"Filosofia é a ferramenta que sempre permite nos questionarmos"; leia trecho Na introdução de "A Aventura do Pensamento", o espanhol Fernando Savater resume quais seriam, para ele, as funções primordiais da filosofia. Segundo o autor, ela deve se originar de conflitos pessoais. "Ou seja, todos nós algum dia passamos por alguma situação que nos torna filósofos: a morte de uma pessoa querida, um fracasso profissional, uma frustração política", explica. O livro, lançado pela L&PM Editores, é um passeio pela história da filosofia protagonizado pelos grandes personagens que marcaram o pensamento ocidental, como Platão, Aristóteles, Hobbes, Tomás de Aquino, Nietzsche, Marx, Wittgenstein e Michel Foucault, entre outros. Cabe a Savater explicar as ideias mais importantes e resumir as trajetórias desses grandes pensadores.

Filósofo espanhol narra a história da Filosofia e a trajetória e as ideias de grandes pensadores05/05/2018 - 15h02

"Filosofia é a ferramenta que sempre permite nos questionarmos"; leia trecho

da Livraria da Folha
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Filósofo espanhol narra a história da Filosofia e a trajetória e as ideias de grandes pensadores
Filósofo espanhol narra a história da Filosofia e a trajetória e as ideias de grandes pensadores








Na introdução de "A Aventura do Pensamento", o espanhol Fernando Savater resume quais seriam, para ele, as funções primordiais da filosofia. Segundo o autor, ela deve se originar de conflitos pessoais. "Ou seja, todos nós algum dia passamos por alguma situação que nos torna filósofos: a morte de uma pessoa querida, um fracasso profissional, uma frustração política", explica.
livro, lançado pela L&PM Editores, é um passeio pela história da filosofia protagonizado pelos grandes personagens que marcaram o pensamento ocidental, como Platão, Aristóteles, Hobbes, Tomás de Aquino, Nietzsche, Marx, Wittgenstein e Michel Foucault, entre outros. Cabe a Savater explicar as ideias mais importantes e resumir as trajetórias desses grandes pensadores.
Fernando Savater nasceu em San Sebastián, na Espanha, em 1947. Estudou filosofia na Universidade Complutense de Madri e começou a carreira lecionando na Universidade Autônoma de Madri, de onde foi afastado em 1971 pelo regime franquista. É catedrático de ética na Universidade do País Basco e professor de filosofia na Universidade Complutense de Madri. Participa de vários movimentos ativistas pela paz e pela ética, como a iniciativa cidadã e antiterrorista "Já Basta".
Abaixo, leia um trecho da introdução de "A Aventura do Pensamento" :
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O filósofo ao longo do tempo
Hoje em dia, vivemos num mundo em que o filósofo é visto como um personagem diferente daquele da época clássica. Quando a reflexão começou a ser valorizada, um indivíduo, para ser filósofo, não precisava fazer nada de especial. Ou seja: na época de Sêneca, por exemplo, ou em Roma, ou na Idade Média, os filósofos eram pessoas que viviam de um modo determinado.
Não tinham necessidade de desenvolver nenhuma atividade específica, nem de dar aulas, nem de escrever; no entanto, eram considerados filósofos porque viviam de maneira estoica ou epicurista, quer dizer, norteavam sua existência de acordo com um plano estabelecido.
A filosofia era uma forma de vida que envolvia reflexão permanente. Como consta na Apologia de Sócrates: "Uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida". E a filosofia era uma resposta a essa questão. Isso era ser filósofo. Logo o filósofo se transformou em professor, depois numa pessoa que ensinava a filosofar e também explicava as verdades do mundo. Hoje em dia é um professor que prepara outros professores.
Os papas do pensamento
Talvez Bertrand Russell e Jean-Paul Sartre sejam os últimos representantes da ideia de que antes sempre havia um papa católico e um papa filosófico. Russell e Sartre, enquanto vivos, eram considerados os papas do pensamento. Essa relação é semelhante à que as pessoas têm hoje com o papa Francisco. Há pessoas que gostam dele, outras não, mas todas concordam que esse é o papa.
Acredito que, depois da morte de Sartre, não houve mais papas na filosofia. Embora vejamos personagens extremamente respeitados como Umberto Eco, eles já não têm esse papel pontifical como em outros tempos.
Além do mais, um fator revolucionário contribuiu para isso: o avanço dos meios de comunicação de massa, que reforçam um dos aspectos da filosofia, que implica sempre a relação com os outros.
Pensar e duvidar
A diferença fundamental entre um sábio oriental e um filósofo é que o sábio resolve tudo por conta própria: vai para a montanha, medita e sofre mudanças íntimas na solidão, considerando o discípulo muitas vezes como um estorvo. O filósofo não: não sai vendendo conhecimento, mas joga com ele, questionando de alguma forma as certezas dos outros e criando uma inquietação quanto ao que os outros querem saber. Eu sempre acreditei que filosofamos não para resolver dúvidas, mas para adquiri-las.
A filosofia não tenta analisar tudo de maneira aforística - ou seja, isolada -, mas sim encontrar uma relação. Procura ter uma visão total de conjunto, criando um espaço para guardar as coisas que vão surgindo; ou seja, o problema hoje não é que não saibamos as coisas, mas sim que recebemos uma quantidade imensa de informações, principalmente pela internet. Porém, essa massa de informações pode ser verdadeira ou falsa, irrelevante ou importantíssima, ter fundamento ou não. O problema não é receber informações, ao contrário: a quantidade delas é tão grande que não conseguimos lidar com tudo. O importante é saber aplicá-las em algo, para não ficar sufocados. Assim, a filosofia pretende criar um espaço que abrigue as coisas relevantes e sirva de muralha contra o irrelevante, o trivial, o enganoso. É preciso ter critério, saber separar o joio do trigo, permanecendo apenas com o que é valioso.
A função da filosofia
Para que a filosofia não seja considerada uma matéria esnobe ou pedante, deve se originar dos conflitos pessoais. Ou seja, todos nós algum dia passamos por alguma situação que nos torna filósofos: a morte de uma pessoa querida, um fracasso profissional, uma frustração política.
Quando está tudo bem, simplesmente não pensamos, porque não faz falta: as coisas vão caminhando e não refletimos sobre elas. Só pensamos quando, de repente, algo não funciona, algo nos desperta. Um pesadelo, por exemplo, nos ajuda a refletir. Recorremos à filosofia se estamos abalados por uma desilusão, uma derrota, um pavor.
A filosofia é a ferramenta que sempre permite nos questionarmos. Espero que nas próximas páginas vocês encontrem questões e temas interessantes que possibilitem a alguns continuar e a outros começar a questionar-se em vez de se conformar com o que já existe. Essa seria a melhor recompensa para este trabalho.
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A AVENTURA DO PENSAMENTO
AUTOR Fernando Savater
EDITORA L&PM Editores
QUANTO R$ 41,90 (preço promocional*)
Atenção: Preço válido por tempo limitado ou enquanto durarem os estoques.
COPIADO http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/

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