível é que altos oficiais das FFAA se deixem levar para o caudal de um ex-oficial inferior, indisciplinado, capaz de atentar contra algo que é sagrado das estruturas militares, a disciplina e a hierarquia.
Deveriam aprender com o Judiciário: ao deixar Sergio Moro assumir a liderança política, concordando com seus abusos, o STF perdeu sua autoridade e retomá-la, mesmo ainda como possibilidade, provoca seu desgaste e desmoralização.
O comando do Exército, se está fazendo um movimento preventivo para conter seus “radicais”, está se metendo numa sinuca. Se admite que se uma Força Armada chantageie uma autoridade civil, não se tem mais argumentos para que um militar possa atacar a ordem civil.
Ou as de seus próprios superiores.
copiado http://www.tijolaco.com.br/
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