"Culpado é quem foi provocar", diz mãe de Cristiana sobre morte de Daniel
O primeiro depoimento de hoje (3) na audiência de instrução do caso Danielprocura reforçar a linha de defesa adotada pelos advogados da família Brittes ao responsabilizar o jogador pela própria morte e por ter "acabado com a família dela". A fala é da mãe de Cristiana Brittes, Gessi Rodrigues, que falou à Justiça no fórum de São José dos Pinhais-PR.
Daniel foi morto, degolado e emasculado após uma sessão de espancamento na casa de Edison Brittes Júnior, que teria flagrado o atleta deitado na cama ao lado de sua mulher, Cristiana Brittes, em um "after party" na residência da família depois da celebração do aniversário de Allana Brittes, filha do casal.
Gessi Rodrigues foi perguntada pelo advogado de Edison Brittes Júnior, Cláudio Dalledone Júnior, sobre "quem causou a morte". "Ele mesmo. Sinto muito pela família dele, mas ele é o culpado. Essa brincadeira acabou com a minha família", respondeu a mãe de Cristiana, também acusada de homicídio.
A "brincadeira" citada por Gessi seria a ação de Daniel antes do crime. O jogador foi até o quarto do casal Brittes, deitou-se ao lado de Cristiana, que dormia, e tirou foto. Ele também mandou um áudio a amigos afirmando que havia "comido" a mulher de Edison Brittes Júnior.
Edison Brittes Júnior entrou no quarto e viu Daniel deitado ao lado da mulher. Nesse momento, teria afirmado aos outros convidados que o atleta estuprava Cristiana. O meia foi espancado e depois levado em um Veloster preto por Edison, David Vollero, Ygor King e Eduardo Henrique da Silva até o local em que foi morto.
"Eu entendo que ela [Cristiana] é uma vítima. Culpado é quem foi provocar, se deitar na cama com ela. Tinha banheiro lá fora. Não tinha que ter ido lá dentro do quarto", continuou Gessi Rodrigues. "O que aconteceu foi uma fatalidade, aconteceu porque foi provocado, ninguém foi atrás", afirmou.
Esta foi a mesma linha adotada pelo pai de Cristiana, Pedro Rodrigues, em seu depoimento ontem. "Se fosse meu filho, tinha passado outro tipo de educação: 'meu filho, nunca vá na cama de uma mulher casada, pois você pode ter problemas'. Do meu modo de ver, minha filha foi vítima do Daniel", disse ele, após pedir perdão à família do jogador.
Desde os primeiros dias após a morte de Daniel, a defesa da família Brittes afirma que Cristiana Brittes foi importunada sexualmente por Daniel. Em vídeo gravado após confessar o assassinato, Edison Brittes Júnior afirmou ter perdido a cabeça, porque foi defender a mulher. A tese de estupro foi descartada pela polícia no inquérito e também pelo promotor que fez a denúncia, João Milton Salles.
Cristiana é acusada de homicídio, porque teria dito para os homens que agrediam Daniel "parar de fazer sujeita" em sua casa. Ela também responde por fraude processual e coação de testemunha.
Estilo de vida dos Brittes
A fala de Gessi também cita o perfil da família antes do crime e exalta, principalmente, a relação com sua neta Allana Brittes e o estilo de vida "humilde" levado pelos três Brittes presos. "Edison sempre trabalhou. Minha filha também. A casinha deles é obra do suor do trabalho deles", falou.
"Ela não é só uma neta, é uma filha. Queria sempre trabalhar. Comentou sempre pra estudar direito e ser uma delegada", afirmou Gessi Rodrigues emocionada. Cristiana, Edison e Allana choraram com as falas.
O assistente de acusação e advogado da família de Daniel Nilton Ribeiro questionou Gessi sobre conversas da neta e do genro com a mãe de Daniel, Eliana Correa, após o crime. Eliana procurava o filho e conversou com os Brittes na tentativa de ter pistas sobre seu paradeiro. Allana e Edison falaram a todo momento que ajudariam a mãe do atleta. "Só sei que ele desrespeitou a casa da minha filha e começou a provocar tudo isso", respondeu Gessi.
Os depoimentos que acontecem nesta semana são de testemunhas de defesa dos sete réus. Em fevereiro, falaram as testemunhas de acusação. Após todos os depoimentos, será a vez dos réus darem suas versões à juíza Lucieni Regina Martins de Paula.
Sete pessoas são acusadas em diferentes níveis pela morte de Daniel. Edison Brittes Júnior, réu confesso; David Vollero, Eduardo Henrique da Silva, Ygor King, Cristiana Brittes, Allana Brittes, todos presos. Evellyn Perusso responde em liberdade por falso testemunho.
27 de outubro
O jogador emprestado ao São Bento, de Sorocaba, Daniel Corrêa foi à festa de aniversário de 18 anos de Allana Brittes, na boate Shed, em Curitiba. A comemoração, segundo a Polícia Civil, custou mais de 30.000 reais. Após a festa, Daniel foi convidado para a casa da família Brittes, onde a festa continuou. Ele enviou fotos e áudios a um amigo, onde deu a entender que teve relações sexuais com Cristiana Brittes, mãe de Allana e marido de Edison.
28 de outubro
O corpo de Daniel foi encontrado em um campo aberto de São José dos Pinhais, próximo à Curitiba, com o pescoço degolado e o pênis decepado.
29 de outubro
O superintendente da Polícia Civil de Curitiba, Edimilson Pereira, disse que o crime foi praticado por raiva e afirmou que as investigações estavamavançadas. No mesmo dia, Edison Brittes, pai de Allana, almoçou com outros três homens, sua esposa e filha em um shopping, próximo de Curitiba. De acordo com a Polícia, todos estiveram na cena do crime e combinaram uma história para contar aos policiais, de que o jogador havia deixado a festa sozinho, ainda na noite do dia 27. No primeiro depoimento dos familiares, todos disseram que Daniel havia deixando a festa pela porta.
31 de outubro
Corpo de Daniel foi velado em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. No mesmo dia, uma testemunha disse que o jogador foi espancado antes de morrer.
1 de novembro
Edison Brittes se entregou à Polícia e admitiu ter matado Daniel. Ele afirmou que encontrou o jogador em seu quarto tentando estuprar sua esposa. Cristiana e Allana também foram detidas para averiguações. De acordo com o delegado, Daniel foi encontrado às 7h do dia 28 na cama da esposa de Edison e foi espancado. Nesse dia, o delegado Amadeu Trevisan, da Delegacia de São José dos Pinhais, não descartou ligação de Edison Brittes com o crime organizado e sabia que o homem não havia agido sozinho.
2 de novembro
Conversas de Whatsapp revelaram que Allana Brittes conversou com a mãe do jogador Daniel após o crime, revelando não saber seu paradeiro, e mostrando-se triste após a revelação de que ele foi encontrado morto.
5 de novembro
Cristiana e Allana Brittes prestaram depoimento para a Polícia.
6 de novembro
O delegado do caso, Amadeu Trevisan, afirmou que o depoimento da família Brittes era mentiroso e disse haver mais suspeitos do crime. “Foram quatro pessoas que dominaram a vítima, ela estava completamente indefesa e embriagada (com 13,4 decigramas de álcool por litro no sangue, segundo a perícia). Pode ser considerado homicídio qualificado. Eles também inventaram uma história e depois mudaram a versão. Houve coação de testemunhas em um shopping. Tentaram fraudar o processo investigativo com coação de testemunhas”. No mesmo dia, os amigos de Allana, David Villeroy e Ygor King, ambos de 18 anos, além de Eduardo Henrique Ribeiro da Silva, de 19, namorado da prima de Cristiana, estavam sob custódia da polícia e prestariam depoimento.
7 de novembro
Edison Brittes fez seu depoimento e o celular de Cristiana Brittes foi entregue à Polícia.
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